domingo, 21 de novembro de 2010

COLUNA



Jabuticabas



"O mundo é um lugar perigoso de se viver,

não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim

por causa daqueles que observam e deixam o mal

acontecer." (Albert Einsten)

 
 
Época de jabuticaba... já reparou a relação de desafio que uma jabuticaba tem com você? Por acaso, já sentou-se à mesa, com um prato, uma tigela, uma bacia, um balde de jabuticabas, olhos nos olhos, e reparou que elas chegam a sussurrar: “vamos ver quem chega primeiro?” (Obs: você entendeu - é isso mesmo, esta é uma fala da jabuticaba). Pois então, temos a impressão de que somos desafiados para uma corrida, estamos em um embate, e todas as jabuticabas do mundo são insuficientes para matar a vontade, embora ao fim disso, saibamos bem como termina essa história.
Deixando (ao) de lado, por um momento, as jabuticabas, vem uma questão: o que houve com as denúncias de desvios, corrupção, ilegalidade, nepotismo, imoralidade, enriquecimento sem causa, propinas e afins, ventilados – por ambos os lados – no recente período eleitoral? Porque esvaziaram a discussão? Apurou-se tudo? Os responsáveis foram punidos, estão presos? As situações esclarecidas? O dinheiro desviado foi devolvido? É uma pena, mas a resposta é a de sempre: falta atitude, falta participação, falta cobrança, falta vergonha, sobra falta de vergonha na cara e “eu não vi isso”, “não, não me lembro”, “eu não sabia de nada”, e nada foi feito.
Já foi dito que o Brasil não é um país sério, mas o Brasil não é feito apenas destes pulhas (“Yes, nós temos banana”), o Brasil, Minas Gerais, sua cidade, sua rua, somos nós. Passado este período de anestesia, o assunto retorna durante a embriaguez, o torpor e a intoxicação de carnaval, com máscaras de corruptos, assassinos, fantasias de ladrões, dólares na cueca, nas meias, risadas a esmo, ferindo de morte a pouca consciência que ainda resta e perde seu foco. Depois, não há mais moral alguma para se retornar ao assunto, até o próximo golpe, e o ciclo reinicia-se e alimenta o sistema vicioso, tal qual um filme. E por falar em filme e sistemas viciosos: Tropa de Elite 2, você viu? Excelente filme, triste realidade. E o que fazemos então? Nada, “é só um filme”, e discute-se o roteiro, a atuação, e perde-se a chance de transformar o que é nefasto, mas real, em passado.
Sobra água (por enquanto) pra lavar as mãos que travaram uma batalha com as jabuticabas, mas falta sangue - que é mais forte que a água, como canta Gabriel O Pensador, na excelente coluna da Paola Tavares - para lutar por direitos, fazer valer a verdade, moralidade. Voltando ao início da conversa, já reparou que, talvez, uma jabuticaba tenha mais enfrentamento, mais atitude que muitos de nós? Yes, nós temos bananas, e jabuticabas também!

Carlos Rafael Ferreira, advogado.