terça-feira, 27 de julho de 2010

COLUNA

As Minas Gerais no século XVIII

A constante afluência de paulistas, baianos e portugueses, a partir de 1705, na região das lavras de ouro, deflagrou o conflito conhecido como “Guerra dos Emboabas”, que acelerou a criação da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, em 1709, separada do governo do Rio de Janeiro, com a restituição, em 1711, das lavras aos paulistas que foram, sem dúvida, os primeiros a chegar à região. Surgiram, a partir daí, as primeiras vilas e a Vila do Ribeirão do Carmo, atual Mariana, em 1711, foi o primeiro núcleo mais denso de povoamento, seguida de Vila Rica (atual Ouro Preto) e Sabará.
Por Alvará de D. João V, datado de 2 de dezembro de 1720, foi criada a Capitania de Minas Gerais, desmembrada da Capitania de São Paulo. Seu primeiro governador foi D. Lourenço de Almeida que, nomeado em 23 de dezembro de 1720, tomaria posse somente em 18 de agosto do ano seguinte.
A primeira divisa entre as capitanias de São Paulo e Minas foi fixada por aquele alvará, limites estes que já existiam entre as até então Comarcas de São Paulo e Rio das Mortes.
Um dos primeiros atos de D. Lourenço de Almeida foi a transferência da sede do governo da capitania de Mariana para Vila Rica. O nome “Minas Gerais” seria definitivamente consagrado em 1739, por ocasião da nomeação do Conde das Galvêas para “Governador e Capitão-General das Minas Gerais”.
Relativamente ainda às questões de limites, diversos foram, inclusive, os conflitos armados existentes ao longo do século XVIII, conflitos estes que se estenderam para Goiás, Bahia e Espírito Santo, motivados em grande parte pelos achados de pedras preciosas na região das Minas Novas. Somente na segunda metade do século XIX é que surgiria um mapa praticamente definitivo dos lindes do território mineiro. Conforme acentuado por Antonio Gilberto Costa, um documento considerado confiável foi concluído em 1855, nomeado “Mapa da província brasileira de Minas Gerais, levantado por ordem do governo provincial nos anos 1836-1855, utilizando mapas anteriores e levantamentos e observações recentes, sob a supervisão especial do engenheiro civil H.G.F. Halfeld, organizado e desenhado por F. Wagner”, que, apesar de não ter se tornado o primeiro documento oficial, recebeu grande aceitação por parte dos mineiros.
Especificamente com relação ao sul do território, informa-nos José João Teixeira Coelho que os limites ficavam “principiando do alto da Mantiqueira, onde estava um marco antigo (provavelmente no Embaú), e tirando uma linha pelo cume da dita serra até ao Morro do Lopo, e deste ao Morro do Mogi-Guaçu, e deste ao rio Grande, onde principia a Capitania de Goiás”.
Desde o século XVIII as Minas Gerais possuíam uma sociedade diversificada do ponto de vista social e produtivo, dotada de estruturas complexas, de mobilidade social, de vida cultural ativa, porém, tudo nos limites daquilo que era imposto à uma colônia. Havia, em verdade, nas Minas Gerais da época, uma sociedade urbana que se estruturava rapidamente.
A ocupação do território ocorreu na segunda metade do século XVII e já em 1711 seriam instituídas as primeiras vilas na região mineradora central, espalhando-se, tanto a população pelo território, quanto o avanço da semente povoadora, levando a que, nos meados do século XIX, praticamente todos os quadrantes da capitania possuíssem significativos núcleos urbanos, assim como o extremo noroeste, com Paracatu; o nordeste, com Minas Novas, na região do rio Fanado; o sul, com Campanha; o leste, com Mariana, numa sucessão de vilas refletindo tanto o deslocamento da atividade mineradora quanto as exigências de diversificação produtiva que ela trouxe consigo, fosse pela necessidade de abastecimento, fosse pelo próprio esgotamento das minas de ouro.


* Historiador e Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais