sexta-feira, 4 de julho de 2014

ESTUDO MOSTRA QUE 51% DOS BRASILEIROS RECEBEM OS SALÁRIOS EM ESPÉCIE

A escalada da inflação está fazendo mais brasileiros andarem com o bolso cheio de dinheiro. Mas o que, à primeira vista, poderia ser encarado como sinônimo de riqueza, é, na verdade, mais um sintoma do mal que o custo de vida elevado produz numa sociedade. Em três anos, o número de pessoas que disseram pagar suas compras com cédulas e moedas subiu de 72%, em 2010, para 78%, ano passado. Os números fazem parte do estudo “O brasileiro e sua relação com o dinheiro”, divulgado ontem pelo Banco Central (BC).

A explicação para esse avanço de 6 pontos percentuais na opção por pagamentos em dinheiro pode ser a elevação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que acumula altas médias de 6% desde 2011. Afinal, quando a inflação acelera, isso faz com que as pessoas demandem mais papel-moeda, já que ela terá de ter mais dinheiro para comprar os mesmos itens que antes. Cada brasileiro carrega, em média, R$ 54,65 no bolso por dia.

Quando isso acontece, o governo tem que emitir dinheiro, para que ninguém fique sem cédulas e moedas para comprar. Não por acaso, em um ano, o volume de papel-moeda em circulação no país cresceu mais de R$ 20 bilhões. Ao todo, a quantidade de cédulas e moedinhas que correm de mão em mão pulou de R$ 166 bilhões para R$ 185,2 bilhões, entre março de 2013 e fevereiro deste ano, segundo dados do próprio BC.

Boa parte das pessoas que preferem usar cédulas e moedas nas suas operações diárias é gente como o maranhense Salomão Francisco de Oliveira. Funcionário de uma empresa de estacionamentos, ele recebe o salário mensal de R$ 890 em espécie, assim como 51% da população economicamente ativa (PEA). Como o dinheiro está sempre à mão, Ele não passa sufoco. “Antes, eu usava cheque, mas tem muito lugar que não aceita. Então, hoje, eu só ando com dinheiro ou o cartão do banco”, reforçou Salomão.

Menos cheques em circulação


As estatísticas dão razão ao maranhense. Em três anos, o percentual da população que efetua seus pagamentos com cheque caiu à metade, de 14% para 7%. Uma curiosidade é que a pesquisa também capta uma retração na preferência por meios eletrônicos, com quedas tanto no uso do débito, quanto do crédito, de 43% para 35% e de 43% para 39%, respectivamente. Os números parecem indicar que outra grande conquista do país, o aumento da bancarização, perdeu força durante os três anos de governo Dilma Rousseff.

Até o último ano de gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 51% dos brasileiros diziam possuir conta corrente em banco. Três anos depois, essa participação subiu para 52%, dentro, portanto, da margem de erro de três pontos percentuais. Efeito semelhante foi observado no número de pessoas que disseram possuir conta poupança, que ficou estagnado em 42% entre 2010 e 2013.

Mesmo dentro do governo, os números são vistos com ressalvas, porque podem indicar algo que não esteja ocorrendo de fato. “O que nós temos visto é, ainda, uma maior participação do brasileiro no sistema financeiro. Mas é certo que o baixo crescimento econômico pode influenciar negativamente nesse processo”, afirmou uma fonte que preferiu não se identificar.


Jornal O Estado de Minas