terça-feira, 29 de junho de 2010

COLUNA

Bandeirantes no sul das Minas Gerais

As bandeiras que partiram do planalto de Piratininga eram normalmente chefiadas por um dos principais homens da capitania, sempre contando com a presença de filhos maiores, parentes, dezenas de índios aliados ou escravizados, existindo ali uma hierarquia quase que militar. Entravam no sertão armados de escopetas, arcabuzes, espadas e roupas acolchoadas de algodão, com que se revestiam para se defenderem das setas indígenas.
A maior parte dos bandeirantes tinha sangue mestiço. Eram chamados de mamelucos, exemplos típicos os de Belchior Carneiro, André Fernandes e os dois Anhangueras. Outros eram portugueses da metrópole, como Antonio Raposo Tavares, Jerônimo Leitão e Jorge Correia. Havia, ainda, os brasileiros, paulistas de nascimento e sem mescla com indígenas, como Fernão Dias Paes, homens de São Vicente, de Piratininga e depois de Taubaté.
Aventuravam-se através de rios e trilhas que constituíam o sistema rudimentar de viagem fluvial e terrestre, através de campos e matas sombrias e úmidas.
Os bandeirantes levavam meses para chegar à região das minas de ouro e a expedição era alguma coisa sem a certeza de retorno, daí por que muitos deles faziam seus inventários deixando, normalmente, a mulher como administradora dos bens. É interessante observar que nesses inventários constavam nomes dos integrantes da bandeira, os padres e indígenas que a acompanhavam e tudo aquilo que descobriam ou não, inclusive apontando as dívidas do capitão-bandeirante.
Esses homens e suas caravanas avançaram rumo ao desconhecido, às terras inóspitas e, em diversas oportunidades, fixaram roças que, mais tarde, tornar-se-iam pousos habituais que viriam a se transformar em povoados e depois em vilas.
No início, os paulistas eram apenas entradistas em busca de índios para a escravização e venda para as lavouras canavieiras; pouco, ou quase nunca, estabelecendo-se fora de sua província. No entanto, nos fins do século XVII uma notícia importante espalhou-se no meio bandeirante: a descoberta de ouro para além da serra da Mantiqueira.
Dentre as primeiras bandeiras que por ali se aventuraram podemos anotar a de Braz Cubas e Luis Martins que, partindo de Santos ou de Piratininga, por volta de 1560, e passando pelas terras do primeiro (na atual Mogi das Cruzes), desceram pelo rio Paraíba, guiados por alguns indígenas, até a paragem da Cachoeira (atual Cachoeira Paulista), onde encontraram o caminho que os levou à região das minas do ouro, atravessando rios como o Verde, o Grande, o das Velhas até alcançar o São Francisco.
Um outro português, Martim Corrêa de Sá, entrou em Minas Gerais no ano de 1597. Em sua companhia levou o inglês Anthony Knivet, que já o havia acompanhado em incursões pelo sertão, com a finalidade de aprisionar indígenas. Martim de Sá teria vindo de Paraty e, transposta a serra do Mar, depois de atravessado o vale do Paraíba, teria alcançado o vale do rio Verde, pela garganta do Embaú.
Ainda sobre essa expedição, podemos anotar que, tendo descido o rio Sapucaí até a confluência com o rio Verde, o bandeirante teria se afastado do rumo geral que procurava o Sabarabuçu (local das minas de ouro), pois este atingia as cabeceiras do rio Verde que contravertem com as águas do rio Paraíba na garganta do Embaú e continua pelas águas do primeiro rio até ser avistado o morro do Caxambu, passando daí para o rio Ingaí e deste para o rio Grande e, finalmente, para o rio das Mortes na altura de Ibituruna.
Na próxima semana, vamos falar da passagem dos bandeirantes pela região de Caxambu.


* Historiador e Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.