sábado, 3 de abril de 2010

ESPECIAL



Precisamos de mais leis ou de mais... participação ?


“Compreendi que não bastava denunciar a injustiça.

Era preciso dar a vida para combatê-la, pois nenhum homem pode morrer em paz se não fizer o possível para que os outros vivam.”


Albert Camus


Não me assusta a comoção nacional no caso do julgamento dos Nardoni, a curiosidade, as manifestações, a reação, a participação popular. Muito pelo contrário, me aflige é a falta de participação em tantos outros episódios: dinheiro em cueca, empregos distribuídos entre parentes, descaso social, maracutaias, corrupção, alegações de falta de conhecimento – os surrados “eu não sabia de nada” – que mostram por si só incompetência ou despreparo. O Professor de Psicologia e Psiquiatria da Universidade de Barcelona, Espanha, Emilio Mira Y López (1896 - 1964), já classificava a ira, o dever, o medo e o amor, como sendo os quatro gigantes da alma.

Não é o caso de fazer valer a Lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”, nem mesmo de se esperar a conduta daqueles que, pegos envolvidos em corrupção, se suicidam, mas é o caso de termos sim, maior reação frente aos acontecimentos e acometimentos que nos cercam, e desta fazer nascer maior participação.

Não é argumento dizer que crimes são cometidos pelos rincões de nosso imenso Brasil, e notícia não é dada. É o ponto: isto se deve pela falta de comoção, que provoca a falta de informação, que exclui e impede a participação. Se há um crime na minha esquina e eu me calo, qual seria a minha responsabilidade ou irresponsabilidade ?

Não se considera confundir participação com demonstrações carnavalescas, onde ridicularizam-se não os desvios de conduta, mas tem-se por ridicularizados aqueles próprios que anestesiam e matam a ira participativa, tornando-a inexistente.

Questiona-se a falta de leis, pede-se por mais ordenamentos, seriam eles realmente necessários ? Ou a aplicação das leis já existentes, quem sabe resultado de uma maior reação, fruto da comoção, geradora de participação seria o caminho ?


Carlos Rafael Ferreira, advogado