A passagem para o interior das Minas Gerais
Não restam dúvidas de que a garganta do Embaú foi o caminho mais batido pelos primeiros sertanistas que se internaram sob recomendação do governador-geral do Brasil, D. Francisco de Souza. Sustentam historiadores de renome, e aqui citamos o Dr. Mario Leite, que “poderia um ou outro, de que de São Paulo procurou o vale do Paraíba, ao chegar à altura de Pindamonhangaba, para transpor a Mantiqueira, ter subido pelo vale do Piracuama, mais ou menos no traçado da Estrada de Ferro de Campos do Jordão, descendo depois pelo Sapucaí, para passar ao rio Verde”. Aliás, essa também é a idéia comungada pelo ilustre Dr. Orville Derby, quando, de igual sorte, descreveu a rota da bandeira de Martim Correia de Sá, que se internou em território mineiro por volta de 1596, muito possivelmente na esteira de João Pereira de Souza Botafogo e anteriormente, inclusive, à passagem de André de Leão.
Percorrendo a região, pude aquilatar a força de todas essas informações e cheguei à conclusão de que o roteiro descrito por todos, inclusive pelo padre Antonil, em 1711, não pode ter sido feito por outro caminho senão por esse do vale do Paraíba, subindo pela garganta do Embaú, na serra da Mantiqueira, pelo menos até 1700, quando já estava aberto uma parte do caminho novo de Garcia Rodrigues Paes, partindo do Rio de Janeiro em direção a Vila Rica.
Na edição do Códice Costa Matoso existem dois roteiros determinados por Francisco Tavares de Brito, aos quais chamou de “itinerário geográfico com a verdadeira descrição dos caminhos, estradas, roças, sítios, povoações, lugares, vilas, rios, montes e serras que há da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro até as Minas de Ouro”. Dali importa o roteiro do caminho velho, que viria corroborar todos os observadores e viajantes anteriores que por ali passaram. Senão vejamos o que diz o Códice Matoso, resumidamente, após a saída do Rio de Janeiro, passando por Santos e subindo para São Paulo:
“Desta cidade se parte para as Minas e se passa pelas passagens seguintes: Nossa Senhora da Penha, vila de Mogi; vila de Jacareí (passa-se, antes de entrar na vila, o rio Paraíba, em canoa); princípio do Capão Grande; Capela; vila de Taubaté; vila de Pindamonhangaba; vila de Guaratinguetá. A esta vila também vem dar o caminho de Parati, que chamam o Caminho Velho, e quem sai de Parati, vem ao Bananal, sobre a inacessível serra e descansa na Aparição; passa-se o rio Paraitinga (que toma aqui o nome das serranias por onde passa e logo depois se chama Paraíba do Sul); e se pernoita no sítio que também toma o nome do rio; Afonso Martins; passa-se aqui o rio Facão; vai-se à Encruzilhada e se entra depois na vila de Guaratinguetá, já dita, e dela se parte para as Minas, passando em canoa, e daí a breve distância o rio Paraíba, no sítio de Aipacaré; e se prossegue a caminho das Minas. Embaú; passa-se um rio vinte vezes, e por isso se chama o Passa Vinte; sobe-se a notável cordilheira ou serra da Mantiqueira; passa-se outro rio trinta vezes e lhe chamam o Passa Trinta; e se vai ao Pinheirinho; daí a Rio Verde; Pouso Alto; Boa Vista”.
Daí em diante, após terem passado por Baependi, seguem os mesmos caminhos já conhecidos, através dos rios Ingaí e Grande, alcançando as lavras de ouro do rio das Mortes e do rio das Velhas.
Conforme se pode constatar de estudos minuciosos das rotas bandeirantes, em conferências havidas no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, a passagem por Atibaia levava a outras regiões, principalmente ao sul de Mato Grosso e Goiás; isto efetivamente não aconteceria se dessem uma grande guinada em direção ao Sapucaí para alcançar o Verde e daí em diante para o rio das Mortes, o que era improvável, haja vista a rota traçada pelos dois Anhangueras e, posteriormente, por Raposo Tavares.
Com todo o respeito que merecem os insignes historiadores, parece-nos coberto de razão o Dr. Orville Derby quando sustenta com muita propriedade - haja vista a produção científica que deixou consignada nos Anais do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, com cartas geográficas extremamente explicativas sobre este tema - a passagem de Fernão Dias Paes pelo Embaú, podendo, inclusive, ter o bandeirante lançado ali os fundamentos dos povoados de Passa Quatro, Itanhandu e Pouso Alto.
Na serra da Mantiqueira, comprovadamente, havia três passagens, o que confundiu, por muito tempo, os historiadores: a primeira delas, por Jacareí, pelo passo do rio Buquira; a segunda, por Tremembé, pelos vales dos rios Piracuama e Sapucaí e a terceira, descendo por Guaipacaré (Lorena), atingindo a garganta do Embaú pelo rio Passa Vinte.
Apesar da suposição daqueles historiadores, o caminho da Mantiqueira era, sem dúvida, o trecho mais batido desses primeiros sertanistas, tendo um ou outro procurado o vale do Piracuama, subindo a atual cidade de Campos do Jordão, descendo o rio Sapucaí para chegar ao rio Verde.
* Historiador e Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais
Não restam dúvidas de que a garganta do Embaú foi o caminho mais batido pelos primeiros sertanistas que se internaram sob recomendação do governador-geral do Brasil, D. Francisco de Souza. Sustentam historiadores de renome, e aqui citamos o Dr. Mario Leite, que “poderia um ou outro, de que de São Paulo procurou o vale do Paraíba, ao chegar à altura de Pindamonhangaba, para transpor a Mantiqueira, ter subido pelo vale do Piracuama, mais ou menos no traçado da Estrada de Ferro de Campos do Jordão, descendo depois pelo Sapucaí, para passar ao rio Verde”. Aliás, essa também é a idéia comungada pelo ilustre Dr. Orville Derby, quando, de igual sorte, descreveu a rota da bandeira de Martim Correia de Sá, que se internou em território mineiro por volta de 1596, muito possivelmente na esteira de João Pereira de Souza Botafogo e anteriormente, inclusive, à passagem de André de Leão.
Percorrendo a região, pude aquilatar a força de todas essas informações e cheguei à conclusão de que o roteiro descrito por todos, inclusive pelo padre Antonil, em 1711, não pode ter sido feito por outro caminho senão por esse do vale do Paraíba, subindo pela garganta do Embaú, na serra da Mantiqueira, pelo menos até 1700, quando já estava aberto uma parte do caminho novo de Garcia Rodrigues Paes, partindo do Rio de Janeiro em direção a Vila Rica.
Na edição do Códice Costa Matoso existem dois roteiros determinados por Francisco Tavares de Brito, aos quais chamou de “itinerário geográfico com a verdadeira descrição dos caminhos, estradas, roças, sítios, povoações, lugares, vilas, rios, montes e serras que há da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro até as Minas de Ouro”. Dali importa o roteiro do caminho velho, que viria corroborar todos os observadores e viajantes anteriores que por ali passaram. Senão vejamos o que diz o Códice Matoso, resumidamente, após a saída do Rio de Janeiro, passando por Santos e subindo para São Paulo:
“Desta cidade se parte para as Minas e se passa pelas passagens seguintes: Nossa Senhora da Penha, vila de Mogi; vila de Jacareí (passa-se, antes de entrar na vila, o rio Paraíba, em canoa); princípio do Capão Grande; Capela; vila de Taubaté; vila de Pindamonhangaba; vila de Guaratinguetá. A esta vila também vem dar o caminho de Parati, que chamam o Caminho Velho, e quem sai de Parati, vem ao Bananal, sobre a inacessível serra e descansa na Aparição; passa-se o rio Paraitinga (que toma aqui o nome das serranias por onde passa e logo depois se chama Paraíba do Sul); e se pernoita no sítio que também toma o nome do rio; Afonso Martins; passa-se aqui o rio Facão; vai-se à Encruzilhada e se entra depois na vila de Guaratinguetá, já dita, e dela se parte para as Minas, passando em canoa, e daí a breve distância o rio Paraíba, no sítio de Aipacaré; e se prossegue a caminho das Minas. Embaú; passa-se um rio vinte vezes, e por isso se chama o Passa Vinte; sobe-se a notável cordilheira ou serra da Mantiqueira; passa-se outro rio trinta vezes e lhe chamam o Passa Trinta; e se vai ao Pinheirinho; daí a Rio Verde; Pouso Alto; Boa Vista”.
Daí em diante, após terem passado por Baependi, seguem os mesmos caminhos já conhecidos, através dos rios Ingaí e Grande, alcançando as lavras de ouro do rio das Mortes e do rio das Velhas.
Conforme se pode constatar de estudos minuciosos das rotas bandeirantes, em conferências havidas no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, a passagem por Atibaia levava a outras regiões, principalmente ao sul de Mato Grosso e Goiás; isto efetivamente não aconteceria se dessem uma grande guinada em direção ao Sapucaí para alcançar o Verde e daí em diante para o rio das Mortes, o que era improvável, haja vista a rota traçada pelos dois Anhangueras e, posteriormente, por Raposo Tavares.
Com todo o respeito que merecem os insignes historiadores, parece-nos coberto de razão o Dr. Orville Derby quando sustenta com muita propriedade - haja vista a produção científica que deixou consignada nos Anais do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, com cartas geográficas extremamente explicativas sobre este tema - a passagem de Fernão Dias Paes pelo Embaú, podendo, inclusive, ter o bandeirante lançado ali os fundamentos dos povoados de Passa Quatro, Itanhandu e Pouso Alto.
Na serra da Mantiqueira, comprovadamente, havia três passagens, o que confundiu, por muito tempo, os historiadores: a primeira delas, por Jacareí, pelo passo do rio Buquira; a segunda, por Tremembé, pelos vales dos rios Piracuama e Sapucaí e a terceira, descendo por Guaipacaré (Lorena), atingindo a garganta do Embaú pelo rio Passa Vinte.
Apesar da suposição daqueles historiadores, o caminho da Mantiqueira era, sem dúvida, o trecho mais batido desses primeiros sertanistas, tendo um ou outro procurado o vale do Piracuama, subindo a atual cidade de Campos do Jordão, descendo o rio Sapucaí para chegar ao rio Verde.
* Historiador e Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais