terça-feira, 20 de janeiro de 2015

COLUNA


Ainda sobre a divisão das Minas Gerais

Independentemente das tentativas de se dividir o território mineiro no século XIX, objeto de um artigo anteriormente publicado neste jornal, há que se fazer uma menção, também, a outros empreendimentos buscando a fragmentação territorial, e que, da mesma forma que as demais propostas, foram fulminadas principalmente levando-se em conta a defesa da geo-política mineira.
Apresentada ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 28 de outubro de 1932, e, posteriormente, em 1º de dezembro de 1937, o professor Mário Augusto Teixeira de Freitas (um dos criadores do atual IBGE) propunha uma redivisão político-administrativa do Brasil tendo como base a fixação territorial de cada unidade da federação entre 250 e 350 mil km2. Além disso outras balizas foram por ele implementadas no projeto, sendo, em síntese, a que mais chamava atenção aquela que extinguia com diversos estados em função do aumento de outros.
No caso específico de Minas Gerais, este seria desmembrado em três unidades: Minas Gerais, Mucuri e Mantiqueira, esta última com a anexação do estado do Rio de Janeiro ao território do atual sul das Minas Gerais, ficando a cidade do Rio de Janeiro como capital do novo estado, uma vez que a capital federal seria deslocada para Belo Horizonte, provisoriamente aguardando-se uma possível transferência para o planalto central como previa a Constituição de 1891.
Assim teríamos ao novo Estado do Mucuri anexada parte da Bahia e todo o Espírito Santo; para Minas Gerais, a área circunscrita a Belo Horizonte e ao Estado da Mantiqueira, como visto, o sul das Minas Gerais e o estado do Rio de Janeiro.
Essa posição adotada no projeto de Teixeira de Freitas, que estratificava a federação em estados, municípios, distritos e acrescentava um fator novo: os departamentos. Na ocasião, outros intelectuais acompanhariam o seu raciocínio, destacando-se aqui a adesão dada pelo major João Segadas Vianna que, por sinal, já havia levantado a hipótese, a partir do final da revolução de 1930, de se redistritar o Brasil, solução que foi de perto também acompanhada por homens de peso como o industrial Henrique Lage, o engenheiro Paulo de Frontin e pelo conhecido geógrafo Everaldo Backseuser.
No entanto, as modificações territoriais preconizadas por Teixeira de Freitas não poderiam nem seriam implementadas, haja vista que se deveria alterar profundamente a estrutura político-territorial do Brasil.
Convém recordar que todas as tentativas de fragmentação do território brasileiro no século XIX foram rechaçadas, ao final, principalmente considerando-se a defesa na manutenção da unidade territorial que se implantou a partir da formação do Império em 1822. E agora não seria diferente. Aliás, um estudo interessante, de autoria de Elias Alves Penha mostra com bastante clareza essa refutação por parte das autoridades da época de um redivisionamento do Brasil: “No que tange à perspectiva de implementação do Plano, percebe-se nitidamente que o mesmo esbarrou em um grave equívoco: a concepção onipotente do Estado Nacional. Derivado desta concepção, imaginou-se que o Estado estava acima das classes sociais, estando, portanto, refratário às influências de grupos particulares e elites regionais. Neste sentido, desconsiderou o documento o poder de pressão política da burguesia industrial e das oligarquias agrárias, cujo apoio foi fundamental para a consecução da política de desenvolvimento industrial, via substituição de importações” (A criação do IBGE no contexto político do Estado Novo. Rio de Janeiro: IBGE, 1993, p. 104).
Não restam dúvidas de que as características regionais que encontramos, por exemplo, em Minas Gerais são muito grandes e variadas. Há poucos dias percorri uma parte do território do sul, partindo de Caxambu, atravessando por Santa Rita do Sapucaí, alcancei Espírito Santo do Dourado, Silvianópolis (antiga Santana do Sapucaí), Turvolândia, São João da Mata, Carvalhópolis, Machado e Fama, e pude constatar, nesse quadrilátero por mim percorrido, que existem sim diferenças com as demais áreas de outras mesorregiões de Minas Gerais, principalmente aquelas mais ao norte do estado, mas isto não invalida a noção de unidade desta importante fração da federação. Dividir apenas por dividir naqueles momentos talvez estivessem em jogo interesses particulares deste ou daquele político com olhos voltados para os seus negócios.
Hoje, não dividir é uma expressão que deve – pelo menos no caso das Minas Gerais – ser definitiva.