Chegou-me às mãos a obra “Princesa Isabel do Brasil”, do brasilianista Roderick Barman, professor da University of British Columbia, que, em síntese, explora em seu livro uma gama variada de cartas trocadas pela princesa (a foto é a da capa do livro) com personalidades as mais diversas do Império, além de fazer uma análise de D. Isabel - a sua vida enquanto mulher e o seu papel na sociedade brasileira -, e, por fim, usar, segundo mesmo disse, a vida da princesa como veículo para compreensão da reciprocidade entre gênero e poder no século XIX. Confesso que não assimilei bem esta última intenção. No entanto, o que mais me chamou a atenção – e passa a ser o cerne deste artigo – foi a afirmação do autor (segundo ele, a obra é fruto de pesquisas de mais de 30 anos em diversas instituições brasileiras) de que as águas virtuosas de Caxambu não alteraram a causa da infertilidade da princesa.
As diversas biografias sobre D. Isabel e seu marido – o Conde d’Eu – mostram que ambos queriam muito ter um filho, debalde o seu esforço em engravidar à base de tratamento com fármacos receitados pelos mais diversos especialistas da Corte. Foi através do conhecimento do Dr. Luiz da Cunha Feijó, visconde de Santa Isabel, é que se inclinaram a passar quatro meses nas estâncias hídricas do sul de Minas Gerais, sugerindo aquele ilustre médico que os minerais existentes em determinados tipos de água poderiam curar vários tipos de doenças, inclusive a forte anemia que consumia a princesa. Contudo, segundo o autor em questão, nem as águas virtuosas de Campanha, nem as de Lambari, nem as de Caxambu, alteraram o estado da princesa.
É verdade que não concebeu imediatamente, mas não restam dúvidas de que alguma coisa se modificou no organismo da princesa, mesmo porque por sua devoção à Santa Isabel da Hungria fez criar uma subscrição de fundos necessários para a construção de uma capela em louvor à santa em um promontório do povoado, tendo lançado a pedra fundamental em 22 de novembro de 1868, dando mostras de esperar um milagre com relação ao mal que a afligia: a anemia que a tornava infértil.
É deveras instigante o tema, considerando-se que o primeiro rebento da princesa veio à luz em 15 de outubro de 1875: D. Pedro de Alcântara, príncipe do Grão-Pará, nasceu 7 anos após a princesa estar em terras caxambuenses. Então, para muitos surgem indagações sem respostas: o tratamento foi continuado? As águas tiveram importância na gravidez da princesa? Entendo que sim, pois a verdade é que a gravidez aconteceu, não imediatamente, mas aconteceu.
As águas de Caxambu são realmente extraordinárias, curativas, mas nos parece que o mais importante, com relação a D. Isabel, é o que foi e representou para o Brasil. A imagem de “redentora” é o que realmente importa e o dia 13 de maio está aí para nos lembrar do seu gesto humanitário.
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* Historiador