Maravilhosa e perigosa
Dia
após dia assistimos com uma certa incredulidade fatos escabrosos que acontecem
nas mais diversas cidades do país, e também na cidade do Rio de Janeiro, sempre
considerada uma cidade maravilhosa, um cartão postal nacional e, por que não
dizer, internacional. Sede dos Jogos Olímpicos de 2016, sede da final da Copa
do Mundo de 2014, nada disso parece refrear a ação de criminosos disseminados na
cidade e seus arredores.
Um
dos seus mais belos cenários é, sem dúvida, a Lagoa Rodrigo de Freitas; ainda
que muito maltratada continua como uma área bastante procurada para o lazer não
só da população da zona sul, como também de outros bairros da cidade. O fato
que aconteceu na última semana, com o assassinato de um médico por causa de uma
carteira e uma bicicleta, chocou por demais a sociedade carioca e, por via de
consequência, a sociedade nacional. Não há dúvidas de que estamos reféns dessa
sandice que campeia em todos os segmentos nacionais e, praticamente, em todo
mundo, não fossem os noticiários internacionais prova cabal do que acontece
diuturnamente nas grandes cidades. A situação parece que não para de se agravar
e uma constante agora na cidade dita maravilhosa é o uso de armas brancas para
o cometimento de assaltos.
Muitos
dizem que estamos passando dos limites. Eu discordo: os limites já foram
ultrapassados há décadas, sem que nada fosse feito, sem que as autoridades a
quem compete a prestação da segurança pública interviessem com mais eficácia.
Digo eficácia, porque eficiência demonstraram em situações pontuais, mas a
eficácia das ações, ou seja, o comprometimento com a continuidade daquela
eficiência, não conseguimos vislumbrar. Acredito que os leitores entendam o que
estou querendo dizer.
Uma
cidade que tem a geografia belíssima e internacionalmente, repito, cantada em
prosa e verso, não pode, ou melhor, não deveria curvar-se à ação de criminosos
que enlameiam o seu nome e a deixam com o adjetivo de perigosa. Não quero acrescentar
este meu protesto a tantos outros contra a violência perpetrada na última
semana tão somente porque a vítima era um médico. Que seja médico, professor,
advogado, comerciário, gari, catador de papel, o que for, a dignidade da vida
humana é sagrada, a vida humana é sagrada e deve ser preservada a todo custo e
sob toda proteção do Estado.
Violências acontecem todos os dias e nos mais
diversos recantos das cidades, quer grandes, quer pequenas, mas o índice está
assustador e tornando a todos reféns desse medo. Querem um exemplo: Paris assistiu há pouco uma greve
de empregados da Torre Eiffel por causa dos assaltos. Uns dizem que a coisa
degenerou por causa da imigração ilegal. Mas a grande questão é o que fazer com
estes deserdados da sorte, os que não têm lugar no mundo capitalista,
colocando-os praticamente à margem da sociedade; a realidade é que essa
“marginalização” está aumentando e tomando conta assustadora e desenfreadamente
das grandes cidades como o Rio de Janeiro, São Paulo, Paris etc.
Espero
que tenham entendido este meu comentário, que é mais do que um comentário, é um
desabafo, pois se já não fosse a situação difícil por que passa a cidade do Rio
de Janeiro, bastante castigada com obras irracionais as quais ninguém tem
certeza de que serão úteis à população, juntam-se, com muita frequência, outros
cometimentos criminosos à vida humana. Este acontecimento que gerou o meu
modesto comentário, tem como cerne, também, o abandono em que se encontra a
educação, principalmente a educação pública no Brasil. Comentários posteriores,
apontam que o delinquente que cometeu o insensato ataque a um cidadão que
apenas praticava um lazer ao final do dia de trabalho abandonou de vez os
estudos nos precoces treze anos de idade, quando não tinha mais perspectivas de
continuar em sala de aula. Digam o porquê. Não restam dúvidas de que isto passa
necessariamente pela falta de incentivos aos professores, aos cortes de verbas
da Educação, ao desleixo com o ensino fundamental e assim por diante. Não
adianta nada querer formar universitários se não formamos cidadãos que consigam
minimamente se expressar em língua nacional. Para se ter um exemplo, divulgado
há poucos dias pela OAB, as faculdades de Direito existentes no Brasil,
somadas, ultrapassam o total de faculdades de Direito do mundo inteiro! E no
ranking das universidades deixamos o 100º lugar há muito tempo!
Assim
como outros tantos professores, pedagogos, filósofos, cientistas políticos,
considero que se não houver uma verdadeira revisão na educação que o Brasil
quer e precisa, continuaremos a ver tragédias como essas, perfeitamente
anunciadas com todos os requintes de estupidez, violência e impunidade.
Na década de 1960 a
Coreia e a China encontravam-se no mesmo patamar econômico do Brasil, e
com vultosos investimentos em Educação mudaram o cenário e deixam qualquer um
com inveja de seu desenvolvimento social e econômico.
É
um alerta, inclusive, para que tais desmandos, em todos os sentidos, não
cheguem à nossa cidade. É preciso que cuidemos e preservemos o que temos de
bom.