Aiuruoca
Em 1694, por carta de Bento Pereira de Sousa Coutinho a D. João de Lencastre, então governador-geral do Brasil, está referenciada uma passagem de paulistas pelo rio Grande que tem suas cabeceiras próximas da serra de Aiuruoca. No Códice Costa Matoso está anotado que Aiuruoca quer dizer “casa de papagaios, aludindo a um penhasco redondo e elevado aos ares sobre um dos mais altos montes daquele lugar, em que os papagaios faziam morada naquele tempo em que os gentios habitavam aqueles lugares”.
O local foi descoberto entre 1705 e 1706 por João de Siqueira Afonso, bandeirante de Taubaté, que, segundo informações constantes do mesmo Códice Costa Matoso, teria se internado pelo “sertão que então era a parte do sul da estrada que vai para São Paulo, três dias de jornada afastado para aquela parte de São João del-Rey, nas cabeceiras do rio Grande”. Este bandeirante teria achado ouro, anteriormente, em 1704, na região de Guarapiranga (atual Piranga).
De acordo com o que consta da obra Instituição de Igrejas no Bispado de Mariana, do Cônego Trindade, a freguesia de Aiuruoca foi criada por ato episcopal de 1718, o que, em cotejo com outras informações constantes da Diocese de Campanha, afastam a possibilidade de a freguesia ter sido fundada somente em 1744 por Simão da Cunha Gago, este também descobridor de ouro na região.
Aiuruoca era, segundo apontado no já mencionado Códice Matoso, uma famosa freguesia, “com duas capelas suas filiais, assistidas de grande concurso de moradores e assistentes mineiros, com disposições de duráveis minas, por assim o prometerem as constituições de suas continuadas serras e ribeirões com faisqueiras de ouro”.
Simão da Cunha Gago, sargento-mor, nascido em São Paulo de Piratininga, casou-se em Mogi das Cruzes com Anna Pimenta de Abreu e foi o responsável pela primeira e mais antiga passagem pela Mantiqueira para alcançar o rio Paraíba do Sul, saindo de Aiuruoca e atravessando a atual garganta do Registro, nas Agulhas Negras, passando por terras de Itamonte.
No Arquivo Público Mineiro consta que no ano de 1726 Manoel de Sá obteve sesmaria no sertão que ia de Encruzilhada a Aiuruoca, sesmaria esta de meia légua de testada para a parte da mesma Aiuruoca, conforme consta do documento que se transcreve: “D. Lourenço de Almeida, do Conselho de Sua Majestade que Deus guarde, Governador da Capitania General das Minas, etc. Faço saber aos que esta minha carta de sesmaria virem que tendo respeito a me representar Manoel de Sá que há dois anos, sem contradição de pessoa alguma, está cultivando umas terras que até esse tempo nunca tiveram dono nem cultura no sertão que vai da Encruzilhada para a Aiuruoca e por não ter título delas as queria de sesmaria em distância de meia légua de testada para a parte da mesma Aiuruoca, rumo direito...Dada nesta Vila Rica a 20 de dezembro de 1726” (Livro nº 31, do Registro de Provisões, Patentes e Sesmarias da Nova Catalogação – 1728 – 1733).
Em 1754 foi elevada à categoria de julgado (sede judiciária da região) por José Antonio Freire de Andrada, governador interino da província.
Considerada a “morada dos papagaios” ou “refúgio das araras”, Aiuruoca viria a ser transformada em vila por Decreto de 14 de julho de 1834.
Pela Lei nº 6, de 20 de março de 1835, compreendia as paróquias da sede e do Turvo, além do distrito de Bom Jardim. Em 1840 foi criada a paróquia de Serranos. Em 1846 foi adquirido o distrito de Santa Rita do Jacutinga e em 1855, por força da Lei nº 728, de 18 de maio, foram criadas as paróquias de Livramento, Alagoa e Bocaina.
Em 1856 é elevado à condição de paróquia o distrito de São Vicente Ferrer, atual São Vicente de Minas, que fora, anteriormente, distrito de Francisco Sales.
Criado em 1857 o distrito de Passa Vinte. Em 1864 perdeu o distrito de Bom Jardim e em 1870 o de São Vicente Ferrer.
Município e cidade por força da Lei provincial nº 1510, de 20 de julho de 1868. Sua matriz é consagrada à Nossa Senhora da Conceição e data de 1717.
Pelo quadro da divisão administrativa de 1903 compreendia os distritos da sede, de Alagoa, Bocaina, Guapiara (atual Carvalhos), Livramento, Passa Vinte e Serranos.
Perdeu em 1923 Alagoa e, em 1938, Livramento (atual Liberdade), Bocaina (atual Bocaina de Minas) e Passa Vinte.
Em 1948 perdeu Carvalhos e em 1953 o distrito de Serranos.
Sua principal atividade é a agropecuária, com destacada produção leiteira.
* Historiador e Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais