Acho que a gente sabe que está feliz quando encontra paz. Quando coisas simples do nosso dia a dia ganham status de momentos de prazer. O gás chegou essa semana. E se existe uma combinação perfeita é mineiro e cozinha. Vou confessar uma coisa: eu nunca tive feijão de vó. Aliás, de vó mesmo, pouca coisa. Eis que, algum tempo depois da infância, descubro o feijão da Gi. Em uma casa com um quintal de casa de vó, cheio de árvore pra trepar e bastante terra, pra encardir a camiseta. O suco é de acerola apanhada do pé. Tudo bem que eu cresci em São Lourenço e somos o terceiro ou quarto menor município do país. Por que a pequenez? Somos um povo urbano. Sem zona rural. Ou seja, sem pé de acerola no quintal. Estou redescobrindo o prazer das coisas simples da vida. Juro que até vaga-lume no quarto tem seu charme. Pra mim, essas são as melhores coisas do mundo. Aliás, assisti a esse filme nessa semana. E que delícia de filme!
Quem assina a direção é ninguém menos que Lais Bodanzky, que estreou atrás das câmeras com o premiadíssimo Bicho de sete cabeças. A história é baseada na série “Mano”, de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto, que narra as aventuras de um garoto de 15 anos e a dura percepção da realidade. Descobrir que nem tudo é como a gente quer é bem frustrante. Talvez por isso que adolescente seja mal humorado. E falar sobre a adolescência é sempre um risco. Porque a maioria dos programas e filmes que trata do assunto, geralmente, também fala para esse público, e acaba caindo em lugares-comuns. Tudo muito decoradinho, plástico. E é aí que Lais brilha. Na verdade, As melhores coisas do mundo fala sobre a adolescência e não para os adolescentes. É um filme profundo, que encanta pela sutileza.
A primeira cena mostra Hermano – Mano, o protagonista - e seus amigos em um bordel paulistano, num dia desses. Seria a primeira vez do garoto. Só que parando pra pensar, ele se dá conta exatamente disso: é a sua primeira vez. Bordeis são muito comuns para um momento, definitiva e literalmente, único. A prostituta compreende a situação em que ele se encontra: como não fazer nada e ainda assim, sair de lá com a honra intacta? Gemidos. Produzidos pela prostituta enquanto folheia, vagarosamente, as páginas de uma revista qualquer. Simples. E genial. E já na sequência, o filme mostra a que veio. Os pais de Mano vão se separar. Até aí, nenhuma novidade. Os relacionamentos, hoje, são efêmeros. Acostume-se. O problema é outro. Outro mesmo. Não existe outra mulher. Mano descobre que seu pai é gay. Como ele mesmo define, “ter um pai gay é como ganhar na loteria, ao contrário”.
Denise Fraga hipnotiza como a mãe trocada por outro cara. Acostumados ao seu humor, o público é surpreendido com a veracidade do seu sofrimento. Qual o remédio para reencontrar a paz? Ovos. Estourados na parede. E muitas risadas. O elenco de rostinhos bonitos é outra surpresa agradável. Fiuk convence como o irmão mais velho, aspirante a Jim Morrison, com direito a tentativa de suicídio e textos quase fúnebres, que somente o sofrimento juvenil é capaz de produzir. Destaque para a cena pós-surra em que os irmãos se reconhecem na dor de pertencer ao clã dos diferentes, nesse caso, de opção sexual.
Caio Blat seduz qualquer um como o típico professor de física novinho e bonitinho. Daqueles que despertam os mais ardentes desejos no imaginário feminino. Atire a primeira pedra quem nunca se apaixonou por um professor. Mas o troféu de atuação brilhante fica mesmo é com Paulinho Vilhena. A barba lhe rendeu o charme dos homens mais velhos. E a função de professor de violão, psiquiatra e confidente do universo turbulento de Mano, torna sua participação no longa, mais que especial. Aliás, a maneira como a música interage com o filme é magistral. Mais uma vez, a dobradinha Lais Bodanzky-Arnaldo Antunes mostra-se muito eficiente. A trilha sonora, além do músico, conta com canções de bandas de garagem paulistanas, selecionadas especialmente para o filme, o que lhe acrescenta verossimilhança e originalidade.
O que me deixou mais feliz com o filme foi a percepção de que sim, existe luz no fim do túnel. Em uma sociedade adolescente eleitora do Tiririca e regida por Restart, os meninos cabeça de vento estão presentes na tela. Entretanto, é o rock’n roll clássico quem dá o tom da narrativa. Old scholl, man! Numa tentativa de solucionar seus problemas e de quebra, os de todos os outros alunos do colégio, Mano e sua turma valem-se da política como instrumento, através da chapa “Mundo Livre” para o grêmio estudantil. E Something, dos Beatles, para impressionar as menininhas. A princípio, como todos os outros meninos de sua idade, Mano suspira por Valéria, a menina mais bonita do colégio, para no final, compreender que seu par perfeito é Carol, sua melhor amiga e eterna confidente. A vida é assim mesmo. As melhores coisas do mundo estão do nosso lado. Falta só virar o pescoço um cadim pru lado.
Bom galera, por hoje é só. Ah! Não, vocês não estão loucos! A coluna agora passa a sair todos os sábados. E hoje, dia 20 de novembro, se comemora o Dia da Consciência Negra. Sinceramente, eu não gosto de pensar que precisamos de um dia oficial para uma consciência que deveria ser intrínseca a nós. De qualquer maneira, tenho muito respeito pela história dos negros brasileiros, que infelizmente, até hoje precisam conviver com a sombra do preconceito que muitos, burramente, carregam com si. Por isso, deixo um trecho da música Lavagem Cerebral, do Gabriel, O Pensador. É isso aí, galerinha! Quando o assunto é preconceito, “faça uma lavagem cerebral”!
http://www.youtube.com/watch?v=MDaB8muAANc
Não seja um imbecil
Não seja um ingnorante
Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante
O quê que importa se ele é nordestino e você não?
O quê que importa se ele é preto e você é branco?
Aliás branco no Brasil é difícil porque no Brasil somos todos mestiços
Se você discorda então olhe pra trás
Olhe a nossa história
Os nossos ancestrais
O Brasil colonial não era igual a Portugal
A raiz do meu país era multirracial
Tinha índio, branco, amarelo, preto
Nascemos da mistura então porque o preconceito?
Barrigas cresceram
O tempo passou...
Nasceram os brasileiros cada um com a sua cor
Uns com a pele clara outros mais escura
Mas todos viemos da mesma mistura
Então presta atenção nessa sua babaquice
Pois como eu já disse racismo é burrice
Dê a ignorância um ponto final:
Faça uma lavagem cerebral
Paola Tavares