sexta-feira, 15 de maio de 2009

COLUNA

Encontrei um amigo na rua outro dia que me parabenizou pela coragem de escrever minhas verdades aqui no Noticiarama, sem medo de represálias ou qualquer coisa que interfira na minha maneira de pensar. Esse mesmo amigo após o cumprimento me indagou sobre o “tal Provincianismo que tanto falo vez ou outra”... “Afinal o que vem a ser esse troço?”

Sem saber definir em poucas palavras com a clareza que o assunto pede, indiquei a ele a leitura do artigo escrito por Fernando Pessoa em longínquo ano de 1928, para que tentasse entender o porque acho que esse assunto retrata tão bem certa forma de pensar e agir do caxambuense ou parte ainda marcante dos moradores daqui.

Pois aí estão alguns trechos de Pessoa (entre aspas) com algumas “comparações” minhas a fatos atuais somente para ilustração:

“O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela - em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz.”

Vivemos ou não inconscientes por anos diante das vontades de alguns de nossos últimos governantes?? Deixando com que nos trouxessem até os dias de hoje com tantos problemas, e ainda assim, “agradecidos” aos serviços prestados por eles????

“O síndroma provinciano compreende, pelo menos, três sintomas flagrantes: o entusiasmo e admiração pêlos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia. Se há característico que imediatamente distinga o provinciano, é a admiração pêlos grandes meios. Um parisiense não admira Paris; gosta de Paris. Como há de admirar aquilo que é parte dele? Ninguém se admira a si mesmo, salvo um paranóico com o delírio das grandezas.”

Alguém discorda que “paranóicos” estiveram por aqui ditando suas regras e seus interesses em detrimento de nosso desenvolvimento e progresso??? Alguém discorda que obras realizadas por aqui ficaram e ainda ficam sob a admiração eterna nos fazendo esquecer de tantas outras necessárias???

“Os civilizados criam o progresso, criam a moda, criam a modernidade; por isso lhes não atribuem importância de maior. Ninguém atribui importância ao que produz. Quem não produz é que admira a produção. Diga-se incidentalmente: é esta uma das explicações do socialismo. Se alguma tendência têm os criadores de civilização, é a de não repararem bem na importância do que criam.”

Realizações por aqui sempre são exaltadas como marcas de administradores e administrações... Como se necessitássemos sermos lembrados de quem fez isso ou aquilo, para termos estes ou aqueles como os primeiros das listas de novas administrações, que geralmente se demonstram as mesmas, não diferentes. E o que deixaram de criar??? Não deveria ser lembrado também?? Quem nunca “invejou” conquistas de cidades vizinhas, sonhando inerte que aquela produção estivesse também por aqui???

“Para o provincianismo há só uma terapêutica: é o saber que ele existe. O provincianismo vive da inconsciência; de nos supormos civilizados quando o não somos, de nos supormos civilizados precisamente pelas qualidades por que o não somos. O princípio da cura está na consciência da doença, o da verdade no conhecimento do erro. Quando um doido sabe que está doido, já não está doido. Estamos perto de acordar, disse Novalis, quando sonhamos que sonhamos.”

Somos ou não somos tendenciosamente PROVINCIANOS??????

Deixar de sermos inconscientes, reconhecer o tempo perdido em não buscarmos a verdadeira civilidade, querer descobrir a cura reconhecendo nossos erros do passado é a única forma de combatermos e nos livrarmos da “Província de Caxambu” e conquistarmos definitivamente uma “Civilizada e Progressista Caxambu”.

“O Provincianismo Português” foi editado originalmente com a seguinte referência:
PESSOA, Fernando, “O Provincianismo Português” in Notícias Ilustrado, n.º 9, série
II, Lisboa, 12 de Agosto de 1928.

Texto completo em:
http://www.citador.pt/pensar.php?op=10&refid=200806110830