Como os
caxambuenses se divertiam nos primeiros tempos
- Meus caros amigos, para falarmos sobre
as diversões que existiam em Caxambu, nos seus primeiros tempos, não poderíamos
deixar de mencionar os hotéis, pois neles é que estavam as principais formas de
se passar o tempo e também arriscar um dinheirinho nos jogos que existiam na
época.
- E como surgiram esses hotéis aqui em
Caxambu, meu caro Bengo?
- Bom, para isso vou ter que recorrer a
informações existentes em alguns livros, mesmo porque existem muitas
controvérsias e até mesmo notícias equivocadas sobre a fundação dos hotéis em
nossa cidade. A professora Maria de Lourdes, a quem sempre recorro para avivar
a minha memória, apontou como os primeiros hotéis o de Ignácio Ribeiro de
Carvalho Chaves, que era uma casa muito simples e que ficou conhecida como a
“Casa do Chaves”. Esse “hotel”, que na verdade era uma hospedaria, foi,
posteriormente, passado para Baptista Cândido da Fonseca e recebeu o nome de
“Hotel Fonseca” e ficava mais ou menos onde hoje está localizado o Grande
Hotel. Essa informação consta, inclusive, das anotações de um viajante que
esteve aqui na década de 1870 – o coronel Fulgêncio de Castro – e que mencionou,
também, a existência de outros três hotéis: o União (que ficava no Largo da Matriz);
o Oliva (que ficava na base do morro) e o Nogueira de Sá (que ficava onde hoje
é o Supermercado Carrossel).
- Tinha também um hotel chamado “Double”
e que pertencia a Jean Jacques Double. Aliás, foi nesse hotel que se introduziu
um jogo de víspora prussiano (que eu não sei qual a diferença para o jogo de
víspora que a gente conhece) e, logo adiante, esse hotel seria adquirido, em
1886, por Augusto Ribeiro, que, além de fazer vários melhoramentos, também
introduziu a primeira roleta do povoado, que ficava a cargo dos conhecimentos
“técnicos” de Juvenal Abrate. A professora Maria de Lourdes informou que esse
Juvenal ficaria aqui em Caxambu durante uns três anos, tornando-se, depois,
comerciante de joias (deve ter enriquecido com o dinheiro que ganhou dos
incautos na roleta!) e que Augusto Ribeiro faria uma associação com o hoteleiro
João Carlos Vieira Ferraz para a reforma do seu estabelecimento hoteleiro,
introduzindo dois bilhares na casa que depois seria o Hotel de Caxambu.
- Então, qual é o hotel mais antigo de
Caxambu?
- Vejam bem, onde hoje está localizado o
Supermercado Carrossel foi construído o hotel de José Luiz da Silva Prado. Este
vendeu para José Divino Nogueira de Sá (hotel Nogueira de Sá). Depois foi
vendido para João Carlos Vieira Ferraz que lhe deu o nome de Hotel de Caxambu e
depois Hotel João Carlos, em 1883. Depois este último vendeu o mesmo para a
Empresa das Águas Minerais, que, segundo consta em jornais da época, foi
inaugurado no dia 1º de setembro de 1886.
- Então, o Hotel Caxambu que ainda hoje
existe é o mais antigo, não?
- Na verdade, existiram dois hotéis
chamados “Caxambu”: o primeiro, o de João Carlos, que deixou de ter esse nome
em 1883; o outro foi fundado um ano depois, em 1884, por Evaristo Nogueira de
Sá, este sim, origem do atual Hotel Caxambu. O hotel passou sucessivamente para
Antônio Marques da Costa e para o coronel Joaquim Teixeira em 1924; depois, em
1928, foi adquirido por José Augusto Rezende e, mais tarde, em 1940 passou à
administração da Empresa das Águas Minerais e, finalmente, em 1975, para os
atuais proprietários.
- E o João Carlos de quem tanto falam na
cidade, foi outro importante hoteleiro, não, meu caro Bengo?
- Sim, podemos dizer que foi um dos
grandes nomes de Caxambu no alvorecer da cidade. Em 1892 ele constituiu a Cia.
Grande Hotel João Carlos e Cassino, com sede na cidade do Rio de Janeiro, para
a construção de um hotel que fosse referência em Caxambu e em 1894 efetivamente
inaugurava-se o Grande Hotel e Cassino João Carlos, aonde se localiza o atual Palace
Hotel, e que durante anos foi o centro de atrações para aqueles que vinham de
outras cidades para descansar, aproveitar as águas minerais e, principalmente,
jogar!
- E o jogo foi uma das grandes atrações
de Caxambu, com roletas em diversos hotéis e outros jogos de azar. Isto acabou
em 1946, com a proibição do jogo no Brasil por parte do governo federal.
- Mas só havia jogo em Caxambu para a
diversão das pessoas?
- Não, meu caro João Pedro, outras
atividades recreativas surgiram no povoado, exemplo disso foi a fundação em 18
de junho de 1897 da União Caxambuense, numa iniciativa do Dr. Oscar Enout, com
a finalidade de proporcionar aos seus associados reuniões dramáticas,
literárias e dançantes, visando também tomar parte nos divertimentos
carnavalescos. Logo depois, em 14 de dezembro de 1898, era inaugurado,
pioneiramente, o teatro do Clube Literário e Recreativo Caxambuense, sucessor
da União Caxambuense. Esse clube foi sucedido pelo Clube Recreativo Caxambuense
– CRAC, em 1903, realizando as reuniões em um barracão junto ao morro do
Caxambu. Em 1907 passou a denominar-se Clube Caxambuense, com sede à rua Major
Penha. Dessa associação surgiu o Caxambu F. C. e, por uma desavença entre os
associados, formou-se um novo clube: a Associação Atlética Nacional que recebeu
uma doação da prefeitura para a construção de um campo de futebol no terreno
onde hoje está o Hotel Glória. Em 1942, Miguel Douglache permutou um terreno na
chácara que pertencera ao Dr. Enout pelo terreno da Camilo Soares. Ali surgiu o
atual CRAC, com a fusão do Clube Caxambuense com a Associação Atlética
Nacional.
- Um outro importante centro de diversão
era o Cine Radium, que foi inaugurado
em 1912 no estabelecimento hoteleiro de Augusto Ribeiro, com apresentações
musicais.
- Finalmente,
no ano de 1913, seria construído o coreto da Praça 16 de Setembro e ali a
população pode apreciar o concerto de várias bandas musicais da cidade.
-
E o carnaval, como era em Caxambu?
-
Até onde sei o carnaval começou com o chamado Grupo do Sereno, uma associação
de rapazes e moças que existiu no início do século XX. Daí para frente, Caxambu
ficaria famosa por seus carnavais de rua, principalmente, além daqueles bailes
dos hotéis da cidade que atraíam gente de tudo que era canto.