terça-feira, 13 de julho de 2010

COLUNA



O bandeirante André de Leão e sua importância para o sul das Minas Gerais

No ano de 1601 o bandeirante André de Leão se internaria no sertão de Minas Gerais em busca da lendária serra de Sabarabuçu, que se acreditava à época ser rica em prata. Essa expedição seguiu o curso do rio Paraíba do Sul até a entrada da Mantiqueira, pela garganta do Embaú, e daí, conforme admitem consagrados historiadores, através de um relato da expedição, deve ter atingido as nascentes do rio São Francisco, sem, no entanto, alcançar as tão sonhadas minas de prata.
Retornou André de Leão a São Paulo em abril de 1602, e sua viagem foi relatada pelo mineralogista holandês Wilhelm Jost ten Glimmer, participante da expedição, constando tal relato da obra História Natural do Brasil, publicada em Amsterdã em 1648, por Georg Marcgraf.
Partiu a bandeira de São Paulo, atravessou o rio Tietê (que na época chamava-se Anhembi) e, com um marcha de quatro ou cinco dias a pé, através de densas matas, alcançou a atual Mogi das Cruzes, continuando por um pequeno riacho até alcançar o rio Sorobis (o atual Paraíba do Sul). Descendo também esse rio, durante quinze ou dezesseis dias, chegou a uma catarata, onde o rio, apertado entre montanhas alcantiladas, se despenca para a atual região de Cachoeira Paulista. Por isso, mudou o rumo e subiu, através de um pequeno riacho, em direção à entrada para o interior e ali divisaram a região dos pinheiros (Passa Quatro). Durante quatorze dias navegaram o rio Verde em direção ao Noroeste. Em toda a viagem descrita nada viu que denotasse cultura, não encontraram homem algum, apenas restos de aldeias, nada que servisse para alimentação, além das ervas e algumas frutas silvestres. Depois de um mês sem encontrar rio algum, chegou a uma estrada larga e a dois rios de grandeza diversa, que, correndo do Sul, entre as serras Sabaraasu, rompem para o Norte; e, segundo o relato de Glimmer seriam as fontes ou cabeceiras do rio São Francisco.
Sem dúvida, o propósito primeiro da expedição fora nulo, porém é imperioso anotar que o caminho trilhado por André de Leão seria aquele seguido, quase que 70 anos depois, por Fernão Dias Paes. De igual sorte, não podemos supor que na passagem algumas famílias não fossem ali constituídas, com a saída de um ou de outro integrante da bandeira, o que tenha proporcionado, talvez, a fixação de arremedos de povoados naquela região, até mesmo em miscigenação com os indígenas locais, muito provavelmente com os puris, considerando-se as informações constantes do mapa etnográfico traçado por Curt Nimuendaju que dão conta que, subindo a serra da Mantiqueira, pela margem esquerda do Paraíba, a partir de Guaratinguetá até a altura de Itatiaia, havia ali uma concentração daqueles indígenas, entre 1597 e 1645, os mesmos puris que seriam encontrados em 1800 quase que na nascente do rio Grande.
A bandeira de André de Leão tem uma importância significativa para a História das Minas Gerais, principalmente para o sul da região, pois a mesma, até aonde se sabe, foi a primeira a ter um relato escrito de sua trajetória.


* Historiador e Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais