Filtro solar!
Nunca deixem de usar o filtro solar
Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta:
usem o filtro solar!”
Pedro Bial fez sucesso com o poema-musical Filtro Solar. E realmente, nunca uma verdade foi tão verdadeira: usem o filtro solar! Ou senão, vocês ficarão como a jornalista que vos escreve: com os óculos marcados no rosto e o vestido marcado no corpo. Pelo sol. Ainda que brasileiríssima, esta semana fiquei como aqueles turistas americanos, que vêm ao nosso país e ao final do primeiro dia de praia já destoam de todas as outras pessoas, por causa do “leve” bronzeado. Agora, estou descascando. E as pessoas perguntam: “foi à praia?” Não, meus amigos. Fui só em Três Corações. E não segui os conselhos do Bial...
Mudando de assunto: quando saí de casa para estudar, fui morar em Belo Horizonte, com uma prima dentista, que clinicava na cidade. Apaixonada pelos anos 80, foi ela quem me ensinou a apreciar a boa música. Quer dizer, apreciar música. Porque nosso gosto musical eclético pode ser duvidoso. Naquela época, éramos apaixonadas pelo brega brasileiro. E como existe música brega em nosso país! Fizemos uma coletânea intitulada “Crássicos do Cancioneiro Brega – Vol. I e II”. Isso mesmo. Crássicos. Com “r”. Eram mais de 600 canções, recheadas de grandes nomes como Sidney Magal, Elimar Santos, Sergio Brito, Rosana...e, como não poderia deixar de ser, Odair José. Autor de pérolas como “Cadê você, que nunca mais apareceu aqui”, “No hospital, na sala de cirurgia” e “Eu vou tirar você desse lugar”, o goiano de Morrinhos é au concour quando se trata do estilo popular-romântico-brega. Nossa coletânea ficou famosa no nosso prédio e, em pouco tempo, era possível ouvir os vizinhos escutando versos de poesia ímpar, como “Quero vê-la sorrir, quero vê-la dançar, quero ver o seu corpo dançar sem parar” ou então “Libera o Tonho que eu te dou dez conto”. Juro. Acho que no fim, vale o ditado “se não pode com eles, junte-se a eles”. E assim éramos todos felizes.
O tempo passou e nunca mais tive contato com nosso CD ou seus artistas. E eis que, como um joguete do destino, outro CD caiu em minhas mãos. Um tributo. A Odair José. Mas agora, eram suas canções interpretadas por outros artistas. De peso e renome, como Pato Fu, Paulo Miklos, Mombojó e Zeca Baleiro. Às letras, foram adicionados novos arranjos musicais, cada um ao estilo de seu intérprete. Vou falar uma coisa, caro leitor, se Odair José brega já era bom, imagina Cult! Ao todo, dezoito canções foram escolhidas para fazer parte do tributo. E, para aqueles que como eu, adora uma novidade musical, o disco está recheado de bandas independentes ou desconhecidas do grande público. A partir da próxima semana, prometo posts para cada uma dessas bandas. Por ora, vamos voltar ao grande rei Odair.
Propositalmente, o CD ganhou o título de “Vou tirar você desse lugar”, nome de um dos grandes sucessos de Odair, interpretado por Paulo Miklos. Não consigo pensar em um nome mais pertinente à proposta do tributo. Tirar Odair do universo brega e elevá-lo à categoria “Cult”. O que funciona muitíssimo bem. É incrível como as letras ganham novo sentido quando acompanhadas por uma batida mais moderna, de mais pegada, mais rock’n roll. Para apreciar todo o disco, primeiro, é preciso deixar o preconceito de lado. Quando você para de pensar que está ouvindo Odair José e se entrega à mistura de ritmos e sons, um novo universo se abre à sua frente. É sério. Acredito que o maior exemplo dessa transformação seja a música “Uma vida só”, que sempre esteve na boca do povo. Não precisa correr para o Google pra tentar descobrir que música é essa. Se pelo nome, é difícil reconhecê-la, talvez pelo refrão...“Pare de tomar a pílula...pare de tomar a pílula...”Achava que era missão impossível transformar essa (que na minha opinião é a Top 10 do brega) numa música, digamos, plausível. E coube aos grandes músicos do Arthur de Faria e seu Conjunto, banda de Porto Alegre, que carrega influências das músicas brasileira, uruguaia e argentina, o desafio de tornar “Uma vida só” algo menos nonsense. E eles conseguiram.
Sei que parece loucura alguém insistir que Odair José é bom. Mas é verdade. E, se com tudo isso que escrevi, não consegui convencer vocês, caros leitores, deixo o link da minha música preferida do tributo: Eu queria ser John Lennon, interpretada pela banda carioca Columbia. Infelizmente, não é um clipe ou vídeo da banda. É só áudio. Mas já vale como bom exemplo do poder de transformação Cult de Odair.
http://www.youtube.com/watch?v=rpO4Et4fd38
Bom, por hoje, é só. Espero que tenham gostado desta sugestão. Sei que ela foge um pouco dos padrões. Mas para que servem padrões, senão para serem transgredidos? E, se atualmente, o que tem comandado o cenário musical do país são roupas coloridas e cabeças de vento, ainda fico com os tradicionais mullets. De Odair José. Que, vejam só, voltou à moda! Para todos aqueles que se perguntam o que são os cabelos dessa geração pseudo-rebelde, aí está a resposta: mullets, meus amigos. Sim, o corte clássico dos anos 70, que ganhou fama com os sertanejos da década de 80, está de volta na cabeça dos jovens de 2010. Ganhou ares modernos, é verdade. Está sob o efeito das chapinhas e dos tons e sobre-tons da geração colorida. Mas, nunca deixarão de ser...mullets! Para quem tem no discurso a vontade de ser diferente, tá faltando criatividade.
Clássico por clássico, fico com o meu preferido: “quero inventar o meu próprio pecado...quero morrer do meu próprio veneno...” Chique? Não. É Chico. Buarque.
Paola Tavares