terça-feira, 4 de janeiro de 2011

COLUNA



TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA - V



PASSA QUATRO



Segundo a tradição passa-quatrense, Jacques Felix, em 1646, Lourenço Castanho Taques, em 1662 e Fernão Dias Paes, em 1673, teriam sido os primeiros bandeirantes a estabelecerem um pouso na região como apoio às outras bandeiras.

O primeiro morador ali foi Domingos Rodrigues Correia, de acordo com o que consta dos registros do Arquivo Público Mineiro, alegando que “vivia com mulher e filhos e mais família”, tendo conseguido ali sesmaria com meia légua quadrada de terra, por carta de posse passada pelo Conde de Assumar, em 2 de outubro de 1733.

O arraial de Passa Quatro foi praticamente fundado em 1850, pelo capitão José Ribeiro Pereira, um dos heróis locais na Guerra do Paraguai e por Dª Anna da Motta Paes. Seu filho, Antonio Ribeiro Pereira, é considerado um dos grandes benfeitores da cidade, tendo sido o 1o presidente da Câmara de Vereadores quando ali instalado o município em 1888, que é todo ele recortado pelo rio Passa Quatro. Segundo o historiador Diogo de Vasconcelos, em sua “História Antiga das Minas Gerais”, a denominação anterior do rio era Passa Vinte, informação esta que nos dá sem muita convicção e que não conseguimos, em momento algum, estabelecer como verdadeira, uma vez que o rio Passa Vinte está na contra-vertente do rio Passa Quatro, seguindo em direção ao Paraíba do Sul.

De acordo com dados constantes da obra de Helena Carneiro, autora da obra “Memórias de Passa Quatro”, D. Anna é considerada a venerada fundadora de Passa Quatro. Era filha do capitão Domingos da Motta Paes e neta do barão Joaquim Felix da Motta Paes e D. Maria Pinto da Silva Motta. Casou-se com José Ribeiro Pereira e foram proprietários da Fazenda Taboão, que está, segundo a tradição oral, na origem do povoado.

Distrito do município de Baependi por Lei nº 693, de 24 de maio de 1854. Freguesia, por Lei nº 1493, de 13 de julho de 1868, foi incorporado ao município de Pouso Alto por Lei nº 2079, de 19 de dezembro de 1874. Município e vila por Lei nº 3657, de 1o de setembro de 1888. Em 1948, foram criados os distritos de Pé do Morro e Pinheirinhos.

A Estrada de Ferro Minas e Rio chegou ali no dia 14 de julho de 1884, em meio a grande festa popular, com a presença do imperador D. Pedro II, um ano após ter sido inaugurado o túnel da Mantiqueira, ligando São Paulo a Minas Gerais (5 de maio de 1883). O Dr. Heitor Antunes de Souza, ilustre magistrado e autor de “Esboço histórico dos municípios de Itanhandu e Itamonte” informa que, na ocasião, as estações existentes e que foram objeto do trajeto da comitiva imperial, eram Cruzeiro, Perequê, Passa Quatro, Capivari (hoje Itanhandu), Pouso Alto, Fazendinha (hoje Carmo), Soledade, Contendas (hoje Conceição do Rio Verde) e Três Corações, terminal daquela estrada de ferro.

Passa Quatro foi considerada estância hidromineral, por força do Decreto nº 1912, de 25 de novembro de 1941, dadas as propriedades medicinais de suas águas minerais.

Passa Quatro, ao final do século XVII, era o primeiro povoado que os bandeirantes se deparavam em sua rota para as minas do ouro. Seguiam o rio, que nasce no alto da Mantiqueira, aproximadamente na garganta do Embaú, que está a cerca de 1.200 metros de altitude. À sua direita, avistando-se de Cachoeira Paulista, descortinavam o Pico da Gomeira e, à esquerda, o Itaguaré e um pouco mais a oeste, o Pico do Marins. A garganta do Embaú faz exatamente a divisa dos atuais estados de Minas Gerais e São Paulo, tal qual a descreveu em 1822 o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire.

Correndo pelo centro da cidade, a rua Tenente Viotti é o prolongamento do antigo caminho que vem bordejando o Passa Quatro. Segundo a tradição que pudemos colher na cidade, os bandeirantes, após a descida pelo Embaú, deveriam passar quatro vezes pelo mesmo rio para seguirem em direção às minas, daí surgindo a denominação do povoado ali erguido.

Sua principal atividade, além de grande produtor de cereais, é sem dúvida o turismo ecológico e a procura constante por suas fontes de águas minerais.



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* Historiador e sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.