terça-feira, 6 de dezembro de 2011

COLUNA


Ruas de Caxambu

D. Pedro II
                                                                  
A avenida D. Pedro II fica localizada no bairro Belvedere e presta homenagem à figura de nosso segundo imperador, além de ser nome, também, de uma das fontes de água mineral em nosso Parque das Águas: a D. Pedro. Exatamente há 186 anos, no dia 2 de dezembro de 1825, nascia na Quinta da Boa Vista, onde hoje se localiza o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, aquele que governa­ria o Brasil pelo maior espaço de tempo em nossa História. D. Pedro de Alcântara, filho de D. Pedro I e de D. Leopoldina, governou efetivamente a partir de 23 de julho de 1840, quando assumiu os destinos do país através de uma manobra política que ficou conhecida como o “Golpe da Maioridade”, encerrando um ciclo de regências no Brasil desde a abdicação de seu pai em 7 de abril de 1831.
Segundo insuspeitos relatos biográficos, o imperador era uma estranha figura de rei, os olhos tristes, sisudo com os estrangeiros, pouco comunicativo com os políticos, agarrado aos livros, capaz de passar horas esquecido dentro de um laboratório improvisado, rodeado de intelectuais, incapaz de comandar um regimento, mas preparado para manter uma conversação em latim.
Dedicava-se à egiptologia e à astronomia; traduzia os grandes nomes da literatura mundial de todos os tempos. Escrevia em prosa e em verso. Não só ao latim, além de francês, inglês, alemão, que conhecia e falava bem, que D. Pedro II se dedicaria. Estudou árabe, grego, tupi, sânscrito, hebraico e provençal. Gabava-se de ter sido um dos primeiros a conhecer a teoria de Darwin.
Nunca se aprofundou em nada. Em nenhuma ciência foi especialista. Sua fama correu mundo como chefe de nação, douto como um catedrático, capaz de pintar quadros, de fazer tra­balhos de engenharia. Era imbuído de espírito clássico e muito disciplinado em seus sentimentos, porém não teve inspiração suficiente para deixar obras de valor.
Ainda que não tenha produzido nada de original, seus estudos dão uma ideia de quanto procurou aper­feiçoar-se para dignificar-se através do estudo e poder governar com sabedoria.
Essa inconstância, essa sede de saber dar-lhe-iam o reconhecimento de Pasteur, a admiração de Vitor Hugo, o aplauso de Wagner, de Carlos Gomes e de Pedro Américo e a intimidade do conde de Gobineau. Provocou a admiração de nomes importantes na política, nas letras, nas ciências universais.
No domínio do espírito, o imperador foi um ardoroso fã das teorias de Voltaire, um amador inconsciente de ciências e belas-letras, um curioso da cultura por todos os modos, um apreciador dos homens de estado, um amigo dos livros,um mentor e mecenas de novos talentos.
No que se refere às outras artes, à pintura em particular, seu gosto tendia mais ao acadêmico. Sempre soube distinguir entre o lado puramente ornamental da pintura e suas qualidades intrínsecas. Frequentava os ateliês dos pintores, gostava de vê-los trabalhar, interrogando-os sobre a feitura e até a técnica que utilizam
Para a literatura dedicava especial atenção, merecendo, inclusive, do jovem Ma­chado de Assis, a admiração entusi­asta: “Bem vindo, diz-te o povo, e frase poderosa/E como que fervente eclipse ova­ção;/Ouve­-a tu, que possuis um anjo por esposa,/Por mãe a liberdade, e um povo por irmão!”
Casou-se com a princesa siciliana Tereza Cristina Maria de Bourbon, em 30 de maio de 1843, com quem teve quatro filhos, dentre os quais a princesa Isabel. Foi o mentor do desenvolvimento econômico e industrial que o Brasil experimentou de 1850 a 1890, assim como a introdução da produção cafeeira, a implantação da ferrovia e da rede telegráfica.
Merecedor da admiração da História, um homem que em muitos momentos foi julgado pela própria História como um governante sábio; aliás, sobre isto dizia em uma de suas cartas à Condessa de Barral: "cada vez reconheço mais que sei muito menos do que muita gente, e que não é pela inteligência que me distin­go, muito embora com perseverança tudo possa aprender. Acostumei-me, e mesmo a posição em que nasci muito me ajudou, a não gastar tempo com pequenas coisas. E por isso pude saber alguma coisa. Vivi desde menino até os quinze anos afastado da sociedade, convivendo com bons livros e muito aproveitan­do sempre as conversas com Taunay, é verdade que um pouco urso, mas gostando dos lugares ele­vados”.
São palavras modestas de quem muito deu para este país, que fez com que a modernidade aqui chegasse quase que pari passu com os avanços promovidos pela ciência, pelas artes e comunicações na Europa e nos Estados Unidos. São muitos os exemplos desse grande brasileiro, porém pouco aproveitados os seus legados.
Com a proclamação da república foi exilado dois dias depois daquele ato. Viajou para Portugal com a família imperial já com a saúde abalada pela presença de uma diabete. Muda-se, adiante para a França e, em 5 de dezembro de 1891, faleceu em Paris, vítima de uma pneumonia.
Os restos mortais do imperador e da imperatriz foram trasladados para a catedral de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis, no ano de 1925.

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*  Historiador e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais