Num tempo em que a depressão tornou-se o grande mal da humanidade, eis uma das possíveis curas: escrever. Quando a gente escreve, faz terapia com a gente mesmo. Põe no papel aquilo que nos aflige, que nos maltrata, que nos tira o sono. E, de repente, como num passe de mágica, consegue ler “nessas mal traçadas linhas” um pouco do nosso problema. Ou simplesmente, tiramos um peso das costas, como no divã de um analista. Acredito que a solução para muitas coisas seja papel e caneta. Ou melhor, em tempos tecnológicos, teclado configurado e tela do note...
Sentiram minha falta? Ou nem perceberam que a coluna não estava mais no ar? Bom, para os meus sempre queridos sete leitores, boas notícias! Eu voltei, e agora é pra ficar, porque aqui, definitivamente, é o meu lugar! Com o fim (aleluia, irmãos!) da faculdade, um ciclo se fechou. Lembro que disse isso pra vocês, aqui mesmo, nas Entrelinhas. E o que é a vida, senão uma sucessão de ciclos? Hoje, está frio. Mas posso dormir tranqüila sabendo que depois do inverno, o tempo se aquece e as flores brotam, colorindo a paisagem de todo o país. É a primavera nos dando o ar da graça, sempre aos fins de setembro. Pois se um ciclo se encerra, um novo sempre nasce. Foi o que o aconteceu. Deixei o ar bucólico sul mineiro e vim parar na Zona...da Mata, minha gente! Agora, escrevo de Juiz de Fora, capital mineira do Rio de Janeiro. No pouco tempo que estou aqui, ganhei um notebook, perdi meu celular, dividi uma garrafa de café com leite com o trocador do ônibus, tomei banho gelado, me maquiei a luz de velas, instalei chuveiro e troquei resistência, descobri um casal de irmãos e uma Vovó Lu, que tornam meus dias por aqui sempre muito adaptativos...algumas vezes, no começo, batia uma sensação de “o que é que estou fazendo aqui?”...porque as coisas nem sempre saem como queremos. Ingenuidade é pensar que toda mudança é fácil. Aliás, se fosse fácil, não teria graça...e, para todos esses momentos de loucura, anarquia e preocupação, ainda não descobriram nada como uma oração...
Um grupo de amigos se reúne na casa centenária da avó de um deles pro que seria a gravação de uma festa. Uma festa sem pompa nem glória. Quando estamos envoltos de pessoas que amamos, tudo vira festa. Não existe maior celebração do que o amor. Seis minutos de um plano sequência muito bem feito, cronometrado e organizado. Depois de sete tentativas, nasceu o clipe de “Oração”, música de Leo Fressato, interpretada brilhantemente pel’A Banda Mais Bonita da Cidade. Vinicius Nisi, um dos cinco integrantes da Banda, tendo consciência do bom trabalho desenvolvido, postou no Facebook de alguns amigos o vídeo. Sem maiores pretensões. Somente compartilhar com outras pessoas queridas o resultado de um fim de semana em Rio Negro, fronteira de Paraná e Santa Catarina. Entretanto, a internet nos dias de hoje é a pólvora da sociedade. E tudo que chama a atenção na rede se espalha numa rapidez estratosférica. Da hora do almoço, momento em que postou o vídeo, até o fim da tarde, “Oração” já tinha invadido sites de relacionamento e compartilhamento, símbolo máximo de movimento recente, os “Novos Curitibanos”. Há pouco também, a cena independente brasileira rendeu-se ao que imprensa e crítica chamaram de “Novos Paulistas”, movimento que conta com artistas brilhantes, mas ainda em ascensão, como Thiago Pethit e Tulipa Ruiz. Agora, o movimento se expande e chega ao sul do país, precisamente na capital paranaense. Mas A Banda Mais Bonita da Cidade é cosmopolita. Cada um do quinteto é de um lugar. E se somarmos os amigos do clipe, o mapa geográfico fica ainda maior.
A Banda existe há cerca de dois anos, mas seus integrantes, na verdade, compõem outros trabalhos. Os músicos Diogo Plaça, Vinicius Nisi, Luís Bourscheidt e Rodrigo Lemos se conheceram na Universidade Federal do Paraná, onde formaram em música ou produção musical. A eles, somou-se a voz doce e melódica de Uyara Torrente. Muito se falou sobre “Oração”, o vídeo que instaurou a palavra “sucesso” no vocabulário dos meninos. A princípio, pensaram ter sido inspirado no clipe “Nantes”, da banda americana Beirut. Mas eles explicam que na verdade, a inspiração para o filme foi outro clipe da mesma banda, “Sunday Smile”, que, parafraseando os próprios integrantes, é um clipe “bonito, simples e honesto”, perfeito para uma Oração.
As músicas d’A.B.M.B.D.C são todas assim: simples, bonitas e honestas. Para os ouvidos de uma geração (mal) acostumada a ritmos, letras e melodias medíocres, que não inspiram nada, os cosmopolitas de Curitiba abrem uma exceção. Um hiato que vem tornando-se mais comum, graças a Deus, diga-se de passagem. Eles conseguem cantar as letras, geralmente compostas por amigos que não fazem parte da banda, de uma maneira lúdica. Na voz de Uyara, letra e melodia fazem amor. No sentido mais amplo da palavra. Talvez pelo “cosmopolitamento” de seus integrantes, ao escutar suas músicas, o pensamento sempre viaja. É impossível mantê-lo num único lugar. E quando volta, esse pensamento cresceu e encheu-se de carinho. Para pessoas que, como eu, estão longe daqueles que ama, as músicas do quinteto nos deixam mais próximos. Ainda que somente por 6 minutos, através de uma oração...
Nessa re-re-estreia da coluna, encerro aqui. Foi muito ruim afastar do meu mundo de letras, que humildemente divido com vocês. De qualquer maneira, voltar a ele está sendo um deleite. Como em todo relacionamento, a melhor parte das brigas, é a reconciliação. Obrigada por voltarem a meu mundo. Obrigada por fazerem parte dele. E obrigada por permitirem que através de vocês, eu me sinta completa. Dentro e fora das Entrelinhas. Até a próxima semana!
Paola Tavares