O governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), 49, afirmou que é "muito grande" a responsabilidade de ser a vitrine do eventual projeto presidencial de seu antecessor e padrinho político, o senador eleito Aécio Neves (PSDB).
Anastasia disse em entrevista à Folha que vai trabalhar "à exaustão" para manter o governo mineiro bem avaliado. O governador disse que Aécio tem "todas as condições" de ser candidato e ser eleito presidente. Disse, porém, ser precoce definir a candidatura do PSDB já.
De olho na verba federal no Estado, Anastasia disse esperar ter uma relação "amistosa" com a presidente Dilma Rousseff, com quem afirmou ter semelhanças.
Vitrine do projeto Aécio
A responsabilidade é muito grande. O [ex-]governador Aécio terminou o mandato com aprovação olímpica. Mas estou muito sereno, muito tranquilo. Vou trabalhar à exaustão para que as coisas continuem melhorando e para que o governo continue bem avaliado.
Refundação do PSDB
Precisamos desmistificar algumas coisas. A palavra privatização é uma delas. É preciso demonstrar aos brasileiros que esse processo de parcerias com o setor privado é responsável por milhões de empregos e pelo desenvolvimento do Brasil. Ao mesmo tempo, mostrar que o nosso governo, do PSDB, baseado sempre em uma gestão eficiente, em meritocracia, na profissionalização do serviço público remete para um futuro mais promissor. Muitas vezes esse discurso não chega ao cidadão mais simples. Então precisamos modificar esse discurso, fazer uma ação mais assertiva na região Nordeste. Confesso que é um processo que não é fácil.
Rixa MG X SP
Um partido que se pretende nacional, moderno, não pode ter dono, nem A, B, C ou D. Do contrário, ele não é um partido nacional, não reflete os anseios nacionais. Se fulanizar não vai adiante.
Aécio e 2014
Ele terá um papel de grande liderança [no PSDB]. A definição de um candidato três anos antes da eleição é um tanto precoce. Tem que ver o que vai acontecer. As circunstâncias mudam com rapidez. O partido tem que fazer o projeto nacional para a eleição de presidente. Eu defendo Aécio como eleitor mineiro. Ele tem todas as condições de ser candidato, de ser eleito e de ser um grande presidente. Mas não decido isso.
Relação com Dilma
Pretendo ter uma relação muito amistosa, uma relação federativa, republicana. Será um tratamento de respeito, até porque ela é nascida em Minas Gerais e naturalmente esperamos que ela vai ter por seu Estado sempre uma consideração especial.
Semelhança com Dilma
É uma questão matemática, objetiva. Existem trajetórias que são parecidas. É claro que o tipo de conhecimento, de experiência na administração pública, eu acho que é muito semelhante. E essa identidade não nos denigre, ao contrário, ela até nos enobrece. Agora é claro que nós temos, talvez por formação, pelo tipo de vida que tivemos, alguns princípios e valores que não são os mesmos.
Reivindicações
Serão singelas, porque é o cumprimento daquilo que foi apresentado aqui em Minas durante a campanha. Temos algo emblemático, que é a prioridade absoluta, zero, do governo federal para com Minas: a duplicação da BR-381, entre BH e Governadores Valadares. Essa obra deixou de ser uma obra física, econômica para ser uma questão humanitária tendo em vista os acidentes. Temos também o metrô de Belo Horizonte, a proteção do patrimônio histórico, a política nacional do café, a compensação pela exploração mineral.
Ajuste de gastos no governo federal
O governo federal tem uma diferença brutal dos Estados. Ele tem uma folga tão grande em razão da concentração exorbitante de recursos na esfera federal, que a questão de uma gestão mais eficiente nunca foi uma preocupação central. Sempre houve recursos suficientes para fazer tudo e mais um pouco. Os Estados, não. Temos que ser mais criativos, mais empreendedores.
Volta da CPMF
Aquele momento [quando, em dezembro, defendeu a volta da CPMF e voltou atrás no dia seguinte] foi um relato histórico. Eu, como gosto de história, acabo muitas vezes pagando por isso. Quando a CPMF foi criada, ela teve o apoio generalizado dos governadores. Agora, o que nós defendemos é a reforma tributária. Eu acho que deve haver um financiamento específico para alguns segmentos. A saúde é um deles, porque ela tem demanda infinita. Agora, se isso virá sob a cobertura de um tributo específico ou dentro de um tributo geral, isso vai depender da reforma. Nós já temos uma carga tributária muito alta no Brasil. Mas não significa que nós não podemos reformá-la, balanceando-a melhor. Não vou dizer que vai criar um tributo para a saúde, mas fazer uma recomposição necessária para que, sem que haja aumento de carga, nós tenhamos os diversos segmentos bem atendidos. O que eu acredito, todavia, é que a área de saúde necessita de uma atenção especial. Nós temos carências tão grandes no Brasil que esse financiamento é necessário.
Privatização de Confins
Advogo a tese, que eu vejo o governo federal agora defendendo, que nós já caminhamos para a necessidade de fazer parcerias e concessões nos aeroportos. Então no momento agora que o governo federal acena com essa possibilidade, eu acho que nosso aeroporto internacional tem todas as condições. Advogo que também Confins participe desse mesmo processo [de concessão de novos terminais à iniciativa privada, que Dilma pretende aplicar em Guarulhos e Viracopos].
'Pecha privatista' dos tucanos
O governo federal, desde os tempos de Collor, depois passando pelo Itamar, Fernando Henrique e o próprio Lula, todos fizeram parcerias. Nós sabemos que, no mundo moderno, os tesouros dos Estados não têm condições de sozinhos fazer os investimentos. Aqui em Minas fizemos muitas, pretendemos fazer mais. Mas sem nenhuma pecha de que é privatização. Acho que na hora da campanha tudo naturalmente sempre acirra um pouco os ânimos. Sob o ponto de vista político, essas críticas vão surgindo. Mas eu acho que no Brasil se criou uma pecha equivocada. O que foi feito no governo Fernando Henrique foi correto a seu tempo. É imprescindível que nós tenhamos confiança no setor privado.
Perfil técnico
Eu acredito que é muito artificial essa distinção entre técnico e político. Vivi a vida inteira enfronhado nos cargos da administração pública. Então me considero, num conceito aristotélico, plenamente um animal político. Acredito que, dentro das limitações humanas, tenho as condições necessárias para conciliar aquilo que é a emoção política daquilo que é a razão do conhecimento para, na soma dos dois, fazer um bom governo.
Marca no governo
Nossa obsessão maior é a questão da geração de empregos. Agora, é claro que não é o poder público que gera o emprego ele próprio. Ele tem de criar as condições para que os empregos surjam. Então a responsabilidade maior do governante é oferecer uma infraestrutura plena, não só a física, mas a social. Ao lado disso, condições de atrair empresas novas e expandir as atuais.
Problemas de Minas
Acredito que Minas tem dois grandes problemas: primeiro, nós temos de fato uma grande desigualdade ainda dentro do Estado. Os indicadores em geral do sul, da Zona da Mata, da região metropolitana de BH são uns, e [os indicadores] do Rio Doce, do Vale do Jequitinhonha, do norte, são outros. Nós conseguimos diminuí-la, mas ela ainda precisa de muito esforço. Há uma segunda dificuldade, que é uma luta para agregar valor aos nossos produtos. Somos um Estado de exportação de commodities.
Relação de secretariado mais político com projeto Aécio
Foi feita uma composição ampla exatamente com o objetivo de demonstrar que nós temos um apoiamento político que reflete as eleições. O objetivo fundamental de um governo, de qualquer governo é ter uma administração eficiente. E para ter uma administração eficiente, pra termos governabilidade, nós temos de ter apoio político, no sentido estrito da palavra. Eu acho que se essa candidatura [presidencial] se consolidar no futuro, o que não é um desejo só meu, como cidadão, mas dos mineiros como um todo, eu acho que Aécio terá, independente da composição do governo estadual, um apoio maciço de Minas Gerais.
Incômodo com alcunha de 'pupilo' de Aécio
Nem um pouco. Ninguém faz política isolado, sozinho. As pessoas que fazem atividades político-partidárias estão todas inseridas em um grupo. E nosso grupo, que é majoritário em Minas Gerais, tem a liderança nacional de Aécio Neves.
Caso do cunhado de Alckmin
Pelo que conheço do governador, ele é um dos políticos mais corretos e mais austeros que o Brasil já produziu. Então acho que isso tudo será esclarecido a tempo e hora. Eu inclusive vou visitá-lo depois de amanhã [sexta-feira]. E vou convidá-lo para vir logo a Minas, onde ele tem as suas raízes.
Fonte: Folha On Line