quinta-feira, 13 de maio de 2010

COLUNA


Raul Pompéia, crônicas de saudade

Neste ano de 2010 lá se vão 115 anos do trágico desaparecimento de um dos mais renomados autores da literatura nacional: Raul d’Ávila Pompéia. Faleceu em 1895, quando se suicidou na noite de Natal, colocando ponto final na doença mental que o corroia havia anos. Filho da cidade de Angra dos Reis, Raul nasceu em 1863 e nos deixou com apenas 32 anos, após registrar para a história literária do Brasil página indelével como “O Ateneu”, leitura indispensável a todos nós e que a cada dia se torna mais atraente e mais moderna.
Raul Pompéia, uma expressão e unanimidade nacionais, foi menino sofrido que, ingressando aos 10 anos de idade no colégio interno, acumulou experiências, muitas delas amargas, e que seriam retratadas na sua principal obra, por sinal, detentora do subtítulo: “crônicas de saudade”.
Bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Recife, tendo colaborado em vários jornais de época, além de ter sido diretor da Biblioteca Nacional, destituído por questões políticas intimamente ligadas ao seu grande amigo Floriano Peixoto, a quem o sucessor na presidência da República, Prudente de Morais, não professava a mesma amizade.
Defensor incansável do movimento abolicionista, Raul Pompéia foi redator do jornal “Çá-Ira”, de São Paulo, que posteriormente passou a denominar-se “Luis Gama”, em homenagem a um dos mais tenazes advogados defensores da abolição da escravidão no Brasil.
Muito se falou sobre Pompéia e sobre sua obra prima e uma das principais críticas de época, ditada por Eugenio Wer¬neck, refletia que “O Ateneu é uma marca indelével de quanto valia essa mentalidade pu¬jante, essa estupenda organização artística que se chamou Raul Pompéia...” Sem dúvida, a obra é sublime e encantadora e vem, ao longo do tempo, cativando jovens e adultos que se debruçam sobre sua leitura agradável, romântica, muito sofrida e, no mais das vezes, evocativa de passagens de nossa própria incipiente vida estudantil.
Quem de nós hoje, amantes desse emblema da literatura nacional que é “O Ateneu”, quando passa pelo Rio Comprido não procura nas ruas que desembocam para as subidas de Santa Teresa aquele prédio “de quarenta janelas, resplandecentes do gás interior”, pensando ver “um jato de luz elétrica derivado de foco invisível ferindo a inscrição ATHE¬NAEUM em arco sobre as janelas centrais, no alto do prédio”. Pode ser que até mesmo a nossa imaginação nos leve, num átimo, a divisar a figura do Dr. Aristarco Argolo de Ramos, seu diretor, como bem dizia Pompéia, “gozando a imortalidade de que se julgava consagrado...” e nós, pobres mortais, embaixo, admirando, contemplando aquela obra que fazia dele um soberano, um baluarte da educação nacional, confundindo-¬se homem e instituição. Sonhos nossos de meninos, de tempos idos...


* Historiador e atual Presidente da Academia Caxambuense de Letras