“As pessoas grandes são decididamente muito bizarras.”
Antoine de Saint Exupéry
Esta semana o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – uma das leis mais reconhecidas e elogiadas internacionalmente, com significativo avanço nas políticas públicas relacionadas, completou 20 anos. Nos últimos tempos, especialmente quando observamos o envolvimento de menores em crimes hediondos e brutais, pontualmente ataca-se a maioridade penal, ou seja, a idade da responsabilidade criminal, idade a partir da qual o indivíduo pode ser penalmente responsabilizado por seus atos. Conversemos hoje, não sobre a lei em si, mas sobre as pessoas grandes que em primeira análise são as responsáveis pela formação e educação destas crianças e destes adolescentes. Pessoas grandes mentem, mas ensinam que é feio mentir. Escrevem livros e se esquecem de suas histórias. Vendem o corpo, mas tem dificuldade em estender a mão. Consomem drogas buscando por paz, perdem tudo buscando por drogas. Acreditam que o carnaval cura tudo, e que os dias de folia já duram uns 510 anos. Buscam por Deus no céu e se esquecem dos seus irmãos na Terra. Crêem em fadas, duendes e duvidam das pessoas. Relacionam-se por sexo, dinheiro e esperam encontrar amor verdadeiro. Tem acesso ao mundo todo num clique, em um segundo e muitas vezes não conhecem seu vizinho. Por vezes se fazem representar por corruptos e esperam honestidade. Decoram as perguntas sem se preocupar com as respostas. Correm e perdem tempo demais. Costumam não dar tempo ao tempo. Acostumam-se, rapidamente, com vidas e balas perdidas. Acham que nunca estão erradas. Tem memória curta. Acreditam em suas mentiras. Dizem que sim querendo dizer não e dizem que não quando queriam na verdade dizer que sim. Confundem alhos com bugalhos e elefante com elegante. Matam, sequestram, para defender a vida, a liberdade. Criam leis, códigos inteiros, tratados, portarias, decretos e... formas de não cumprir aquilo que criaram. Acreditam ser Deus.
Carlos Rafael Ferreira, advogado.