terça-feira, 8 de março de 2011

COLUNA



A RECUPERAÇÃO DO PATRIMÔNIO COMUNITÁRIO


Ao longo dos tempos e nos mais diversos segmentos da sociedade sempre houve preocupação com a compreensão do passado e sua preservação. Não uma preocupação com a manutenção de características de uma época, mas a manutenção e a preservação de testemunhos materiais que pudessem servir como elementos geradores de reflexão e análise. Assim, preservar esses testemunhos do passado seria, essencialmente, dar-lhes condições de continuarem a ser utilizados no presente em toda sua plenitude.
Contudo, os avanços tecnológicos, via de regra, tornam obsoletos ou economicamente inviáveis esses testemunhos, se não todos, pelo menos uma grande parte deles. Observamos uma renovação quase que constante em todos os níveis do conhecimento, com até mesmo louváveis situações em que todo um contexto pode ser modificado da noite para o dia. E um exemplo que pode bem definir esse pensamento é o caso de aparelhos eletrônicos, de aparelhos celulares, de computadores, enfim, uma gama variada e grande de inovações que, na maior parte das vezes, vêm na esteira da ideia de melhorar a velocidade no acesso à informação, o maior rendimento a ser alcançado por este ou aquele equipamento, etc.
Se olharmos por este prisma, veremos então que aqueles testemunhos tendem a sucumbir num completo abandono, esquecidos ou simplesmente destruídos. Diante disso, a sociedade, mormente seus organismos preservacionistas, torna a empregar um grande esforço para salvar aquilo que abandonara há alguns anos atrás, correndo o risco, pelo tempo decorrido, de encontrar obstáculos em seus propósitos dado, na maior parte das vezes, o declínio de qualidade, tanto orgânico quanto de uso, que se estabeleceu naqueles testemunhos e que às vezes torna difícil a sua recuperação.
Assim, inicia-se um movimento de preservação, que representa um esforço da administração visando despertar o interesse e obter recursos junto às autoridades públicas para a consecução de seus projetos. Os próprios públicos, por exemplo, que se conseguem salvar devem, então, fazer jus a esse esforço e assumir a sua importância, qual seja, servir às funções às quais estavam destinados, atingindo, novamente, o caráter de patrimônio cultural de sua comunidade. É o caso do Museu de Caxambu que teve seu prédio recuperado por esforço da administração municipal e que pretende retomar suas atividades ainda este ano de 2011.
Vejamos, agora, o que dá suporte a um prédio de museu: o objeto museológico. Seu reconhecimento como peça de museu lhe confere, quase sempre, um status significativo, pelo valor cultural que ele antes não possuía isoladamente, nas mãos desse ou daquele colecionador ou de uma família que pretendia preservar objetos de cunho pessoal. Muitas vezes, pode ser peça de uma engrenagem que alimenta o mercado privado de antiguidades, contribuindo, infelizmente para a memória da sociedade, para que importantes objetos sejam retirados de seu contexto original e levados para comerciantes de antiguidades.
Esse papel de conhecimento do acervo museológico, que deve ser resgatado e conservado para fins de exposição, é uma constante preocupação dos museus, procurando colher amostras de material que digam respeito à comunidade que lhes dá ânimo.  Sem dúvida que a interrupção dessa cadeia não é tarefa fácil e nem pode ser realizada escoteiramente. Alguns passos significativos, contudo, têm sido dados e o mais notado é a troca de “objeto de valor cultural” por “produtos da ação cultural humana”, na definição oficial de “museu” dada pelo Conselho Internacional de Museus – ICOM, o que amplia sobremodo o campo de atuação da instituição museológica.
Resgatar os valores do passado, a significância que um dia esses testemunhos deram para a história do município de Caxambu, através da revitalização do seu museu, deve ser uma preocupação ampla, passando, necessariamente, por seus munícipes, alvo constante e final das ações que se pretendem retomadas.

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* Historiador e sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.