Brasília – Empatadas tecnicamente no primeiro turno das
eleições presidenciais, Marina Silva (PSB) e Dilma Rousseff (PT) têm
trajetórias de vidas distintas, embora militantes da esquerda brasileira, que
se cruzam em 2002, ainda durante o governo de transição, quando a atual
presidente é escolhida como ministra de Minas e Energia e a socialista, ainda
petista à época, é indicada para o Meio Ambiente. De lá para cá, tiveram várias
embates econômicos, ambientais, ideológicos. Brigaram por espaço dentro do
governo Lula e, pelo segunda eleição consecutiva, disputam o voto do eleitorado
brasileiro.
As duas inimigas íntimas e conceituais têm trajetórias que
se assemelham no conteúdo, mas jamais na forma. Marina é acriana, filha de
seringueiros pobres. Alfabetizada aos 16 anos, formou-se em história 10 anos
depois. Onze anos mais velha que a adversária ao Planalto, Dilma é mineira e
foi presa durante a ditadura militar por integrar um grupo de combate à
repressão. Era 1970 e Marina, com 12 anos de idade, trabalhava no seringal para
ajudar no sustento familiar e lutava contra a malária e leshimaniose. Com essa
idade, já tinha perdido a mãe e duas irmãs, todas por doenças relativas à falta
de tratamento adequado às pessoas pobres.
Dilma surgiu no PDT. Marina filiou-se ao PT em 1986, um ano depois de montar a
Central Única dos Trabalhadores (CUT), ao lado do seu mentor, Chico Mendes. A
atual presidente engrenou uma carreira de secretária de Estado, já militando
politicamente no Rio Grande do Sul, enquanto Marina elegeu-se vereadora,
deputada estadual e, em 1994, tornou-se a mais jovem ocupante de uma cadeira no
Senado, aos 36 anos.
Em 2002, as duas se encontraram no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde
havia sido montado o governo de transição PSDB-PT. “Nós todos estávamos, de uma
maneira ou outra, irmanados em um projeto, embora, em vários momentos, tenhamos
apoiado candidaturas distintas. Quando Lula assumiu em 2003, nós éramos um
governo”, resumiu o deputado Miro Teixeira (Pros-RJ), que foi companheiro de
Esplanada de ambas entre 2003 e 2004, quando comandava a pasta das
Comunicações.
Aliado de Marina na corrida presidencial, Miro reconhece que as duas tinham
posições divergentes em vários momentos, mas acredita que, se forem colocadas
em uma mesa de debates, terão mais convergências do que divergências, “desde
que estejam isoladas do contexto eleitoral”.
Tensão O embate entre ambas, intensificou-se no momento em que Dilma
assumiu a Casa Civil, no lugar de José Dirceu, abatido no escândalo do
mensalão. E aumentou a decibéis ensurdecedores quando, no início do segundo
mandato, o governo optou pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e
intensificou a pressão pelas licenças ambientais para rodovias e hidrelétricas.
Jirau e Santo Antônio viraram emblemáticas. “Não sei nem se era uma posição
pessoal de Marina ou se ela apenas verbalizava o discurso da base de apoio. Mas
montar uma hidrelétrica na Amazônia era visto por ela como um sacrilégio”,
lembra um ministro que participou dos debates à época. “Marina percebeu que
tinha perdido espaço no governo para Dilma.” Outro ex-ministro, que continua
próximo ao líder máximo petista, lembra que Marina sonhava em ser escolhida
como sucessora dele. “Ela perdeu o debate de conteúdo e o político. Saiu do
governo”, resumiu o lulista.
Fogo cruzado Nova troca de farpas aconteceu ontem. A candidata do PSB à
Presidência, Marina Silva, disse ontem que o PT criou um “factoide” a respeito
da empresa montada por ela para ministrar palestra. A declaração foi dada no
Rio Grande do Sul – onde Marina se reuniu com ruralistas e enfrentou um pequeno
protesto em que foi chamada de “homofóbica” e “fundamentalista” –, antes de a
coligação de Dilma protocolar na Procuradoria-Geral da República (PGR) pedido
de investigação sobre os rendimentos de Marina com palestras. O pedido é que se
apure eventual omissão de patrimônio na declaração de bens da candidata e até
uso de recursos na campanha. “O desespero está fazendo com que eles façam esse
tipo de coisa”, disse. “A minha ‘empresinha’ teve um faturamento nesses três anos
de R$ 1,6 milhão. Nós pagamos todos os encargos, está na Receita Federal”,
disse Marina.
Ainda ontem, o site Muda Mais, criado pelo PT para a campanha de Dilma
Rousseff, acusou o programa de Marina de ter “plagiado” um artigo científico
publicado em 2011 por Luiz Davidovich, professor do Instituto de Física da
UFRJ, em trecho que fala sobre a necessidade de investimento em fontes limpas
de energia.
Jornal O Estado de Minas