A CIDADE DO RIO DE JANEIRO E SUA FUNDAÇÃO
O Rio de Janeiro no dia 1º de março completou 448 anos de
existência.
São Sebastião do Rio de Janeiro, cidade situada em uma das
mais belas e maiores baías do mundo; cidade de tantas belezas naturais que por
elas conquistou renome internacional. E, com o passar dos anos, essas belezas
se completaram com o empreendimento de uma série de melhoramentos que a
tornaram digna do espetacular cenário que a envolve, entre a beleza inigualável
de sua baía e um fundo de paisagens que se eternizam na Serra dos Órgãos,
espraiando-se até o Atlântico.
Pela beleza de seu panorama e aspectos pitorescos, a baía
que os indígenas chamavam de Guana-para
(braço do mar) tem inspirado poetas e compositores, além de extasiar os
turistas que a visitam. Maria Graham, uma inglesa que por ali aportou na década
de 1820, anotou em seu famoso Diário:
nada do que vi até agora é comparável em
beleza à baía. Nápoles, o Firth of Forth, o porto de Bombaim...cada um dos
quais julgava perfeito em seu gênero de beleza, todos lhe devem render preito
porque esta baía excede cada uma das outras em seus vários aspectos. Altas
montanhas, rochedos como colunas superpostas, florestas luxuriantes...cada
pequena eminência coroada com sua igreja ou fortaleza..., tudo isso se reúne
para tornar o Rio de Janeiro a cena mais encantadora que a imaginação pode
conceber.
Muita tinta foi gasta, ao longo do tempo, para se falar da
primeira abordagem ao Rio de Janeiro. Vários foram os historiadores e cronistas
que se debruçaram sobre o tema sem que, na maior parte das vezes, se
vislumbrasse um consenso entre eles. Para muitos, essa abordagem aconteceu no
dia 1o de janeiro de 1502, quando por aqui teria passado uma
expedição exploratória onde se encontrava o florentino Américo Vespúcio. Essa
expedição teria sido a primeira a por os portugueses em contato com o Rio de
Janeiro.
No entanto, somente a partir da década de 1550, com a
intervenção do então Governador-Geral Tomé de Souza, é que se procurou
estabelecer uma povoação mais sedentária no Rio de Janeiro, na tentativa de
barrar a entrada de corsários franceses e ingleses que, pouco a pouco,
degradavam a mata atlântica com a pilhagem do pau-brasil. Por isso mesmo, o
governador-geral reclamava junto às autoridades portuguesas o urgente
estabelecimento de uma povoação honrada e
boa no Rio de Janeiro, como um meio eficaz de atenuar a investida estrangeira
na região.
Não sem razão aquele governante, uma vez que em 1555, quando
era Governador-Geral Duarte da Costa, os franceses apoderar-se-iam de uma ilha
na Baía de Guanabara, fincando ali uma colônia que seria, conforme mesmo
anotado por eles, uma ponta de lança para conquistar todo o litoral brasileiro.
Essa colônia francesa seria denominada França Antártica e o comando da
expedição estava com Nicolas Durand de Villegagnon. Naquele momento, os
franceses conseguiram o apoio dos índios tamoios e, durante algum tempo,
fizeram frente às investidas dos portugueses contra a fortificação da ilha onde
erigiram o Forte Coligny.
Diante desse quadro, esboçando a perspectiva da perda de uma
parte da colônia, o governo português cuidou de expulsar os intrusos que
dominavam a baía desde 1555. Coube essa tarefa a Mem de Sá, que no Brasil
chegaria em 1557. Os franceses seriam atacados e desalojados da Ilha de
Villegagnon e, mais precisamente no dia 1o de março de 1565, Estácio
de Sá, sobrinho de Mem de Sá, ergueria as bases da cidade do Rio de Janeiro,
entre os Morros Cara de Cão e Pão de Açúcar. Em carta escrita ao Rei de
Portugal, Mem de Sá vangloriava-se: ganhei
de novo o Rio de Janeiro.
Sem dúvida, a
vitória de Estácio de Sá foi o ato histórico criador da cidade, quando os
portugueses garantiram, em 1° de março de 1565, a posse do Rio de Janeiro,
rechaçando a partir daí novas tentativas de invasões estrangeiras e expandindo
o seu domínio sobre as ilhas e o continente. Construíram na entrada da baía, em
uma praia protegida pelo Morro do Pão de Açúcar, uma fortificação composta por
simples casinhas feitas de troncos de madeira e barro, que foi mais tarde
destruída para dar vez a um povoamento no entorno do Morro do Castelo.
O novo povoado
marcou de fato, o começo da expansão urbana. Assim é que, ali,
praticamente na entrada da Baía de Guanabara, seria erguida, então, aquela que
ficou conhecida como a terra mais fértil e viçosa do Brasil no último quartel
do século XVI. E isto, efetivamente,
seria uma realidade, uma vez que no ano de 1572 o Rio de Janeiro seria
escolhido para sediar a repartição sul do Brasil, com a divisão administrativa
adotada pela Coroa portuguesa naquela oportunidade.
Um historiador de renome, o português Oliveira Martins, não
hesitaria em escrever, também a propósito desse episódio na Baía de Guanabara,
que doravante metade do Brasil estava
salvo – nem mais nem menos.
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* Historiador e sócio correspondente do Instituto Histórico
e Geográfico de Minas Gerais
