
“LUZIAS” E “SAQUAREMAS”: O ETERNO JOGO POLÍTICO BRASILEIRO
Um dos adágios políticos mais em moda no Brasil do século XIX dizia que “nada mais parecido com um liberal do que um conservador” e a recíproca, além de verdadeira, era fiel à sua interpretação. Liberais e Conservadores revezaram-se no poder com propostas idênticas e atendimentos a um clientelismo nascido a partir da formação dos partidos políticos brasileiros.
Não obstante as diversas reformas geradas pelo surgimento do Parlamentarismo, a partir de 1847, tanto Liberais quanto Conservadores embutiram interesses próprios nos questionamentos e debates na Câmara e no Senado do Império. Neste último, dada a vitaliciedade de seus membros, honra garantida por dispositivos constitucionais de então, fazia-se com que o partido de oposição estivesse sempre representado no sistema político, mesmo quando fora do governo. Ainda que o Partido Liberal assumisse formalmente uma postura mais avançada em determinadas matérias levadas a plenário, na prática a execução dos seus programas não se diferenciava muito daquelas propostas apresentadas pelo Partido Conservador, o grande orquestrador da política nacional.
Ainda que “luzias” (Liberais) e “saquaremas” (Conservadores), como ficaram conhecidos após os incidentes ocorridos na década de 1840, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro**, fizessem de tudo para parecerem ferrenhos adversários políticos, com vocação institucional para lutarem pelas coisas e causas do Brasil, era uma situação que soava inverídica num país dominado pela oligarquia agrária, açambarcadora de voz e voto em qualquer nível de atuação do Poder Legislativo.
Pois bem, tirando ilações dos tempos imperiais, onde “luzias” e “saquaremas” digladiavam-se pelo poder político em todos os quadrantes do país, vemos agora espocarem no cenário nacional as alianças políticas com os olhos voltados às diversas sucessões neste ano de 2010. Inconstitucionais ou não, tais acordos ou violação de acordos, como queiram, começam a fazer parte dos noticiários com mais assiduidade e nos conduzem a uma grande reflexão enquanto eleitores e cidadãos pensantes: o atual momento político brasileiro em nada fica a dever àquele dos antigos artífices do jogo político conservador e liberal do século XIX, quando constatamos a velocidade na movimentação das peças do grande jogo de xadrez chamado política partidária.
O retorno de antigos políticos - pretendentes ao trono, digo, ao governo brasileiro -, com plataformas carcomidas, traz consigo anseios e medos que estão sendo repassados ao atual cenário político nacional, gerando uma crescente insegurança na população. Mais ainda: alguns outros candidatos começam a colocar a cabeça de fora, procurando arregimentar incautos votantes para suas previsíveis, gastas e ultrapassadas idéias, em mirabolantes planos de governo para uma pátria sofrida e sem muitas esperanças, principalmente quanto à tão propalada justiça social.
“Luzias” e “saquaremas” retornam ao cenário político nacional, aliás, renovam-se num palco onde, na realidade, estão postados há décadas, mexendo seus bispos, cavalos e torres, para buscarem o apoio irrestrito, conivente e explorado do povo brasileiro, em suma, esses eternos peões de um jogo medíocre e injusto que se arrasta há séculos no Brasil.
* Historiador e atual Presidente da Academia Caxambuense de Letras
** “Luzias” eram os políticos mineiros adeptos do movimento liberal que eclodiu em Santa Luzia, Minas Gerais, e foi sufocado pelo Duque de Caxias. Já “saquaremas” eram os políticos conservadores protegidos dos deputados Paulino José Soares de Sousa e Joaquim José Rodrigues Torres que livraram seus adeptos das ações criminosas ocorridas na Vila de Saquarema por um subdelegado e político local.