terça-feira, 29 de março de 2011

COLUNA

A moderna expressão dos Museus

Paulo Paranhos*

A inserção da pesquisa junto às atividades dos museus é tema de abrangência vasta e que nos remete, preliminarmente, a algumas considerações de caráter histórico. Durante décadas o museu era tido apenas como um repositório das ações pretéritas de um povo, contando histórias pontuais e servindo de apoio à memória deste ou daquele evento. Museu era sinônimo de passado, um local onde se cultuavam heróis e fatos que serviam a esta ou aquela tendência sócio-política; em alguns, timidamente, mostravam-se os avanços tecnológicos da humanidade, porém tudo exposto e contado de uma maneira muito estanque. Isso era ruim? Serviu para desacreditar a instituição como guardiã da memória de uma sociedade? Evidentemente que não, pois naquele contexto temporal, mesmo que a informação fosse direcionada desta ou daquela forma, ainda assim era uma informação. O uso que dela se faria ficaria por conta do usuário, quer fosse uma instituição escolar quer fosse um indivíduo isoladamente.

A partir da década de 1970 acontece uma grande revolução no modo de pensar museu: as diversas intervenções de especialistas no tema, em congressos próprios como o de Santiago, o de Quebec, o de Caracas e tantos outros, modificaram a rota que se pensava apenas de mão única, ou seja, o museu com padrões definidos de comportamento ditando à sociedade aquilo que lhe interessava mostrar; com essas intervenções alterou-se o curso até então previsto e novas funções foram destinadas aos museus, mormente aquelas planejadas para servir à comunidade como um difusor de conhecimento que a própria comunidade produziu ao longo do tempo.

A experiência de ecomuseus, de museus de bairros e notadamente os museus de ciências, com a interação indivíduo-informação (através de qualquer forma de suporte) tornou-se uma realidade notável e deu impulso a incrementos dos mais diversos segmentos da sociedade para a manutenção, valorização e, em muitos casos, a revitalização dessas casas de cultura.

Assim, o Museu como espaço público de debate torna-se a essência atual de uma instituição museológica que pretenda ser, efetivamente, um dos agentes de transformação do pensamento de sua comunidade. No entanto, os profissionais da área devem atentar sempre para o fato de que o museu não é um agente de transformação único, mas um canal que subsidiará informações significativas para o aproveitamento da educação formal e, por via de consequência, da própria educação informal, através das ações que desenvolva na sua comunidade com o fim último de resgatar valores culturais materiais e imateriais que essa comunidade produziu e produz. Desta forma, será um sustentáculo formidável para que essa comunidade possa expressar suas ideias enquanto partícipes do processo de recuperação de sua própria identidade, do resgate de sua memória, tornando-os elementos vivos que um dia também serão incluídos na grande memória regional que se há de contar.

Dialogar com a sociedade - e aqui enfatizamos uma maior participação do universo escolar -, é um dever que hoje se sobrepõe aos princípios primeiros da atividade museológica. Antes mesmo de se apresentar como um guardião das tradições de uma dada sociedade, o museu deverá estabelecer mecanismos suficientes de apropriação daquilo que a sua comunidade pensa e quer. É uma realidade inconteste e que, se aplicada na maior parte das entidades museológicas, poderá melhorar o diálogo entre a cultura e o seu produtor que, mesmo inconscientemente, deseja ver preservado ad perpetuam rei memoriam esse patrimônio cultural.

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* Museólogo