quarta-feira, 10 de março de 2010

COLUNA


AS MULHERES NÃO MORREM

Comoventes, real. Assim somos nós.
Quais as diferenças? ... Diferenças, diferenças. Não dou corda para essa questão. Prefiro exaltar nossas afinidades e não incrementar essa revanche com cada sexo num canto oposto do ringue.
Não somos híbridas, mas plural, não somos certas, mas somos íntegras até com as situações- limite. Os abusos sexuais, a violência social, a crueldade e morte contra as mulheres são reais e freqüentes. As estatísticas fortes demais, para que sejam apenas aberrações eventuais. Não podemos pensar que cada caso seja o de mais um louco em sua loucura, pegando suas vítimas aleatoriamente, mas sim o de um horror a mais imposto às mulheres por pais, padrastos, irmãos, namorados, ex-namorados, maridos, ex-maridos e conhecidos, que espancam, estupram e matam suas vítimas. Esses fatos me paralisam. Eu tenho medo que nunca acabe o sofrimento das pessoas que integram a Humanidade à qual pertenço. A cada novo caso ficamos um pouco mais derrotadas.
A Lei Maria da Penha que foi criada para ficar do nosso lado, nos emprestar sua força de estivador para enterrar nossos algozes, ser a juíza invisível dessa luta em que a mulher sempre sai machucada, ainda não deslanchou. A justiça ainda não encarcerou e nem condenou com toda a punição que a lei Maria da Penha comporta, nenhum bárbaros.
E a gente acaba acreditando mesmo que há dois lados ou mais a serem combatidos para podermos alcançar uma sociedade equânime. A sociedade tem que pensar na mulher não apenas na condição de mulher, mas de uma mãe, de um vulcão, de um furacão, uma enchente, uma tempestade, um terremoto, invencível. Não há perda que não possamos transformar em força, não há passado que não possamos emoldurar e colocar na parede e não há medo que nos mantenha quietas por muito tempo.
Com a natureza de uma leoa e a corajosa humildade, aquela que nos faz perdoar e pedir perdão para desobstruir os caminhos à frente, e voltar com a cautela e a coragem, necessárias para mantemos nossas virtudes e pecados sempre dentro da bolsa, inseparáveis.
Mas fico com a lembrança da visão pessoal, passional e parcial, mas intrigante, do cineasta Almodóvar, que declarou numa entrevista: ”os homens passam, mas as mulheres não morrem”.

Dorothy Coutinho