Itamonte – 2ª parte
Vejamos outra hipótese para a gênese de Itamonte: segundo dados constantes no Arquivo Público Mineiro, em 1780 Francisco Antonio Rebelo teria sido comissionado pelo governador do Rio de Janeiro para examinar algumas minas de ouro existentes na região de Alagoa e de Aiuruoca, retornando com a informação de que na região já existia uma picada por onde se comunicavam os sertanejos com os habitantes de Paraíba Nova, também conhecida como Nossa Senhora da Conceição de Campo Alegre, onde se estabeleceria, mais tarde, a Vila de Resende.
Sobre essa passagem, o ilustre historiador fluminense, desembargador Antonio Izaías Abreu, em sua obra “Municípios e topônimos fluminenses”, observa com relação aos primórdios de Resende, que a colonização da região se deu em 1744, ocasião em que, “procedente de Aiuruoca, após romper matas do tenebroso e ínvio sertão em demanda dos rios auríferos da região de Itatiaia, na serra da Mantiqueira, e procurando também trazer a civilização aos gentios, conforme prometera ao governador D. Luiz de Mascarenhas, ali foram ter Simão da Cunha Gago e um grupo de aventureiros que o acompanhou, entre eles o padre Felipe Teixeira Pinto, estabelecendo-se à margem esquerda do rio Paraíba e deram ao lugar o nome de Campo Alegre da Paraíba Nova”.
Outro importante historiador fluminense, o monsenhor Pizarro e Araújo – autor das “Memórias históricas do Rio de Janeiro -”, anotou que o coronel Simão da Cunha Gago teria, para encobrir a busca ilegal de ouro na região de Aiuruoca, obtido licença do governador D. Luis de Mascarenhas “para entrar em conquista do gentio, assim rompendo afoitamente os matos, atravessando rios e chegando às margens do conhecido com o nome de Paraíba, em fins do ano de 1744, ou já no princípio do seguinte”. É significativo anotar que o monsenhor obteve essas informações em 1800, quando visitou a região de Resende, em conversas com Máximo Barbosa (à época com 87 anos de idade), que fora companheiro de Simão da Cunha Gago na suas incursões pela região.
Itamar Bopp, ilustre historiador resendense, mostra em uma de suas obras – “Notas genealógicas” - que em 21 de agosto de 1775 o padre Henrique José de Carvalho, então vigário da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Campo Alegre (atual Resende), “solicitava às autoridades paulistanas autorização e apoio para construir uma estrada que, partindo de Campo Alegre, fosse a Aiuruoca, aproveitando-se, por certo, o atalho por onde descera, em 1744, o coronel Simão da Cunha Gago para estabelecer-se, com fazenda, na Paraíba Nova”.
O padre justificava, naquela oportunidade, seu pedido argumentando que “o caminho que daqui seguia para a Aiuruoca tem distância de nove léguas medidas pelos seus abertores (sic) até o arraial da Alagoa o mais populoso do continente, e isto com o seu primeiro risco, que se fosse atalhado ficava reduzido a muito menos distância...o motivo da sua tapagem foi meramente a emulação dos moradores do caminho novo das Minas, que introduziram ao Sr. José Antonio que por ele se faziam os extravios do ouro, e diamantes, quando é certo que nunca se apanhou sujeito algum compreendido em semelhante delito”.
Assim, tudo leva a crer que o caminho que hoje encontramos ligando Itamonte a Itatiaia, pelas Agulhas Negras, já estava, senão totalmente aberto e transitável, pelo menos com uma pré-formação de estrada por volta do segundo quartel do século XVIII.
Com o arraial de Campo Alegre, rasgava-se uma terceira brecha na floresta das Minas Gerais para o Rio de Janeiro, o que viabilizava, sobremodo, o contrabando do ouro, sem passar pelos registros existentes, tanto no Embaú quanto no Paraibuna. Aliás, uma Ordem de 9 de abril de 1745 proibiu o uso do caminho que ia das minas de Aiuruoca para o Rio de Janeiro, que fora usado também por Antonio Gonçalves de Carvalho, sendo tal ordem reforçada, adiante, proibindo-se a abertura de novas picadas na região – Aviso de 22 de janeiro de 1756, que ratificava as determinações da Ordem Régia de 26 de setembro de 1733.
Porém, anota ainda o monsenhor Pizarro e Araújo, que em 4 de dezembro de 1816, uma determinação real, “em atenção à cultura das terras, comércio pelo interior, e navegação dos rios, ordenou a abertura de muitas e diferentes estradas”, inclusive na região aqui indicada.
___________________
* Historiador e sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais