quinta-feira, 1 de abril de 2010

COLUNA





O BATISMO

“Então veio Jesus da Galiléia ter com João, junto do Jordão, para ser batizado por ele. Batizado que foi Jesus, saiu logo da água; e eis que se lhe abriram os céus e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele, e eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem comprazo”.
(Mt, 3-13:17)


O batismo, primeiro sacramento da Igreja, estabelece um vínculo de amor eterno entre o Criador e seus filhos. A água derramada gera um fato que será legitimado pelo poder da fé entre aqueles que realmente creem na presença do Espírito Santo.
Quando o Cristo foi batizado por João, estava legitimando Nele a presença do Pai, numa manifestação visível, terrena, dando um exemplo a ser seguido por todos, indistintamente, sem questionamento de credo ou raça.
A recusa inicial de João, sobre não ser digno de batizar o Cristo, foi nada mais nada menos do que um demonstrativo da pequenez da Humanidade diante da grandeza que é eternamente emanada do Espírito Santo. Sua dúvida é, hoje, a dúvida de todos nós, sem exceção, na competência em honrarmos a água que foi aspergida sobre nossas cabeças e que nos livrou do pecado original, quando, na pia batismal, fomos levados por nossos pais e padrinhos.
O filho de Isabel reproduziu, naquele momento, com sua dúvida, o pensamento coletivo, aliás, do inconsciente coletivo, uma vez que o ato de batizar é uma verdade imaterial, não palpável, que só pode se traduzir verdadeiramente na fé que cada um de nós carrega. E o Batista não era diferente, mesmo porque reconhecia a sua missão: “Aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, que nem sou digno de levar-lhes as alparcas” (Mt, 3-11).
O batismo às margens do Jordão talvez represente a passagem mística mais significativa para a Humanidade, porque ali, com o gesto de João, o Cristo renasceria e faria renascer o homem para a sua vida futura. Com ele, o pecado original estaria definitivamente erradicado do ser humano, extirpado de sua vida pela onipresença divina, pela constância da fé no Espirito Santo. O ato de batizar representaria a redenção da vida, a ressurreição do corpo e da alma, para aqueles que nelas cressem.
E o ministério terreno de Jesus, o Cristo, foi incessantemente um renovar de esperanças e de vida para a Humanidade, aliás, continua sendo, basta que para isso tenhamos olhos de ver. O milagre da criação renova-se a cada instante, bem o sabemos, mas a renovação espiritual, esta é a mais complexa e generativa dádiva que o homem pode vivenciar, pois traz consigo a vida eterna, a bem-aventurança de Deus para o homem, e pode renovar-se ad aeternum.
A partir do instante em que são derramadas as primeiras gotas da água sobre a fronte do homem, aí está ele recebendo a sua vida eterna, a sua comunhão com o Deus Pai, com o Deus que habita o seu interior, símbolo da Verdade, da Pureza e do Amor.
O batismo, longe de ser apenas um símbolo que se apõe no cristão, merece muito mais atenção pela sua verdadeira grandeza, por seu significado esotérico e, principalmente, pela beleza que ele a seguir descortinará. Todos, indistintamente, que foram batizados, comungam em seu âmago com o sinal do Cristo e por isso mesmo estão plenos de seu amor e de sua magnificência.
E, como um dos grandes exemplos da conversão pelo batismo do Espírito Santo, podemos apontar o do apóstolo Paulo, um homem que se tornou justo e santo na sua passagem terrena, praticamente criando a Igreja do Cristo no primeiro século desta era.
O que sucedeu a Paulo, quando se deparou na estrada de Damasco com a luz divina, nada mais foi do que vivenciar um batismo que lhe impunha o Criador. Momentaneamente cego pelo clarão da luz, retornou à consciência e se viu prenhe do Espírito Santo, assumindo o apostolado que lhe fora destinadamente traçado pelo Pai, levando o evangelho àqueles que dele necessitavam. Suas primeiras palavras, após a conversão, traduzem bem a nova vida que nele se instalava: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.”
O batismo de Paulo foi através da luz, transformando-o, a partir daquele instante, em um novo homem, disposto a difundir a verdade que tanto negara ou procurara não enxergar: “Já não vivo eu – o Cristo é que vive em mim.”
Da mesma forma que Paulo recebeu seu batismo de uma forma inusitada – no auge do seu denodo na perseguição dos cristãos – outros também tiveram essa primeira revelação divina dos mais diversos modos, formas e em tempos distintos.
Cada um de nós pode experienciar essa verdade, basta que tenhamos olhos de ver e ouvidos de ouvir. Os exemplos do passado devem servir de norte para melhor projeção do futuro.
Esperamos que nesta Páscoa assim seja!


* Historiador e atual Presidente da Academia Caxambuense de Letras