sábado, 1 de agosto de 2009

COLUNA


Maria é indígena. Aprende aos onze o Português. Aos treze o Guarani já não sabe. Aos quinze vai para a cidade, conhece Ilusão e Glória.(Só com a última ainda mantém ligação.)
Maria se casa. (Já tem 22!) Cerimônia civil, religiosa, igreja quase vazia.( "Ondé que tá o meu povo?") Vazio.
Aos vinte e seis pede o divórcio. Pensão que não chega, emprego, desemprego, aluguel, dívidas, despejo, rua, viaduto! Dois filhos para criar. Maria embriaga-se de tristeza e se droga de amargura. Com dois filhos para criar.
Ela relembra_ calada_ as brincadeiras de criança beira-rio, beira-sonho, dentro-alegria. Um leve sorriso e olhar na coberta ao lado: Eles dormem_ Marcelo e Maurílio _, seus "pequenos indiozinhos" dormem. Acima o barulho insuportável de carretas e caminhões. "E eles estão dormindo!"
Dia novo, novo dia. Caminhada, caravana. Encontro. Esperança! Maria segue.
Maria, indígena, brasileira, dois filhos, Sem-Terra. E com um sonho.

Roberta Nogueira
Jornalista