Jornalistas, uni-vos. Ainda repercute o golpe aplicado pelo Supremo Tribunal Federal aos jornalistas brasileiros. Utilizando o argumento de que a obrigatoriedade do diploma é consequência de um ato governamental oriundo do regime militar, que ceifou vidas e sonhos, esquecem-se estes de que a censura tão comum naquela época é tão maléfica quanto esta decisão da suprema corte brasileira.Como consequência, Jornalistas (isto mesmo com Jota bem maiúsculo) vivem, na atualidade, um grande drama sob os efeitos do mesmo pau de arara - aquele método nefasto de tortura comumente utilizado pelos militares para reprimir àqueles que resistiram ao golpe – que, nos anos de chumbo, ceifou vidas e sonhos no país da diversidade. As torturas físicas e psicológicas aplicadas contra cidadãos no período em que vigorou a ditadura militar ecoam, agora, de forma diferenciada, sobre uma classe que tanto se dedicou à luta pela redemocratização do país e que teceu brava e gloriosa batalha pelo reconhecimento da profissão. Mesmo sob os efeitos das torturas do regime militar, a profissão de Jornalista foi reconhecida e regulamentada pelo decreto 972, de 17 de outubro de 1969 – vejam que a data nos remete ao período turvo em que viveu a nação brasileira. E agora, em plena concepção de estado democrático de direito – que contradição - a profissão foi soterrada por um gesto indigesto de um grupo de ministros descompromissados com a qualidade da informação. Neste gesto, certamente, predominaram os interesses econômicos em detrimento da cidadania. O tão almofadinha enfadonho do STF que se faz reconhecer por Gilmar Mendes (inimigo número um da qualificação e dos Jornalistas) deveria, ao invés de se preocupar em cassar diplomas, explicar os rios de dinheiro que ganha da União para promover cursos para funcionários públicos. Ora, os cidadãos brasileiros já pagam os salários que o ministro recebe e ainda destina, do seu suor, uma bagatela para manter a escola por ele comandada em Brasília – conforme matéria veiculada na semana passada por Carta Capital. Além dos salários como ministro, com esta prática Gilmar Mendes embolsa mais de meio milhão do Governo. Isto sim é que é aberração. A exigência do diploma, ao contrário, é cidadania, coerência diante de uma conceituada atividade.Somos um país livre. Esta é a lógica dos livros didáticos. Mas, Jornalistas continuam massacrados e perseguidos, agora mesmo pós-ditadura, não pelos golpes dos cassetetes, mas por um golpe tão enfadonho quanto. O Estado brasileiro precisa corrigir esta distorção. Da mesma forma que a Comissão Nacional de Anistia do Ministério da Justiça está percorrendo o país pedindo perdão às famílias daqueles que deram suas vidas na batalha pela redemocratização do Brasil, este mesmo Estado deveria utilizar, neste momento, mecanismos semelhantes para pedir perdão por iludir este exército de cidadãos que se dedicou com afinco preciosos anos de suas vidas na busca de aperfeiçoamento para abraçar tão nobre profissão e, frise-se, embalados pelo cântico da cidadania, do sonho de encontrar no Jornalismo uma digna profissão.Mas nem tudo está perdido. Uma nova batalha deve ser travada, mas a vitória depende da união de todos. E não só dos Jornalistas. A sociedade também precisa se engajar nesta luta, que não é solitária de Jornalistas. A sociedade tem direito de ter informação de qualidade, baseada em princípios éticos, que só podem ser assegurados a partir da formação profissional. Nefasta a opinião de Alexandre Garcia de que o diploma deveria ser extinto em função da péssima qualidade do ensino no país. Ora, é cortar os dedos para salvar os anéis. A sociedade brasileira precisa de educação. Que é isso Alexandre Garcia? A lógica dele e a do ministro seriam, portanto, acabar com as universidades para criar uma geração de leigos, ignorantes e reacionários, ao invés de se adotar mecanismos para proporcionar uma educação de qualidade no país. Parabéns à Fenaj, ao Sindijor e entidades que se declaram favoráveis à luta dos verdadeiros jornalistas por abrir a discussão, mas os Jornalistas militantes precisam sair um pouco das redações para dedicar parte de seu tempo a esta causa. Uni-vos, portanto. Vamos às ruas, mobilizar a sociedade, mobilizar eleitores para pressionar sua base no Congresso Nacional para abraçar a PEC do senador Valadares, que deve entrar em tramitação ainda esta semana.E, no longínquo, me vem aquela sonorização de Calcinha Preta, famosa na novela das oito da Rede Globo, que se torna, agora, a ode do diploma de Jornalista, com uma pequena diferença na letra: você não vale nada, mas eu LUTO por você.
Célia Ladeira / Jornalista/SE