Uma definição apropriada para o meu momento é a de que eu não sou mais ligada nas firulas inúteis. Sou direta sem pretensão de ser um espelho que reflete a realidade feminina das mulheres da minha geração, que atravessou preconceitos, discriminação e até a excomunhão religiosa e familiar. A mulher linda na sua estética era chamada de tarada. A inteligente era “a tediosa”. As independentes, “loucas”. As boas de coração eram as “idiotas”. Se conseguissem ganhar muito dinheiro, ah, “alguém está bancando”, e àquela que fazia sucesso “péssima mãe”. Hoje, pelo contrário, estou agarrando a realidade que aí está com espelho e tudo, e saio por aí atirando na cabeça de quem encontrar no meu caminho. Há um bom tempo atrás, éramos somente as meninas, ou melhor, “os símbolos da mulher do futuro”. O futuro chegou e é mole de identificar. Conheci vários homens verdes e robóticos que assustariam qualquer marciano. Aprendi a lidar com a máquina de lavar, com o aparelho de Cd-Player, com a direção do carro, com as operações bancárias, com o controle remoto, com o computador e a Internet que faz Logoff. Tratei namorado como se fosse pai, e marido como filho, senti ciúmes residuais, dei conselho sobre coisas que jamais consegui resolver, senti culpa. Passei a gostar do cheiro de água sanitária. Percebi que o meu salário sempre se desintegra como uma partícula atômica, meus pensamentos e desejos mudam na velocidade da luz, enquanto os sonhos se desmaterializam. Tudo muito saudável! Mas, e o que eu fiz de melhor? Minhas três filhas, Andréa, Adriana e Ana que mais adiante, com seus filhos, netos e herdeiros deste tempo, saberão o que nós andamos fazendo com os instrumentos que tivemos nas mãos e que direção e sentido nossas mentes deram aos pensamentos que nos moveram. A conquista feminina rumo ao poder na administração política e administrativa do país ainda não foi alcançada totalmente, mas com certeza não será criada uma Secretaria da Lipoaspiração quando esse momento chegar. Numa visão otimista, antes que o machismo seja rebocado, as mulheres poderão assumir o poder dos gabinetes dos 3 poderes. Em casa, em família, os homens pegarão na vassoura para varrer o chão, recolherão as cinzas, limparão os cinzeiros, abaixarão a tampa do vaso, juntarão suas meias e cuecas e apagarão as luzes para economizar energia elétrica. Esta evolução já começou para provar que Caim não matou Abel. E que estão aí, Sarney, Collor, FHC, e outras siglas que vão nos deixar mentir à vontade. Dia Internacional da Mulher, simples formalidade. Todo poder às mulheres!
Dorothy Coutinho 08.março.2009
Texto enviado pela Médica Veterinária Márcia Bacco