RIO DE JANEIRO – 450 ANOS DE VIDA
Abro
um parêntese nas histórias sobre o sul das Minas Gerais para prestar homenagem
a uma das mais belas cidades do mundo: o Rio de Janeiro que, neste dia 1º de
março, completa 450 anos de existência.
São
Sebastião do Rio de Janeiro, cidade situada em uma das mais belas e maiores
baías do mundo; cidade de tantas belezas naturais que por elas conquistou
renome internacional. E, com o passar dos anos, essas belezas se completaram
com o empreendimento de uma série de melhoramentos que a tornaram digna do
espetacular cenário que a envolve, entre a beleza inigualável de sua baía e um
fundo de paisagens que se eternizam na Serra dos Órgãos, espraiando-se até o
Atlântico.
Pela
beleza de seu panorama e aspectos pitorescos, a baía que os indígenas chamavam
de Guana-para (braço do mar) tem
inspirado poetas e compositores, além de extasiar os turistas que a visitam. Maria
Graham, uma inglesa que por ali aportou na década de 1820, anotou em seu famoso
Diário: “nada do que vi até agora é comparável em beleza à baía. Nápoles, o
Firth of Forth, o porto de Bombaim...cada um dos quais julgava perfeito em seu
gênero de beleza, todos lhe devem render preito porque esta baía excede cada
uma das outras em seus vários aspectos. Altas montanhas, rochedos como colunas
superpostas, florestas luxuriantes...cada pequena eminência coroada com sua
igreja ou fortaleza..., tudo isso se reúne para tornar o Rio de Janeiro a cena
mais encantadora que a imaginação pode conceber”.
Muita
tinta foi gasta, ao longo do tempo, para se falar da primeira abordagem ao Rio
de Janeiro. Vários foram os historiadores e cronistas que se debruçaram sobre o
tema sem que, na maior parte das vezes, se vislumbrasse um consenso entre eles.
Para muitos, essa abordagem aconteceu no dia 1o de janeiro de 1502,
quando por aqui teria passado uma expedição exploratória onde se encontrava o
florentino Américo Vespúcio. Essa expedição teria sido a primeira a por os
portugueses em contato com o Rio de Janeiro.
No
entanto, somente a partir da década de 1550, com a intervenção do então
Governador-Geral Tomé de Souza, é que se procurou estabelecer uma povoação mais
sedentária no Rio de Janeiro, na tentativa de barrar a entrada de corsários
franceses e ingleses que, pouco a pouco, degradavam a mata atlântica com a
pilhagem do pau-brasil. Por isso mesmo, o governador-geral reclamava junto às
autoridades portuguesas o urgente estabelecimento de “uma povoação honrada e
boa” no Rio de Janeiro, como um meio eficaz de atenuar a investida estrangeira
na região.
Não
sem razão aquele governante, uma vez que em 1555, quando era Governador-Geral
Duarte da Costa, os franceses apoderar-se-iam de uma ilha na Baía de Guanabara,
fincando ali uma colônia que seria, conforme mesmo anotado por eles, uma ponta
de lança para conquistar todo o litoral brasileiro. Essa colônia francesa seria
denominada França Antártica e o comando da expedição estava com Nicolas Durand
de Villegagnon. Naquele momento, os franceses conseguiram o apoio dos índios
tamoios e, durante algum tempo, fizeram frente às investidas dos portugueses
contra a fortificação da ilha onde erigiram o Forte Coligny.
Diante
desse quadro, esboçando a perspectiva da perda de uma parte da colônia, o
governo português cuidou de expulsar os intrusos que dominavam a baía desde
1555. Coube essa tarefa a Mem de Sá, que no Brasil chegaria em 1557. Os
franceses seriam atacados e desalojados da Ilha de Villegagnon e, mais
precisamente no dia 1o de março de 1565, Estácio de Sá, sobrinho de
Mem de Sá, ergueria as bases da cidade do Rio de Janeiro, entre os Morros Cara
de Cão e Pão de Açúcar. Na foto abaixo, o Cara de Cão fica à esquerda do Pão de
Açúcar.
Em
carta escrita ao Rei de Portugal, Mem de Sá vangloriava-se: “Ganhei de novo o
Rio de Janeiro’.
Sem dúvida, a vitória de Estácio de Sá foi o ato
histórico criador da cidade, quando os portugueses garantiram, em 1° de março
de 1565, a posse do Rio de Janeiro, rechaçando a partir daí novas tentativas de
invasões estrangeiras e expandindo o seu domínio sobre as ilhas e o continente.
Construíram na entrada da baía, em uma praia protegida pelo Morro do Pão de
Açúcar, uma fortificação composta por simples casinhas feitas de troncos de
madeira e barro, que foi mais tarde destruída para dar vez a um povoamento no
entorno do Morro do Castelo.
O novo povoado marcou de fato o começo da expansão
urbana. Assim é que, ali, praticamente na
entrada da Baía de Guanabara, seria erguida, então, aquela que ficou conhecida
como a terra mais fértil e viçosa do Brasil no último quartel do século XVI. E isto, efetivamente, seria uma
realidade, uma vez que no ano de 1572 o Rio de Janeiro seria escolhido para
sediar a repartição sul do Brasil, com a divisão administrativa adotada pela
Coroa portuguesa naquela oportunidade.
Um
historiador de renome, o português Oliveira Martins, não hesitaria em escrever,
também a propósito desse episódio na Baía de Guanabara, que doravante “metade
do Brasil estava salvo” – nem mais nem menos.