Passado e presente se misturam no espetáculo “Ivon Curi – O
Ator da Canção”, que resgata a história de um dos maiores artistas do país 20
anos após a sua morte. O papel principal fica a cargo do incansável Fernando
Ceylão - em cartaz simultaneamente com outras duas montagens no Rio de Janeiro
-, que faz sua estreia em um musical. Já a direção é assinada por Lucio Mauro
Filho, que divide a função com Danilo Watanabe.
O palco de toda essa nostalgia é o Centro Cultural Correios,
que se transforma em uma casa de shows de Copacabana a partir da próxima
quinta-feira para relembrar marcos da vida pessoal e profissional do mineiro
Ivo José Curi.
– O Ivon teve uma capacidade muito grande de se reinventar.
De primeiro lugar como cantor na Radio Nacional, ele passou a estrelar
chanchadas no cinema e foi taxado como gay por seu papel em "Aviso aos
Navegantes" (1951). Foi outro momento em que ele precisou renovar seu
estilo artístico e se tornou um cantor-humorista. Sua maior virtude era
transformar os percalços em virtudes e marcas de sua carreia – explica Ceylão,
acrescentando: - Tive uma preparação intensa e pesquisei muito sobre ele. Vi e
ouvi inúmeras coisas do Ivon para adquirir alguns trejeitos, sem ficar
caricato. Sempre tive facilidade em imitar meus ídolos.
O ator entra em cena acompanhado por Leonardo Wagner, um
ator-músico que executa as músicas ao vivo em um piano e ajuda a narrar a
história. A direção musical é de Tim Rescala, que trabalhou diretamente com
Ivon no início da década de 90.
O musical promove uma reflexão sobre o tempo e não segue o
padrão das biografias tradicionais. Tampouco obedece uma cronologia linear.
Na trama, a velha casa de shows Sambão e Sinhá está em
ruínas. É ali que Ivon busca recorda de momentos marcantes de sua vida. Ao
longo dos 75 minutos de apresentação, o público conhece a infância dele no
município de Caxambu, sua relação familiar, o sonho de ser artista, a mudança
para o Rio de Janeiro e a consagração como grande artista. À medida em que o
público acompanha o esvaziamento e deterioração da cidade do Rio, o artista
segue essas mudanças e se transforma. Cidade e personagem se misturam no
texto assinado por Pedro Murad.
– A direção busca resgatar o Ivon para sua própria geração,
mas a dramaturgia apresenta esta figura para quem não o conhece. Estamos
tentando equilibrar estes dois lados para buscar novas plateias e mostrar a
importância deste homem. Sem ele, não haveria a subversão ou o gênero do
stand-up comedy – conta Lucio Mauro Filho.
Em cartaz com dois espetáculos solo no Rio, Ceylão concorda
com esta herança deixada por Ivon:
– Faz todo o sentido dizer isso, pois ele surgiu muito antes
do politicamente correto, rompendo com o convencional e falando abertamente
sobre a questão da sexualidade. Isso tudo na década de 1950, mas com muita
ironia e deboche. Isso o torna definitivamente responsável por uma das escolas
que vieram a desembocar no que hoje consideramos stand-up e na criação do humor
no palco.
Este é o primeiro espetáculo do gênero na carreira de Fernando Ceylão, que
flertou com seu lado musical no início do ano ao estrelar a comédia “Ensaio
Geral” ao lado de nomes como Marcelo Serrado e Otavio Muller.
No novo espetáculo, são executadas 20 canções – algumas na
íntegra e outras apenas trechos – em espanhol, inglês, francês e português.
Clássicos como “La Vie
en Rose” e “Xote das Meninas” fazem parte do repertório.
– Foi a parte que mais me deixou apreensivo. Nunca cantei de
maneira profissional e meu trabalho com o Tim mostrou que sempre cantei fora do
tom. Além disso, sou muito americanizado e as canções em francês foram outro
grande desafio – confidencia o ator, que procurou ajuda da diretora francesa
Jacqueline Laurence para interpretar no idioma.
Fonte: O Globo