quarta-feira, 30 de março de 2011

O ZÉ DO BRASIL


Salve, salve a todos os leitores e leitoras! Há semanas que ficamos rastreando os veículos de comunicação, ouvindo comentários em rádios, vigiando os sites de notícia para servir como uma espécie de triagem para o leitor. Cheguei a pensar em escrever a lambança que o STF proporcionou a população brasileira, quando promulgou que políticos de ficha suja só não poderiam ser punidos a partir de 2012, mas este assunto deixou de ser o protagonista, quando o céu festejou a chegada do seu nobre e novo hóspede: o ex-vice-presidente da Republica José Alencar.

De todo o histórico que vi e li sobre José Alencar, talvez a mancha negativa que o acompanhe foi a sua negação ao reconhecimento da paternidade de uma filha em idade mais avançada, apesar da comprovação realizada.

Tirando este rastro ruim, José Alencar foi o Zé do Brasil, guerreiro de uma luta incansável contra o Câncer; driblador, pela sua habilidade de enganar tantas vezes este adversário; esperançoso, uma vez que tinha a palavra fé em seus discursos; afetivo, porque sabia tratar aqueles que o circunvizinhavam com toda a ‘mineiridade’; firme em suas convicções políticas a ponto de criticar por diversas vezes a taxa de juros que o Brasil ainda possui e que inibe o desenvolvimento do País; crente, sua crença em Deus era tão vital que seu relato de maior destaque chamou a atenção do povo brasileiro: “Se Deus achar que tem que me levar, ele não precisa do Câncer para isto...” Alencar era empreendedor, tornou a Coteminas uma das maiores empresas do mundo no setor têxtil; Alencar foi avalizador, quando aceitou ser o vice de Lula e o impulsionou para a primeira vitória em 2002, quando o petista vinha de três derrotas; o ex-vice-presidente foi autêntico, visto que não media palavras para criticar o próprio Governo, mas suas palavras não soavam como afronto e sim como uma crítica construtiva. Este homem foi corajoso porque repetia o nome da doença repetidas vezes como se estivesse rezando para que ela (Câncer) não sofresse com mais uma derrota, afinal, o Zé brasileiro derrotou a doença por 17 vezes, desde que descobriu sua enfermidade. O Zé se mostrou autêntico e justo, ele relatou que lamentava que outros brasileiros com o mesmo problema não tivessem o mesmo nível de tratamento avançado contra a doença.

Alencar traduziu gratidão em suas palavras no aniversário de São Paulo quando recebeu a maior honraria do município. Liberado pelos médicos para aquela homenagem, o homem já pálido de palavras firmes lembrou que se Deus o levasse naquele momento seria justo, porque sua situação era considerada ótima por tantos brasileiros estarem orando e torcendo por ele. Enquanto muitos choram, se desesperam, se lamentam, se entristecem com esta temida doença, Alencar entrava no hospital e saía dele com um sorriso de quem dizia: “Vocês acham que não iam me ver de novo”? A fala mansa, o jeito mineiro, a audácia nos negócios, a cortesia com os companheiros, a lição de vida e que lição! Poucos se comportariam com tanta tranqüilidade, serenidade e bom humor diante de uma situação que beirava à morte. Um empresário de veia política aguçada que soube emprestar seu nome a um verdadeiro exemplo de vida.

Alencar, quando em vida, relatei seu nome por diversas vezes em meus textos, cheguei a dizer que o senhor já fazia hora extra na Terra diante de tantas peripécias com a morte, mas cheguei a uma franca conclusão. A morte não o venceu! O senhor apenas pediu licença à vida! Só disse assim: “Vou deixar você vencer pelo menos uma vez, doutora morte”! O senhor não se foi! Alencar não perdeu nenhuma batalha! Quem perde é o Brasil que fica mais uma vez carente da dignidade de um homem público, que está cada vez mais escassa. E o céu? O céu está em festa! (estou emocionado)



Ricardo Gandra (* Jornalista)