terça-feira, 4 de agosto de 2009

COLUNA


Há pouco tempo atrás assistimos em horário nobre do noticiário da televisão um bate-boca entre Ministros de uma das mais altas Cortes de Justiça desse país. O fato não seria tão relevante, se as palavras de um deles não tivessem sido tão contundentes a respeito da integridade moral do outro. E pior, tudo foi abafado, nada mais se comentou ou sequer apareceu alguém para exigir explicações daquele Magistrado sobre o que quis dizer em “não ser um de seus capangas do Mato Grosso”.
O mesmo assistimos nesta segunda-feira 03, em noticiário nacional, só que dessa vez no Senado. Figuras públicas nacionalmente conhecidas trocaram mais do que farpas, chegando a insinuar ameaças de fazer revelações sobre a integridade moral de outros como foi o caso das palavras do Senador ex-Presidente da República Fernando Collor de Melo dirigidas ao Senador gaúcho Pedro Simon.
Não há como negar que vivemos uma crise institucional. As vísceras do poder estão expostas a público como carniça servida em um banquete de abutres. A disputa é para ver quem é a carniça, quem é o abutre.
Mas o assunto que vou destacar é o trecho do pronunciamento do Senador Collor onde ele diz que a imprensa ou parte dela está tentando derrubar o ex-Presidente José Sarney da Presidência do Senado. Isso me fez pensar na história do homem que pegou sua mulher traindo no sofá e destruiu o móvel pondo nele toda a culpa das mazelas de sua consorte.
As notícias sobre as mazelas praticadas por membros do poder não são inventadas e nem recentes. Elas estão demonstradas em fartas matérias de diversos órgãos de comunicação, respaldadas por vastas documentações, gravações e depoimentos que não deixam a qualquer cidadão comum a dúvida sobre os fatos. Muitas delas foram ou estão sendo objetos de investigações, que infelizmente na sua maioria, talvez pelo corporativismo, nada concluem, numa demonstração de que a impunidade reina por aqui.
As palavras do Senador, como a do Ministro da Corte de Justiça não foram inventadas pela imprensa. Foram reproduzidas. O que sabem eles a respeito de seus desafetos? Porquê essas questões não são investigadas já que publicamente, por intermédio de autoridades constituídas, foram levantadas suspeitas da prática de ilícitos. Quando a imprensa investiga e revela, ela é acusada de conspiração, de irresponsável e até mesmo de mentirosa. Num exercício de maniqueísmo os envolvidos tentam encobrir os fatos concretos e complexos com versões simplistas, descabidas de qualquer fundamento tentando confundir a opinião pública e levá-la a pensar que está sendo manipulada pela imprensa.
Viramos o sofá.
Todos são inocentes e a imprensa é culpada. Culpada por usar da liberdade de expressão, da credibilidade e da ética para informar ao cidadão os fatos como eles se apresentam.
Talvez por isso, a pressa em desregulamentar a profissão de jornalista. Ou melhor dizendo, “talvez por isso a pressa em se destruir o sofá”.