domingo, 19 de abril de 2015

É DURA A VIDA DE QUEM PRECISA BATER METAS QUASE IMPOSSÍVEIS

Se você não cumpre a meta, recebe e-mails e cobranças grosseiras, é trocado de agência, seu ganho na distribuição dos lucros é afetado. Por isso, tem bancário que fica tão desesperado que começa a vender os produtos sem explicar direito para o cliente o que é, liga para o cliente até no fim de semana, faz tudo de forma incorreta para alcançar a meta.” O desabafo é de uma bancária que está na profissão há 15 anos e ajuda a entender como, cada vez mais, o cumprimento de metas vem se tornando um pesadelo para quem trabalha nas agências bancárias e em outras categorias profissionais, como no comércio.
Ela e os outros citados nesta reportagem concordaram em contar suas histórias sem revelar seus nomes, com medo de retaliações. A bancária diz que na agência onde trabalha, somente em poupança, a meta de captação mensal é de R$ 1 milhão. A marca tem que ser alcançada pela equipe. Há também metas para abertura de contas, concessão de empréstimos, valores em aplicações, venda de produtos como seguros e títulos de capitalização. “A meta sempre aumenta, e a gente tem que se virar”, diz.
A pressão e a cobrança são tão grandes que, no último ano, os sindicatos que representam a categoria em todo o país conseguiram colocar na convenção coletiva uma cláusula que proíbe a cobrança do cumprimento de metas por e-mail, WhatsApp e mensagens de texto. Esse tipo de pressão a qualquer hora e por qualquer meio pode ser considerado assédio moral. O mesmo vale para constrangimento a quem não alcança as marcas estipuladas.
A presidente do Sindicato dos Bancários de Minas Gerais, Eliana Brasil, diz que é comum que os funcionários trabalhem além do expediente, sem receber. “Tem chefe que obriga a equipe a chegar às 7h e sair às 18h, sem bater ponto além da jornada”, afirma. Ela diz que é preciso delatar os abusos e que a denúncia pode ser feita no próprio sindicato, que tem um canal exclusivo para isso.
Em cima do resultado. No comércio, a situação não é muito diferente. “A gente trabalha em cima de resultado. Mesmo com a crise, a meta sempre é maior que a do ano anterior, e sobe mais em datas comemorativas”, diz uma vendedora de loja de artigos esportivos, que está há 20 anos no setor. Ela conta que, neste ano, a equipe não conseguiu bater nenhuma vez a meta mensal, que é de R$ 350 mil em vendas. Como consequência, o salário cai.


Jornal O TEMPO