SAUDADE
Este artigo é uma homenagem à Acadêmica Professora Luiza Menezes Figueiredo, falecida em 26 de junho passado. Lamentavelmente só soube do ocorrido há dois dias, pois teria me deslocado do Rio para a missa de sétimo dia.
Conheci dona Luiza na Academia Caxambuense de Letras onde éramos titulares e membros fundadoras. Amizade e admiração não têm idades; ela, na casa dos noventa anos, era das mais jovens em espírito, vivacidade, inteligência, responsabilidade, memória prodigiosa, uma grande declamadora e oradora com palavras firmes e interpretações perfeitas. Sua silhueta frágil escondia um espírito forte.
Quando eu estava na cidade, tinha o hábito de visitá-la. Nos últimos anos mudou-se para um apartamento numa esquina da rua Dr.Enout onde,de sua varanda, se via a janela da área de serviço do meu apartamento. Combinei, então, colocar uma toalha colorida na janela para mostrar-lhe que eu estava na terrinha e que logo iria vê-la; e tudo dava certo.
Nossas conversas eram variadas e ela sempre atualizada com os acontecimentos do lugar. A última vez que nos falamos foi pelo telefone, por ocasião da Páscoa.
No início do ano, passamos uma tarde muito agradável e refletimos sobre a Academia de Letras que, tanto na opinião dela como na minha, deveria reunir seus membros mais assiduamente. Comentamos que nos últimos tempos os acadêmicos estão isolados, sentindo falta do aconchego mensal familiar das reuniões seguidas de almoço.
Divagamos sobre o tratamento de confrades/confreiras que nos vem sendo dispensado. Ela, como eu, sabíamos a diferença da essência entre uma Academia de Letras e uma Confraria. A primeira se firma em produções de pessoas eruditas, literatas que se dedicam ao estudo das ciências, que proferem palestras ou conferências que fazem seus titulares crescerem academicamente; a segunda, em sua etimologia é uma congregação de devotos a determinado santo ou causa; no sentido moderno comporta uma agremiação, uma sociedade, uma irmandade onde seus participantes podem ter uma finalidade religiosa, recreativa, social, esportiva e outras mais, sendo o companheirismo a sua tônica. A primeira tem um cunho universitário, literário, enquanto a segunda é mais popular. Cada uma delas tem seus méritos mas não são sinônimas nem equivalentes.
Querida dona Luiza, como disse o escritor José Saramago, somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos; sem memória não existimos e sem responsabilidades talvez não mereçamos existir. A senhora existirá para sempre em nossa memória; nunca morrerá, apenas mudou de galáxia.
Estas linhas valem pelo ramalhete de flores que gostaria de ter depositado a seus pés.
Maria de Lourdes Lemos
Rio, 16.7.2010
Este artigo é uma homenagem à Acadêmica Professora Luiza Menezes Figueiredo, falecida em 26 de junho passado. Lamentavelmente só soube do ocorrido há dois dias, pois teria me deslocado do Rio para a missa de sétimo dia.
Conheci dona Luiza na Academia Caxambuense de Letras onde éramos titulares e membros fundadoras. Amizade e admiração não têm idades; ela, na casa dos noventa anos, era das mais jovens em espírito, vivacidade, inteligência, responsabilidade, memória prodigiosa, uma grande declamadora e oradora com palavras firmes e interpretações perfeitas. Sua silhueta frágil escondia um espírito forte.
Quando eu estava na cidade, tinha o hábito de visitá-la. Nos últimos anos mudou-se para um apartamento numa esquina da rua Dr.Enout onde,de sua varanda, se via a janela da área de serviço do meu apartamento. Combinei, então, colocar uma toalha colorida na janela para mostrar-lhe que eu estava na terrinha e que logo iria vê-la; e tudo dava certo.
Nossas conversas eram variadas e ela sempre atualizada com os acontecimentos do lugar. A última vez que nos falamos foi pelo telefone, por ocasião da Páscoa.
No início do ano, passamos uma tarde muito agradável e refletimos sobre a Academia de Letras que, tanto na opinião dela como na minha, deveria reunir seus membros mais assiduamente. Comentamos que nos últimos tempos os acadêmicos estão isolados, sentindo falta do aconchego mensal familiar das reuniões seguidas de almoço.
Divagamos sobre o tratamento de confrades/confreiras que nos vem sendo dispensado. Ela, como eu, sabíamos a diferença da essência entre uma Academia de Letras e uma Confraria. A primeira se firma em produções de pessoas eruditas, literatas que se dedicam ao estudo das ciências, que proferem palestras ou conferências que fazem seus titulares crescerem academicamente; a segunda, em sua etimologia é uma congregação de devotos a determinado santo ou causa; no sentido moderno comporta uma agremiação, uma sociedade, uma irmandade onde seus participantes podem ter uma finalidade religiosa, recreativa, social, esportiva e outras mais, sendo o companheirismo a sua tônica. A primeira tem um cunho universitário, literário, enquanto a segunda é mais popular. Cada uma delas tem seus méritos mas não são sinônimas nem equivalentes.
Querida dona Luiza, como disse o escritor José Saramago, somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos; sem memória não existimos e sem responsabilidades talvez não mereçamos existir. A senhora existirá para sempre em nossa memória; nunca morrerá, apenas mudou de galáxia.
Estas linhas valem pelo ramalhete de flores que gostaria de ter depositado a seus pés.
Maria de Lourdes Lemos
Rio, 16.7.2010