quinta-feira, 10 de junho de 2010

COLUNA



A VOLTA DO ALMANAQUE CAPIVAROL

Aí pelas décadas de 1940 e de 1950, um dos mais acreditados instrumentos de consulta para inutilidades que assolavam este país era o Almanaque Capivarol, editado por um dos grandes laboratórios farmacêuticos existentes naqueles tempos. Na bem cuidada publicação, encontrávamos toda uma cultura inútil que acaso procurássemos. Sabe qual a distância da Terra à Lua? E quem disse a famosa frase: Alea jacta est? Ou ainda, quem desatou o famoso Nó Górdio? Eram questões facilmente respondidas pelo Capivarol.
Pois bem, o tempo passa, a tecnologia avança aos saltos, tornando-nos seres incompetentes perante a modernidade que não encontra obstáculos para a sua louca cavalgada em busca, parece-nos, do nada, e aí assoma com toda a sua força e grandeza a cultura inútil do Almanaque Capivarol, aqui mesmo, nestas lindas plagas hidrominerais.
Já de algum tempo muita gente boa (na ótica do povo!) por aqui vem se arvorando em intelectual, aliás, pseudo-intelectual, com a força e o dinamismo imprimidos pelo Capivarol. Explico-me melhor, pois nem sempre para um bom entendedor pingo é letra! Fazer História é coisa que muitos podem, mesmo porque às vezes nem se dão conta de que estão ingressando na mesma, pela porta da frente ou não, como é o caso de muitos neste país. Agora, relatar a História, analisá-la e fazer dela efetivamente a ciência que é, não é para todos, muito menos para amadores. Digo isto porque, profissional da área com algumas obras escritas, artigos publicados em revistas especializadas, tese defendida, vejo, perplexo, nulidades abancarem-se com ares de doutores na ciência de Heródoto!
E vão enganando aos incautos com sua verve literária desatualizada, inconsequente e, principalmente, desonesta, eis que, desconhecendo a fundo o fato histórico, dele traçam asneiras e sandices que fariam homens como Lucien Febvre, Fernand Braudel e o nosso grande Visconde de Porto Seguro urrarem de dor estomacal, tamanho o veneno intelectual que expelem boca a fora.
Copiando trechos aqui, outros ali, vão espalhando a falsa sensação de que são efetivamente conhecedores dos temas históricos. Esmeram-se na arte do fraseado empolado, buscando a erudição (que não têm!) desnecessária quando cristalinamente se pode transformar a linguagem histórica em elemento cotidiano. Aliás, será que entendem a diferença entre fato histórico e fato social? Pelo que andei lendo e ouvindo, não!
Assim, com muita satisfação anunciamos, com todos os erres e esses, o retorno do Almanaque Capivarol, símbolo inconteste de nulidades e arranjos intelectuais que faz muitos ostentarem o pouco que têm.


* Historiador e atual Presidente da Academia Caxambuense de Letras