sábado, 19 de fevereiro de 2011

COLUNA

Peço licença aos amigos e leitores da coluna. Vou quebrar o protocolo.

Uma semana atípica que teve início com o adeus de um fenômeno. Não de UM, mas DO fenômeno. O mundo parou para assistir a pendura de chuteiras de Ronaldo. Uma cidadezinha do interior mineiro também parou essa semana. E também para um adeus.

A morte é, além de tudo, a certeza da fragilidade da vida. A gente nasce sabendo que vai morrer. É a única certeza que temos. Mas então, se isso já nos é fato, porque quando acontece, a gente fica perdido, petrificado, anestesiado, fora do ar, sem saber o que fazer, o que falar? A morte é a presença da ausência. É a certeza da falta, é a angústia da saudade, é o medo da solidão. A morte talvez seja o expoente de dor maior pelo qual passamos por toda a vida. E não importa a maneira que aconteça, a gente nunca está preparado.

Nessa terça-feira, 15 de fevereiro, comecei o dia normalmente, como todos os outros. Acordei, liguei o som, tomei banho e fui trabalhar. O dia estava quente, mas ainda podia reconhecer algumas nuvens carregadas. Poucas, mas carregadas. Cheguei à agência às 9 horas, como sempre. Liguei meu computador e fui tomar café, enquanto conectava o MSN. E, pela segunda vez, em menos de dois meses, as notícias que me chegavam pela tela do PC não eram boas. E foram piorando, piorando, piorando...Hoje, quando fecho os olhos, consigo lembrar perfeitamente do momento que meu peito explodiu e chorei. Como há muito tempo não chorava.

A história é bem triste. Por respeito às famílias, não vou recontá-la aqui. Caso não saiba do que se trata, segue link da matéria da EPTV:


Na terça-feira, antes de ir ao velório, continuei lendo o livro que ganhei de aniversário da Naná e do Kaique, depois de muito “caraduramente”, ter lhes pedido. É a história da senadora colombiana Ingrid Betancourt, que ficou refém das Farc por sete anos, presa no meio da selva de seu país. Ao contar a história de Beto, um dos guardas responsáveis pelo seu cativeiro, que lhe ensinou a tecer, Ingrid faz um comentário muito perspicaz. E verdadeiro: “Terminando o cinto que ele me ajudara a começar, perdida em minhas meditações, agradeci no silêncio de meus pensamentos o tempo que ele passara a conversar comigo, mais que a arte que me transmitira, pois descobri que o que os outros têm de mais precioso a nos oferecer é o tempo, ao qual a morte dá seu valor.”

A morte sempre me fez questionar. Questionar a mim, o tempo, a vida...meditar sobre o que estamos fazendo, o direcionamento que estamos dando aos nosso passos, e sobretudo, a maneira como aproveitamos nossa existência. Conversando com minha mãe, chegamos à mesma conclusão: é preciso parar de viver pro amanhã e começar a nos dedicar ao agora, ao hoje. Sem essa história de “roupa de domingo”, aparelho de jantar para datas especiais. Não existe ocasião mais especial que este momento que vivemos. Não é a toa que se chama presente...Envolta nesses pensamentos, sobre os últimos seis meses, em que, por várias vezes, o status de meus amigos trazia a mensagem “LUTO”. Em menos de seis meses, perdemos amigos, companheiros, irmãos. Por isso, a coluna de hoje é especial. Escrevo em homenagem a todos aqueles que se foram nesse tempo e, em solidariedade a todos os outros, nós, que temos a dura missão de continuar. E continuaremos. Trabalhando, estudando, amando, vivendo. E, sobretudo, lembrando.

Assim, peço a você que lê essas Entrelinhas, que pare por um instante. Mentalize vibrações positivas e luz. Muita luz no caminho desses que tão cedo, nos deixaram: Daniel (Porco), Alexandre (da Amanda), Flavinho (Big), Catarina (do Wagner), Tuca (do Doguinha), Bruninho (do Dré) e, agora, Tulio, Tulinho e Camila.


A morte nos tira do ar por alguns instantes. É preciso que a vida siga. Com um pouco menos de brilho. Um pouco menos de cor. E com mais saudade.