terça-feira, 15 de junho de 2010

COLUNA



A ORIGEM DAS MINAS GERAIS

A década de 1970 revelou a importância da história oral para a recuperação e desenvolvimento do conhecimento acumulado ao longo dos anos, fundamentando análises históricas com base na criação de fontes inéditas ou novas.
Com essas características, a história oral revelou-se mais do que uma decisão técnica para os historiadores, passando a ser um espaço de contato e influência interdisciplinar, em qualquer nível que se aplicasse – quer regional, quer local – com ênfase nos fenômenos e eventos que permitissem, através da oralidade, oferecer interpretações qualitativas de processos históricos e sociais.
Esse sistema de interação traduz-se na principal diretriz que tem por fim recuperar a memória de um personagem, de uma instituição ou de uma localidade. Assim é que a história oral traz com ela a revivificação da história regional que vem a ser, sem dúvida, um dos mais significativos leitmotiven da história nacional; aliás, só acredito numa História do Brasil a partir do conhecimento gerado e descrito pelas histórias regionais. Somente com esse conhecimento poderemos, um dia, escrever com letras versais a nossa História.
A origem da História de Minas Gerais, das “minas do descoberto”, ou das “minas dos cataguás” está, assim, na gênese de uma história regional que se perpetuou, em quantidades consideráveis, da tradição oral para compor os quadros da História do Brasil. É, na realidade, a história de paulistas que se aventuraram em busca de ouro e de pedras preciosas, faiscando ribeirões e lavrando as encostas das montanhas. Essa história teve como moto gerador o poder do ouro e da prata como meios que tinham as grandes nações para acelerar o comércio internacional e uma incipiente indústria doméstica, procurando, desta forma, o recrudescimento da acumulação de riquezas.
A primeira descoberta oficial do ouro no sertão das Minas Gerais foi creditada a Antonio Rodrigues Arzão, entre 1692 e 1694, no local chamado Casa da Casca. Logo adiante, Manuel de Borba Gato também encontraria ouro na região de Sabará. E por aí afora. De qualquer forma, no século XVII começou a corrida do ouro para a região das minas o que, sensivelmente, atraiu um contingente muito grande de pessoas de todas as espécies e índoles para essas paragens.
Iniciou-se, assim, uma história que se arrastou ao longo do século XVIII, trazendo riqueza, poder e prosperidade para uns poucos e miséria e má-sorte para muitos. Porém, essa história não foi igual em todo o território das Minas Gerais e, em grande parte dele, houve aspectos diferenciais, não incluídos no modelo ditado pela colônia para a fervilhante região das minas de ouro e diamantes. É o caso da parte meridional do território mineiro.
A história do sul das Minas Gerais começa a ser elaborada, também, a partir do século XVII, com expedições bandeirantes que avançaram pelo interior do Brasil, intensificando-se no início do século XVIII, ocasião em que diversos arraiais são formados pelos desbravadores da então colônia portuguesa na América.
É fato inconteste entre os historiadores que os fundamentos de Minas Gerais, o princípio mesmo de sua civilização, advieram dessas bandeiras paulistas que, passando de São Vicente, alcançaram o planalto de Piratininga e, a partir da povoação estabelecida com a fundação do Colégio de São Paulo, desceram pelo rio Paraíba do Sul, povoando, aos poucos, regiões como Taubaté, Pindamonhangaba e Guaratinguetá e, daí, entrando para o interior pela garganta natural existente na Mantiqueira conhecida como Embaú, alcançando, através do rio Passa Quatro, os rios Sapucaí e Verde, que, por sua vez, levariam os entradistas aos rios Grande, das Mortes, das Velhas e São Francisco.
Iniciamos, com este artigo, nesta nova coluna, uma incursão na História de Minas Gerais, dando um destaque especial para o sul do estado, falando de sua história, artes, tradições e personagens que a tornaram grande no cenário nacional.


* Historiador e Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais