terça-feira, 6 de julho de 2010

COLUNA

As origens de Caxambu

Um importante estudo, e talvez o mais significativo de todos que encontrei sobre a cidade de Pouso Alto, o do Prof. Leonel Junqueira, dá conta de que, em 1675, o bandeirante Lourenço Castanho Taques tenha subido a região do Embaú e atrás dele, logo a seguir, teriam vindo Matias Cardoso de Almeida, seus dois filhos, e Borba Gato que, atravessando a mesma passagem, teriam avançado por Passa Quatro e chegado a um sítio que denominaram de Pouso Alto, seguindo, posteriormente, para Baependi. Segundo a tradição, em uma parte desse mesmo caminho – que hoje conhecemos como Caminho Velho das Minas Gerais - por aí também teria passado a bandeira de Fernão Dias Paes, assim como outras levas de paulistas em direção ao interior do território. É certo que o que hoje conhecemos como território de Caxambu estava no caminho desses bandeirantes. Contudo, muito do que se ouve e se escreve sobre as suas origens pode ser creditado quase que exclusivamente à tradição oral, esta inquestionavelmente uma importante aliada no conhecimento que se quer formar sobre um determinado fato histórico.
Muitos autores consideram que Caxambu fora povoada logo na primeira metade do século XVIII: em 1711, João Batista de Carvalho obtivera uma sesmaria “aonde chamam o Cachambum”. O festejado Monsenhor Lefort anotou em sua obra clássica – “A Diocese da Campanha” – que o Cachambum ali referido era outro e não aquele que hoje conhecemos, uma distinção que, aliás, não foi feita pelo insigne historiador Diogo de Vasconcelos, na sua “História Antiga de Minas Gerais”. Outros autores atribuem a primeira sesmaria na região a Carlos Pedroso da Silveira, que a teria ganhado em 1706.
Já em alguns registros encontrados na Delegacia Fiscal de São João Del Rei para o ano de 1715 aparece o nome de Alberto Pires como sendo o primeiro morador de Caxambu, na ocasião proprietário de quatro escravos. Segundo ainda o mesmo Monsenhor Lefort, na realidade o nome completo do primeiro morador da região seria Alberto Pires Ribeiro, filho de Francisco Alvares Corrêa e de Maria Bicudo. Casou-se com Lucrécia Leme e faleceu no ano de 1737.
Uma outra sesmaria seria concedida, também nas terras “por detrás do morro do Cachambu” para Sebastião Fernandes Corrêa, em 1º de janeiro de 1728.
Uma outra fonte - os assentamentos dos livros paroquiais de Baependi, informa que foram povoadores de Caxambu:
- 1730 – Manuel Arruda, casado com Mecia de Toledo
- 1730 – também aparecia como moradora a viúva Ana Moreira;
- 1731 – João de Vasconcelos, casado com Maria Leme do Prado;
- 1732 – Francisco de Arruda, casado com Mariana da Luz;
- 1733 – Luzia Pinheiro, que era solteira;
- 1737 – Sebastião de Brito, casado com Juliana de Oliveira.
Tudo muito interessante e contraditório e chegamos, então, a um outro morador que para muitos leva o título de fundador de Caxambu: Estácio da Silva.
A realidade é que a verdadeira definição e as origens de seus primeiros habitantes continua um mistério, mas algumas luzes foram lançadas a esse momento quando da publicação da obra de Maria de Lourdes Lemos, “Caxambu: de Água Santa a patrimônio estadual”, que ali realizou um interessante estudo comparativo dos diversos autores - assim como H. Monat e Antonio Maurício Ferreira, além do próprio Monsenhor Lefort -, para estabelecer uma resposta segura sobre os primeiros tempos de nosso município, inclusive sepultando de vez a informação de que teria sido Estácio da Silva o primeiro morador de Caxambu e demonstrando os equívocos anotados que falavam de terras de Caxambu quando na realidade tratava-se de outro território, assim como Conceição do Rio Verde e Baependi.
O que se tem como certo é que as águas virtuosas foram um importante veículo para a formação da urbe e, aí sim, vamos encontrar João Constantino Pereira Guimarães e Felício Germano de Oliveira Mafra como os primeiros povoadores da várzea caxambuense, em 1843, dando-se início, logo adiante, ao beneficiamento das águas virtuosas.

As águas virtuosas

O ano de 1814 marcou a descoberta das águas minerais de Caxambu. Segundo a tradição, existem duas versões para o surgimento das águas: a primeira delas informa que alguns peões da fazenda das Palmeiras, buscando animais que haviam fugido, chegaram ao local das fontes, na fazenda Caxambu, que era, à ocasião, de propriedade da Sra. Luisa Francisca de Sampaio. A segunda versão fala da derrubada de um grande cedro naquela propriedade, o que fez brotar de suas raízes uma água com sabor completamente diferente.
A verdade é que, tirando as diversas versões para o surgimento das águas minerais de Caxambu, o efeito tônico e curativo das mesmas sempre foi uma realidade para tantos quantos procuraram e ainda procuram os benefícios de suas 12 fontes que tiveram aprovação do governo no ano de 1873, após minuciosas análises nelas efetuadas por especialistas.


* Historiador e Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.