OS PRIMEIROS NÚCLEOS POPULACIONAIS NO SUL DAS MINAS GERAIS
O renomado historiador Ernani Silva Bruno mostra que uma das etapas de formação regional na região das Minas Gerais deu-se pela “internação do povoamento e ocupação das terras montanhosas, em seguida à descoberta das jazidas de ouro”. Segundo ele, os primeiros arraiais estabeleceram-se a partir de 1675, tendo a mineração, contudo, ativado os povoadores para “brenhas distantes, formando um foco de deserto entre a origem e as minas, o que retardou em muito o povoamento das zonas intermediárias”.
Outro importante historiador pátrio, Sérgio Buarque de Holanda, é incisivo ao afirmar que as bandeiras desempenharam papel fundamental na configuração geográfica do Brasil colonial, isto porque nos dois primeiros séculos a exploração restringiu-se ao latifúndio rural litorâneo. Segundo ele, para o colonizador não havia qualquer preocupação em fincar raízes nos sertões povoados pelos indígenas, pois povoamento para os colonizadores portugueses significava apenas criar feitorias na costa brasileira, permitindo um escoamento rápido de mercadorias de fácil e rápida extração. Não interessavam ao colonizador maiores esforços, uma vez que via o Brasil como um lugar de passagem e, por isso mesmo, provisório.
Lentamente, surgiram arraiais mais estáveis, onde os mercadores faziam suas compras das mãos de comerciantes que traziam mercadorias do Rio de Janeiro e de São Paulo. Assim, nessa leva, é provável que tenham nascidos muitos dos arraiais situados no sul do atual território mineiro.
A tradição também nos informa que por aquela região teria passado, em 1596, o bandeirante João Pereira de Souza Botafogo, sem, no entanto, ficar bem estabelecida a sua rota. Outros que se aventuraram, ainda no século XVII, foram Jerônimo da Veiga, em 1643; Sebastião Machado Fernandes Camacho, entre 1645 e 1648, em busca das minas de prata e o próprio Fernão Dias Paes, em 1674. Todos seguiram o rio Paraíba, atravessaram a Mantiqueira pela garganta do Embaú e se internaram no chamado “caminho geral do sertão”.
Saídos do planalto de Piratininga, tendo deixado Santos para trás, era crível (e posteriormente comprovado) que, aos poucos, às margens do rio Paraíba surgissem povoamentos, capelas e vilas, assim como Taubaté, Guaratinguetá, Pindamonhangaba e outras de menor expressão.
Assim, da Vila de São Francisco das Chagas de Taubaté partiram as primeiras bandeiras em direção às chamadas “minas de cataguás”. Passando pela região do porto de Guaipacaré (atual Lorena), transpunham a Mantiqueira e alcançavam o atual território mineiro. Desta forma, exatamente 36 das mais antigas cidades de Minas Gerais foram fundadas por paulistas, entre elas, Baependi, Aiuruoca e Campanha.
O esgotamento das minas e a crescente demanda por alimentos estimularam o recrudescimento da população, ainda que de forma tímida, para outras regiões, principalmente a Zona da Mata, propícia ao plantio do café, e o Sul, aproveitando-se sua geografia que havia servido à penetração dos bandeirantes que faiscaram ouro na região, ouro que, no dizer do padre Antonil, na maior parte das vezes “passa em pó e em moedas para os reinos estranhos e a menor é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil, salvo o que se gasta em cordões, arrecadas e outros brincos, dos quais se veem hoje carregadas as mulatas e as negras muito mais que as senhoras. Nem há pessoa prudente que não confesse haver Deus permitido que se descubra nas minas tanto ouro para castigar com ele ao Brasil, assim como está castigando no mesmo tempo tão abundante de guerras, aos europeus com o ferro”.
Em 1710, o primeiro governador da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, D. Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, criou o distrito das minas. Em 1714 seria assinado o termo de repartição das três primeiras comarcas de Minas: Rio das Mortes (São João Del Rey), Vila Rica (Ouro Preto) e Rio das Velhas (Sabará).
Nos primórdios do século XIX a ampliação do quadro da ocupação humana regional e da expansão dos seus habitantes deu ensejo à formação de novas povoações e ao crescimento de alguns antigos povoados ou arraiais que foram então, segundo dados registrados pelo Dr. Joaquim Ribeiro Costa, elevados à categoria de vila, entre 1760 e 1831.
A região sul de Minas Gerais começou a ser mais densamente povoada a partir da década de 1740, a oeste do rio Sapucaí. Senão vejamos: José Pires Monteiro descobriu ouro na margem esquerda do Sapucaí; em 1746, Francisco Martins Lustosa é nomeado guarda-mor regente das descobertas do ouro e da região do Sapucaí; em 1755, Pedro Franco Quaresma descobriu ouro na região de São Carlos do Jacuí e iniciou o seu povoamento.
Assim é que, nessas áreas, anotamos a passagem à condição de vila de três povoações: Campanha da Princesa da Beira, em 1798; Santa Maria do Baependi, em 1814 e Aiuruoca em 1834. Nessa região, a primeira formação administrativa local datou de 1798, quando da instalação da Vila da Campanha da Princesa da Beira, atual cidade de Campanha.Na próxima semana falaremos dessa cidade.
* Historiador e Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais
O renomado historiador Ernani Silva Bruno mostra que uma das etapas de formação regional na região das Minas Gerais deu-se pela “internação do povoamento e ocupação das terras montanhosas, em seguida à descoberta das jazidas de ouro”. Segundo ele, os primeiros arraiais estabeleceram-se a partir de 1675, tendo a mineração, contudo, ativado os povoadores para “brenhas distantes, formando um foco de deserto entre a origem e as minas, o que retardou em muito o povoamento das zonas intermediárias”.
Outro importante historiador pátrio, Sérgio Buarque de Holanda, é incisivo ao afirmar que as bandeiras desempenharam papel fundamental na configuração geográfica do Brasil colonial, isto porque nos dois primeiros séculos a exploração restringiu-se ao latifúndio rural litorâneo. Segundo ele, para o colonizador não havia qualquer preocupação em fincar raízes nos sertões povoados pelos indígenas, pois povoamento para os colonizadores portugueses significava apenas criar feitorias na costa brasileira, permitindo um escoamento rápido de mercadorias de fácil e rápida extração. Não interessavam ao colonizador maiores esforços, uma vez que via o Brasil como um lugar de passagem e, por isso mesmo, provisório.
Lentamente, surgiram arraiais mais estáveis, onde os mercadores faziam suas compras das mãos de comerciantes que traziam mercadorias do Rio de Janeiro e de São Paulo. Assim, nessa leva, é provável que tenham nascidos muitos dos arraiais situados no sul do atual território mineiro.
A tradição também nos informa que por aquela região teria passado, em 1596, o bandeirante João Pereira de Souza Botafogo, sem, no entanto, ficar bem estabelecida a sua rota. Outros que se aventuraram, ainda no século XVII, foram Jerônimo da Veiga, em 1643; Sebastião Machado Fernandes Camacho, entre 1645 e 1648, em busca das minas de prata e o próprio Fernão Dias Paes, em 1674. Todos seguiram o rio Paraíba, atravessaram a Mantiqueira pela garganta do Embaú e se internaram no chamado “caminho geral do sertão”.
Saídos do planalto de Piratininga, tendo deixado Santos para trás, era crível (e posteriormente comprovado) que, aos poucos, às margens do rio Paraíba surgissem povoamentos, capelas e vilas, assim como Taubaté, Guaratinguetá, Pindamonhangaba e outras de menor expressão.
Assim, da Vila de São Francisco das Chagas de Taubaté partiram as primeiras bandeiras em direção às chamadas “minas de cataguás”. Passando pela região do porto de Guaipacaré (atual Lorena), transpunham a Mantiqueira e alcançavam o atual território mineiro. Desta forma, exatamente 36 das mais antigas cidades de Minas Gerais foram fundadas por paulistas, entre elas, Baependi, Aiuruoca e Campanha.
O esgotamento das minas e a crescente demanda por alimentos estimularam o recrudescimento da população, ainda que de forma tímida, para outras regiões, principalmente a Zona da Mata, propícia ao plantio do café, e o Sul, aproveitando-se sua geografia que havia servido à penetração dos bandeirantes que faiscaram ouro na região, ouro que, no dizer do padre Antonil, na maior parte das vezes “passa em pó e em moedas para os reinos estranhos e a menor é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil, salvo o que se gasta em cordões, arrecadas e outros brincos, dos quais se veem hoje carregadas as mulatas e as negras muito mais que as senhoras. Nem há pessoa prudente que não confesse haver Deus permitido que se descubra nas minas tanto ouro para castigar com ele ao Brasil, assim como está castigando no mesmo tempo tão abundante de guerras, aos europeus com o ferro”.
Em 1710, o primeiro governador da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, D. Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, criou o distrito das minas. Em 1714 seria assinado o termo de repartição das três primeiras comarcas de Minas: Rio das Mortes (São João Del Rey), Vila Rica (Ouro Preto) e Rio das Velhas (Sabará).
Nos primórdios do século XIX a ampliação do quadro da ocupação humana regional e da expansão dos seus habitantes deu ensejo à formação de novas povoações e ao crescimento de alguns antigos povoados ou arraiais que foram então, segundo dados registrados pelo Dr. Joaquim Ribeiro Costa, elevados à categoria de vila, entre 1760 e 1831.
A região sul de Minas Gerais começou a ser mais densamente povoada a partir da década de 1740, a oeste do rio Sapucaí. Senão vejamos: José Pires Monteiro descobriu ouro na margem esquerda do Sapucaí; em 1746, Francisco Martins Lustosa é nomeado guarda-mor regente das descobertas do ouro e da região do Sapucaí; em 1755, Pedro Franco Quaresma descobriu ouro na região de São Carlos do Jacuí e iniciou o seu povoamento.
Assim é que, nessas áreas, anotamos a passagem à condição de vila de três povoações: Campanha da Princesa da Beira, em 1798; Santa Maria do Baependi, em 1814 e Aiuruoca em 1834. Nessa região, a primeira formação administrativa local datou de 1798, quando da instalação da Vila da Campanha da Princesa da Beira, atual cidade de Campanha.Na próxima semana falaremos dessa cidade.
* Historiador e Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais