sábado, 1 de maio de 2010

COLUNA



E você, não vai fazer nada?

“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba nossa luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.”
(Eduardo Alves da Costa)


Você não viu? Se viu, você não leu? Se você chegou a ver, ler, será que você entendeu? Dizia assim: o Centro de Tratamento de Dependentes Químicos de Caxambu “Recanto Caminho da Esperança” fechou!
“Encerramento das atividades em decorrência de situação financeira insustentável, desinteresse e falta de apoio”. É triste, lamentável, é deplorável, é preocupante.
Paradoxalmente na mesma semana que o Dr. José Nicoliello Viotti assina a nota sobre o fim do CTDQ-Caxambu, a Ordem dos Advogados do Brasil, Subseção de Varginha, investe e proporciona a realização da Palestra sobre Dependência Química, proferida pelo Dr. Leandro Pannain Rezende. Notas distintas, sustentadas por posturas distintas: no primeiro caso, o descaso é o norte, fechando os olhos para não ver (ou ler, ou entender), fazendo silêncio, tudo se aquieta, esperam; no segundo, o empenho desde o primeiro minuto foi a marca, o compromisso, a palavra empenhada pelo Presidente Gustavo Chalfun, o zelo, profissionalismo, apoio, competência, trabalho.
Poderia expor aqui, de formas diversas se preciso, o quanto um trabalho preventivo é mais proveitoso e menos oneroso que um trabalho punitivo, o quanto Centros de Tratamento são mais úteis, mais baratos, mais humanos que presídios – centros de detenção, mas seria realmente fator de questionamento? Poderia falar dos 544 dependentes acolhidos, procedentes de 68 cidades, dos 1868 atendimentos, das mais de 3000 palestras, 520 consultas, 516 eletrocardiogramas, 871 aulas ministradas, mas ainda assim, você se questionaria? A notícia do fechamento é o fundo do poço, e a resposta é a falta de resposta. Basta!
Ninguém pode fazer nada? Será que não viram? Será que não leram? Será que não entenderam? O que me assusta é esta falta de comoção, de ação, de atitude! Não fazem nada, e não fazemos nada por não fazerem nada.
Nunca prive uma pessoa de esperança, pode ser que ela só tenha isso. Ironicamente o Centro de Tratamento se chamava “Recanto Caminho da Esperança”, e acredite, quando a esperança fecha as portas, o que sobra?
Parece-me que estão no jardim, ou será que já batem à porta? E você, não vai fazer nada?

Carlos Rafael Ferreira, advogado