Etnologia
selvagem: a obra de Silvio Romero
O que têm em comum José Vieira Couto e
Silvio Romero? Aparentemente apenas que ambos foram escritores consagrados. No
entanto, um outro traço significativo une esses dois personagens da literatura
e da história nacionais: ambos foram excelentes folcloristas e contaram, como
poucos, em prosa e em verso, as grandezas deste nosso país. José Vieira Couto ilustra essa
galeria como um dos mais insignes historiadores de Minas Gerais. Aliás, sobre
ele já falei há algum tempo e podemos dizer, sem medo de errar, que foi um
digno representante da mentalidade ilustrada do seu tempo, acreditando no poder
transformador da educação, ressaltando, em sua obra, a importância da
divulgação dos conhecimentos científicos como a melhor alternativa para, se não
erradicar, pelo menos diminuir a decadência da mineração na região de
Diamantina.
Mas agora falarei de outro nome insigne da
literatura brasileira, que neste ano de 2014 completou 100 anos de falecido: Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero,
que nasceu na cidade de Lagarto, estado de Sergipe, em 21 de abril de 1851.
Em 1868 matriculou-se na Faculdade
de Direito do Recife, graduando-se no ano de 1873. Foi exatamente no decorrer
de seu curso que se afastou das ideias positivistas de Augusto Comte para se
aproximar da filosofia evolucionista de Herbert Spencer, na busca de métodos
objetivos de análise crítica e apreciação do texto literário. Em 1875 foi eleito deputado provincial por Estância,
em Sergipe.
Depois, em 1878, radicou-se no Rio de Janeiro, indo para Paraty, onde foi Juiz
de Direito durante dois anos e meio. Ali, Sílvio Romero publicou seus dois
primeiros livros, “A Filosofia no Brasil” e “Cantos do Fim do Século”, seu
primeiro livro de poesia.
Saindo
de Paraty, passou a residir na cidade do Rio de Janeiro, onde lecionou filosofia no Colégio Pedro II entre 1881 e 1910. Estava
entre os intelectuais que fundaram a Academia Brasileira de Letras, em 1897,
ocupando pioneiramente a cadeira nº 17, cujo patrono é Hipólito da Costa. Em
1882 publicou a Introdução à História da Literatura Brasileira, hoje em edição
de cinco volumes e logo depois, como resultado de suas pesquisas sobre o
folclore brasileiro, surgiriam “O
elemento popular na literatura do Brasil” e “Cantos populares do Brasil”.
Entre 1911 e 1912 residiu em Juiz de Fora,
participando da vida intelectual da cidade, publicando poemas e outros escritos
nos jornais locais, ministrando aulas no ensino superior e proferindo
discursos. Uma das características mais marcantes de Romero era o embate
violento e intolerante contra outros escritores, intelectuais e políticos,
gerando numerosas polêmicas, sendo a mais famosa com o conselheiro Lafayette
Rodrigues Pereira, quando da publicação do livro “Machado de Assis”, em 1897, ocasião
em que Lafayette publicou uma série de artigos em defesa de Machado, refutando
as críticas de Silvio Romero.
A
obra de Sílvio Romero, desde os primeiros ensaios publicados em periódicos do
Recife, situa-se sob o signo do embate e da polêmica, e estende-se desde a
poesia, crítica, teoria e história literária, folclore, etnografia, até estudos
políticos e sociológicos. Foi, sem dúvida, um grande pesquisador sério e
minucioso, preocupando-se, sobretudo, com o levantamento sociológico em torno
de autor e obra. Sua força estava nas ideias de âmbito geral e no profundo
sentido de brasilidade que envolvia em suas realizações. Também foi membro do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e sócio correspondente da Academia
das Ciências de Lisboa. Faleceu no Rio de Janeiro em 18 de junho de 1914.