terça-feira, 18 de novembro de 2014

COLUNA

Etnologia selvagem: a obra de Silvio Romero

O que têm em comum José Vieira Couto e Silvio Romero? Aparentemente apenas que ambos foram escritores consagrados. No entanto, um outro traço significativo une esses dois personagens da literatura e da história nacionais: ambos foram excelentes folcloristas e contaram, como poucos, em prosa e em verso, as grandezas deste nosso país. José Vieira Couto ilustra essa galeria como um dos mais insignes historiadores de Minas Gerais. Aliás, sobre ele já falei há algum tempo e podemos dizer, sem medo de errar, que foi um digno representante da mentalidade ilustrada do seu tempo, acreditando no poder transformador da educação, ressaltando, em sua obra, a importância da divulgação dos conhecimentos científicos como a melhor alternativa para, se não erradicar, pelo menos diminuir a decadência da mineração na região de Diamantina.
Mas agora falarei de outro nome insigne da literatura brasileira, que neste ano de 2014 completou 100 anos de falecido: Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero, que nasceu na cidade de Lagarto, estado de Sergipe, em 21 de abril de 1851.
Em 1868 matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife, graduando-se no ano de 1873. Foi exatamente no decorrer de seu curso que se afastou das ideias positivistas de Augusto Comte para se aproximar da filosofia evolucionista de Herbert Spencer, na busca de métodos objetivos de análise crítica e apreciação do texto literário. Em 1875 foi eleito deputado provincial por Estância, em Sergipe. Depois, em 1878, radicou-se no Rio de Janeiro, indo para Paraty, onde foi Juiz de Direito durante dois anos e meio. Ali, Sílvio Romero publicou seus dois primeiros livros, “A Filosofia no Brasil” e “Cantos do Fim do Século”, seu primeiro livro de poesia.
         
Saindo de Paraty, passou a residir na cidade do Rio de Janeiro, onde lecionou filosofia no Colégio Pedro II entre 1881 e 1910. Estava entre os intelectuais que fundaram a Academia Brasileira de Letras, em 1897, ocupando pioneiramente a cadeira nº 17, cujo patrono é Hipólito da Costa. Em 1882 publicou a Introdução à História da Literatura Brasileira, hoje em edição de cinco volumes e logo depois, como resultado de suas pesquisas sobre o folclore brasileiro, surgiriam “O elemento popular na literatura do Brasil” e “Cantos populares do Brasil”.
          Entre 1911 e 1912 residiu em Juiz de Fora, participando da vida intelectual da cidade, publicando poemas e outros escritos nos jornais locais, ministrando aulas no ensino superior e proferindo discursos. Uma das características mais marcantes de Romero era o embate violento e intolerante contra outros escritores, intelectuais e políticos, gerando numerosas polêmicas, sendo a mais famosa com o conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira, quando da publicação do livro “Machado de Assis”, em 1897, ocasião em que Lafayette publicou uma série de artigos em defesa de Machado, refutando as críticas de Silvio Romero.
          A obra de Sílvio Romero, desde os primeiros ensaios publicados em periódicos do Recife, situa-se sob o signo do embate e da polêmica, e estende-se desde a poesia, crítica, teoria e história literária, folclore, etnografia, até estudos políticos e sociológicos. Foi, sem dúvida, um grande pesquisador sério e minucioso, preocupando-se, sobretudo, com o levantamento sociológico em torno de autor e obra. Sua força estava nas ideias de âmbito geral e no profundo sentido de brasilidade que envolvia em suas realizações. Também foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa. Faleceu no Rio de Janeiro em 18 de junho de 1914.