sexta-feira, 26 de março de 2010

A REAÇÃO DO POVO ME ASSUSTA

Durante toda esta semana, assim como boa parte dos brasileiros, acompanhei com interesse e curiosidade o julgamento do casal Nardoni, acusado de matar a menina Isabella Nardoni. Esses sentimentos são naturais, afinal, as circunstâncias da morte da menina chocaram o País, principalmente por não se ter certeza do autor (ou autores) do crime e a negativa do casal de ter cometido tamanha barbaridade.

Em pouco mais de 40 anos de vida, nunca tinha presenciado tamanha comoção por parte do povo brasileiro diante de um fato dessa natureza. Não vem ao caso a discussão sobre a autoria do crime. Mas me chama bastante a atenção a postura do público diante do caso. Como exemplo, a atitude de desprezo com que o advogado de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, Roberto Podval, vem sendo tratado pelas massas e como o promotor Francisco Cembranelli, ao contrário, está sendo alçado a “herói”.

Todos os dias, milhares de pessoas no Brasil são vítimas de crimes violentos que muitas vezes não chegam ao conhecimento da maioria. Nem mesmo são divulgados pela mídia. Na verdade, a mídia escolhe o que é do seu interessante, movida pela audiência e faturamento. Nada de errado com isso, afinal, toda empresa precisa ter lucro para sobreviver. Mas, em meio a tantos crimes, a mídia “sorteia” aqueles que, com certeza, causam mais comoção. Foi o caso do assassinato da menina Isabella Nardoni.

Chamada de o “quarto de poder” (para quem não sabe os três poderes são o executivo, o judiciário e o legislativo) a mídia é capaz de arregimentar milhões de pessoas para uma causa. Foi exatamente o que aconteceu com esse crime. A comoção e a revolta foram transformadas em espetáculo midiático, principalmente na culminância do desfecho da história, ou seja, o julgamento dos Nardoni. Mas como poderia ser diferente, se a mídia já havia feito um escarcéu? Não, não poderia ser diferente. E confesso, que mesmo eu, durante toda esta semana, acompanhei pela TV, jornal e internet os passos do julgamento, seduzida pela história. Como eu, milhares e milhares de brasileiros.

Fico me perguntando qual a causa de tanta curiosidade. Algumas explicações vêm à mente, como por exemplo, a vontade de a justiça ser aplicada com rigor ou uma catarse dos problemas cotidianos do País.

Vejam bem, não estou fazendo apologia à inocência do casal Nardoni, mas apenas fazendo um balanço sobre o julgamento e a reação do público diante do caso. Mas alguém já parou para pensar na responsabilidade dos jurados? Se o casal vier a ser absolvido, fico apreensiva com a reação do povo. Mas é preciso ter consciência de que os jurados participaram de todos os momentos da apreciação, e estão em melhores condições de condenar ou absolver. Se estiverem certos ou errados, ninguém poderá saber.

Considero, sinceramente, que falta um pouco mais de atenção aos brasileiros aos problemas que os afligem. Em momentos como esse é que noto com mais clareza a falta de informação, conhecimento e educação de qualidade no País. Precisamos um pouco mais de razão. O brasileiro é emotivo, eu sei, e dificilmente poderá ocorrer uma mudança nesse sentido. Mas me assusta o quanto as pessoas são capazes de hostilizar e julgar de maneira superficial.
Mais uma vez: não estou defendendo o casal Nardoni. Sinceramente, acho que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá são culpados. Mas o clamor por justiça não pode ser pretexto para ações desvairadas por parte da massa.

Eliana Sonja
Jornalista