Bandeirantes no sul das Minas Gerais
As bandeiras que partiram do planalto de Piratininga eram normalmente chefiadas por um dos principais homens da capitania, sempre contando com a presença de filhos maiores, parentes, dezenas de índios aliados ou escravizados, existindo ali uma hierarquia quase que militar. Entravam no sertão armados de escopetas, arcabuzes, espadas e roupas acolchoadas de algodão, com que se revestiam para se defenderem das setas indígenas.
A maior parte dos bandeirantes tinha sangue mestiço. Eram chamados de mamelucos, exemplos típicos os de Belchior Carneiro, André Fernandes e os dois Anhangueras. Outros eram portugueses da metrópole, como Antonio Raposo Tavares, Jerônimo Leitão e Jorge Correia. Havia, ainda, os brasileiros, paulistas de nascimento e sem mescla com indígenas, como Fernão Dias Paes, homens de São Vicente, de Piratininga e depois de Taubaté.
Aventuravam-se através de rios e trilhas que constituíam o sistema rudimentar de viagem fluvial e terrestre, através de campos e matas sombrias e úmidas.
Os bandeirantes levavam meses para chegar à região das minas de ouro e a expedição era alguma coisa sem a certeza de retorno, daí por que muitos deles faziam seus inventários deixando, normalmente, a mulher como administradora dos bens. É interessante observar que nesses inventários constavam nomes dos integrantes da bandeira, os padres e indígenas que a acompanhavam e tudo aquilo que descobriam ou não, inclusive apontando as dívidas do capitão-bandeirante.
Esses homens e suas caravanas avançaram rumo ao desconhecido, às terras inóspitas e, em diversas oportunidades, fixaram roças que, mais tarde, tornar-se-iam pousos habituais que viriam a se transformar em povoados e depois em vilas.
No início, os paulistas eram apenas entradistas em busca de índios para a escravização e venda para as lavouras canavieiras; pouco, ou quase nunca, estabelecendo-se fora de sua província. No entanto, nos fins do século XVII uma notícia importante espalhou-se no meio bandeirante: a descoberta de ouro para além da serra da Mantiqueira.
Dentre as primeiras bandeiras que por ali se aventuraram podemos anotar a de Braz Cubas e Luis Martins que, partindo de Santos ou de Piratininga, por volta de 1560, e passando pelas terras do primeiro (na atual Mogi das Cruzes), desceram pelo rio Paraíba, guiados por alguns indígenas, até a paragem da Cachoeira (atual Cachoeira Paulista), onde encontraram o caminho que os levou à região das minas do ouro, atravessando rios como o Verde, o Grande, o das Velhas até alcançar o São Francisco.
Um outro português, Martim Corrêa de Sá, entrou em Minas Gerais no ano de 1597. Em sua companhia levou o inglês Anthony Knivet, que já o havia acompanhado em incursões pelo sertão, com a finalidade de aprisionar indígenas. Martim de Sá teria vindo de Paraty e, transposta a serra do Mar, depois de atravessado o vale do Paraíba, teria alcançado o vale do rio Verde, pela garganta do Embaú.
Ainda sobre essa expedição, podemos anotar que, tendo descido o rio Sapucaí até a confluência com o rio Verde, o bandeirante teria se afastado do rumo geral que procurava o Sabarabuçu (local das minas de ouro), pois este atingia as cabeceiras do rio Verde que contravertem com as águas do rio Paraíba na garganta do Embaú e continua pelas águas do primeiro rio até ser avistado o morro do Caxambu, passando daí para o rio Ingaí e deste para o rio Grande e, finalmente, para o rio das Mortes na altura de Ibituruna.
Na próxima semana, vamos falar da passagem dos bandeirantes pela região de Caxambu.
* Historiador e Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.
As bandeiras que partiram do planalto de Piratininga eram normalmente chefiadas por um dos principais homens da capitania, sempre contando com a presença de filhos maiores, parentes, dezenas de índios aliados ou escravizados, existindo ali uma hierarquia quase que militar. Entravam no sertão armados de escopetas, arcabuzes, espadas e roupas acolchoadas de algodão, com que se revestiam para se defenderem das setas indígenas.
A maior parte dos bandeirantes tinha sangue mestiço. Eram chamados de mamelucos, exemplos típicos os de Belchior Carneiro, André Fernandes e os dois Anhangueras. Outros eram portugueses da metrópole, como Antonio Raposo Tavares, Jerônimo Leitão e Jorge Correia. Havia, ainda, os brasileiros, paulistas de nascimento e sem mescla com indígenas, como Fernão Dias Paes, homens de São Vicente, de Piratininga e depois de Taubaté.
Aventuravam-se através de rios e trilhas que constituíam o sistema rudimentar de viagem fluvial e terrestre, através de campos e matas sombrias e úmidas.
Os bandeirantes levavam meses para chegar à região das minas de ouro e a expedição era alguma coisa sem a certeza de retorno, daí por que muitos deles faziam seus inventários deixando, normalmente, a mulher como administradora dos bens. É interessante observar que nesses inventários constavam nomes dos integrantes da bandeira, os padres e indígenas que a acompanhavam e tudo aquilo que descobriam ou não, inclusive apontando as dívidas do capitão-bandeirante.
Esses homens e suas caravanas avançaram rumo ao desconhecido, às terras inóspitas e, em diversas oportunidades, fixaram roças que, mais tarde, tornar-se-iam pousos habituais que viriam a se transformar em povoados e depois em vilas.
No início, os paulistas eram apenas entradistas em busca de índios para a escravização e venda para as lavouras canavieiras; pouco, ou quase nunca, estabelecendo-se fora de sua província. No entanto, nos fins do século XVII uma notícia importante espalhou-se no meio bandeirante: a descoberta de ouro para além da serra da Mantiqueira.
Dentre as primeiras bandeiras que por ali se aventuraram podemos anotar a de Braz Cubas e Luis Martins que, partindo de Santos ou de Piratininga, por volta de 1560, e passando pelas terras do primeiro (na atual Mogi das Cruzes), desceram pelo rio Paraíba, guiados por alguns indígenas, até a paragem da Cachoeira (atual Cachoeira Paulista), onde encontraram o caminho que os levou à região das minas do ouro, atravessando rios como o Verde, o Grande, o das Velhas até alcançar o São Francisco.
Um outro português, Martim Corrêa de Sá, entrou em Minas Gerais no ano de 1597. Em sua companhia levou o inglês Anthony Knivet, que já o havia acompanhado em incursões pelo sertão, com a finalidade de aprisionar indígenas. Martim de Sá teria vindo de Paraty e, transposta a serra do Mar, depois de atravessado o vale do Paraíba, teria alcançado o vale do rio Verde, pela garganta do Embaú.
Ainda sobre essa expedição, podemos anotar que, tendo descido o rio Sapucaí até a confluência com o rio Verde, o bandeirante teria se afastado do rumo geral que procurava o Sabarabuçu (local das minas de ouro), pois este atingia as cabeceiras do rio Verde que contravertem com as águas do rio Paraíba na garganta do Embaú e continua pelas águas do primeiro rio até ser avistado o morro do Caxambu, passando daí para o rio Ingaí e deste para o rio Grande e, finalmente, para o rio das Mortes na altura de Ibituruna.
Na próxima semana, vamos falar da passagem dos bandeirantes pela região de Caxambu.
* Historiador e Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.