terça-feira, 26 de maio de 2015

COLUNA


Maravilhosa e perigosa
                                                                 
Dia após dia assistimos com uma certa incredulidade fatos escabrosos que acontecem nas mais diversas cidades do país, e também na cidade do Rio de Janeiro, sempre considerada uma cidade maravilhosa, um cartão postal nacional e, por que não dizer, internacional. Sede dos Jogos Olímpicos de 2016, sede da final da Copa do Mundo de 2014, nada disso parece refrear a ação de criminosos disseminados na cidade e seus arredores.
Um dos seus mais belos cenários é, sem dúvida, a Lagoa Rodrigo de Freitas; ainda que muito maltratada continua como uma área bastante procurada para o lazer não só da população da zona sul, como também de outros bairros da cidade. O fato que aconteceu na última semana, com o assassinato de um médico por causa de uma carteira e uma bicicleta, chocou por demais a sociedade carioca e, por via de consequência, a sociedade nacional. Não há dúvidas de que estamos reféns dessa sandice que campeia em todos os segmentos nacionais e, praticamente, em todo mundo, não fossem os noticiários internacionais prova cabal do que acontece diuturnamente nas grandes cidades. A situação parece que não para de se agravar e uma constante agora na cidade dita maravilhosa é o uso de armas brancas para o cometimento de assaltos.
Muitos dizem que estamos passando dos limites. Eu discordo: os limites já foram ultrapassados há décadas, sem que nada fosse feito, sem que as autoridades a quem compete a prestação da segurança pública interviessem com mais eficácia. Digo eficácia, porque eficiência demonstraram em situações pontuais, mas a eficácia das ações, ou seja, o comprometimento com a continuidade daquela eficiência, não conseguimos vislumbrar. Acredito que os leitores entendam o que estou querendo dizer.
Uma cidade que tem a geografia belíssima e internacionalmente, repito, cantada em prosa e verso, não pode, ou melhor, não deveria curvar-se à ação de criminosos que enlameiam o seu nome e a deixam com o adjetivo de perigosa. Não quero acrescentar este meu protesto a tantos outros contra a violência perpetrada na última semana tão somente porque a vítima era um médico. Que seja médico, professor, advogado, comerciário, gari, catador de papel, o que for, a dignidade da vida humana é sagrada, a vida humana é sagrada e deve ser preservada a todo custo e sob toda proteção do Estado.
Violências acontecem todos os dias e nos mais diversos recantos das cidades, quer grandes, quer pequenas, mas o índice está assustador e tornando a todos reféns desse medo. Querem um exemplo: Paris assistiu há pouco uma greve de empregados da Torre Eiffel por causa dos assaltos. Uns dizem que a coisa degenerou por causa da imigração ilegal. Mas a grande questão é o que fazer com estes deserdados da sorte, os que não têm lugar no mundo capitalista, colocando-os praticamente à margem da sociedade; a realidade é que essa “marginalização” está aumentando e tomando conta assustadora e desenfreadamente das grandes cidades como o Rio de Janeiro, São Paulo, Paris etc.
Espero que tenham entendido este meu comentário, que é mais do que um comentário, é um desabafo, pois se já não fosse a situação difícil por que passa a cidade do Rio de Janeiro, bastante castigada com obras irracionais as quais ninguém tem certeza de que serão úteis à população, juntam-se, com muita frequência, outros cometimentos criminosos à vida humana. Este acontecimento que gerou o meu modesto comentário, tem como cerne, também, o abandono em que se encontra a educação, principalmente a educação pública no Brasil. Comentários posteriores, apontam que o delinquente que cometeu o insensato ataque a um cidadão que apenas praticava um lazer ao final do dia de trabalho abandonou de vez os estudos nos precoces treze anos de idade, quando não tinha mais perspectivas de continuar em sala de aula. Digam o porquê. Não restam dúvidas de que isto passa necessariamente pela falta de incentivos aos professores, aos cortes de verbas da Educação, ao desleixo com o ensino fundamental e assim por diante. Não adianta nada querer formar universitários se não formamos cidadãos que consigam minimamente se expressar em língua nacional. Para se ter um exemplo, divulgado há poucos dias pela OAB, as faculdades de Direito existentes no Brasil, somadas, ultrapassam o total de faculdades de Direito do mundo inteiro! E no ranking das universidades deixamos o 100º lugar há muito tempo!
Assim como outros tantos professores, pedagogos, filósofos, cientistas políticos, considero que se não houver uma verdadeira revisão na educação que o Brasil quer e precisa, continuaremos a ver tragédias como essas, perfeitamente anunciadas com todos os requintes de estupidez, violência e impunidade.
Na década de 1960 a Coreia e a China encontravam-se no mesmo patamar econômico do Brasil, e com vultosos investimentos em Educação mudaram o cenário e deixam qualquer um com inveja de seu desenvolvimento social e econômico.
É um alerta, inclusive, para que tais desmandos, em todos os sentidos, não cheguem à nossa cidade. É preciso que cuidemos e preservemos o que temos de bom.