AS TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA IX
Itamonte – 3ª parte
Waldemar Barbosa, em sua obra “Dicionário histórico-geográfico das Minas Gerais, anota que em 1818 um abaixo-assinado dos moradores da região pedia licença para construir um atalho da capela de Santana do Capivari ao Picu, a fim de facilitar a comunicação com o Rio de Janeiro. Os signatários daquele pedido, datado de 2 de dezembro, liderados pelo procurador João José de Miranda, prontificavam-se a construir um quartel que servisse para o Registro do Picu. A título de ilustração, transcrevemos trechos daquele pedido que encontrei na Biblioteca Municipal de Itamonte em estudo que, infelizmente, ainda não se conseguiu identificar o autor: “...onde se pode dirigir a estrada mais reta e por melhor terreno, poupando-se cinco dias de marcha às tropas, que daí sobem em número de mais de três mil. Esta diferença é assaz sensível, e de suma importância e interessa aos Suplicantes e aos moradores desta Corte pela abundância que de duplicadas viagens que assim podem fazer, vêm necessariamente a todos. Por isso recorrem os Suplicantes a Vossa Majestade a implorar de seus paternais cuidados licença para, à sua custa, abrirem a nova estrada da Capela do Capivari ao Picu no alto da Mantiqueira, e daí atravessando em rumo direto ao Paraíba vir buscar a estrada abaixo da Vila das Arêas...oferecendo-se demais os Suplicantes para fazerem o aquartelamento para o Registro, que mudando-se para o dito Picu ficam não só bem fiscalizados os Direitos Reais, mas até hão de ter considerável aumento...”
A Câmara de São João Del-Rey, a quem estavam subordinados os interesses da localidade, negou essa pretensão, parecendo ter total desconhecimento da Carta Régia datada de 1816, que permitia a abertura de novos caminhos não só em Minas Gerais como em todo o Brasil.
O atalho, de qualquer forma, foi aberto e referendado pela Ordem Régia de 23 de março de 1819. Da margem do Capivari, logo adiante de Pouso Alto, esse atalho dirigia-se diretamente para a Mantiqueira, atravessava a serra, ao lado do Picu, encontrando a picada aberta por Simão da Cunha Gago e Antonio Gonçalves, e descia do outro lado atingindo o rio Paraíba do Sul.
Surgiu, assim, na região, o quartel do registro, o pouso e dele o nome primitivo de Pouso do Picu. Diante disto, podemos considerar que da mesma forma que o antigo Registro do Capivari, existente nas terras da atual Itanhandu, fora deslocado para uma posição mais estratégica, no terceiro quartel do século XVIII para o Embaú, também o Registro do Picu teria sido deslocado, já no século XX, para uma posição mais elevada, especificamente na atual garganta do Registro, exatamente na divisa entre as cidades de Itamonte e Itatiaia (emancipada de Resende em 1988).
Pouco tempo depois, seria erguida uma capela em louvor a São José, ficando o arraial ali constituído conhecido como São José do Picu, referendado que fora pela Lei nº 138, de 3 de maio de 1839.
Importa assinalar que a história de Itamonte confunde-se, em muitas ocasiões, com as histórias de Baependi, Itanhandu e, principalmente, Pouso Alto, daí porque as referências que são feitas a essas localidades, consideradas fundamentalmente importantes na formação de Itamonte.
De início, verificamos que a Lei nº 2079, de 19 de dezembro de 1874 elevou à condição de município o distrito de Pouso Alto, incorporando a ele a paróquia de São José do Picu, que vinha a ser, anteriormente, paróquia de Baependi por força da transferência da sede de Capivari, através da Lei nº 1659, de 14 de novembro de 1870.
A atual cidade de Pouso Alto denominava-se paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Pouso Alto por força do Alvará de 16 de janeiro de 1752 e compreendia as paróquias de São José do Picu, Passa Quatro e o distrito de Virgínia e, em 1903, incorporaria o distrito de Santana do Capivari, que já era curato da paróquia de Pouso Alto e fora elevado à paróquia por Lei nº 138, de 3 de maio de 1839.
A sede da embrionária Itamonte foi transferida para as terras de São José do Picu, por Lei nº 1659, de 14 de setembro de 1870, sendo digno de nota aqui o nome do major Francisco Oliveira Costa, grande impulsionador do distrito então criado.
A paróquia foi novamente criada por força de lei, a de nº 2544, de 6 de dezembro de 1879. A matriz de São José data de 4 de novembro de 1880.
A comitiva imperial, em suas andanças pelo sul de Minas, passaria por Itamonte rumando pelo já transitável caminho que ligava as províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, atravessando a atual garganta do Registro. O imperador teria sido recebido com grandes honras e hospedado no alto da serra, assistindo missa, posteriormente, na capela consagrada a São Francisco de Assis.
Foi, posteriormente, vinculada a Pouso Alto e transformada em distrito pela Lei nº 843, de 7 de setembro de 1923, que criou, inclusive, outros 35 novos municípios e 97 distritos, sendo um deles o de São José do Itamonte, incorporando-se ao novel município de Itanhandu.
Em 17 de dezembro de 1938 veio à luz o decreto-lei estadual nº 148, considerado o mais significativo ordenamento em termos de normatização das divisões administrativas na criação dos municípios mineiros a partir dali. Por esse decreto nasceu o município e cidade de Itamonte com 2 distritos: o da sede e o de Alagoa, sendo que este último seria transformado em município pela Lei nº 2764, de 30 de dezembro de 1962.
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* Historiador e sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais