segunda-feira, 24 de outubro de 2011

COMEÇA HOJE ENCONTRO DA ANPOCS EM CAXAMBU

Primavera árabe, tráfico de pessoas, análise de conjuntura, desafios no combate à miséria extrema, BRICs e novos alinhamentos globais, Haiti, Mercosul e direitos LGTB  



Outros destaques são conceito moderno de progresso, novas moralidades, desregulação ambiental, divisão global centro-periferia, desafios estratégicos no início do século XXI, memórias marranes, candomblé.

 O 35º Encontro Anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), que acontece de 24 a 28 de outubro em Caxambu (MG), realiza debates que abrangem as múltiplas áreas de estudos de antropologia, sociologia, ciência política e relações internacionais. “Como um espaço de reflexão permanente das atividades e ideias dos cientistas sociais, a Anpocs busca ser um canal de articulação na formulação de políticas científicas no país e fomentar a comunicação com a sociedade, a partir de temas e questões que afetam o cotidiano dos brasileiros”, afirmam Marcos Costa Lima, Maria Filomena Gregori e Julio Simões, da diretoria da Anpocs.

Na programação, seis conferências de convidados estrangeiros, 22 mesas-redondas, 38 grupos temáticos com apresentação de 646 trabalhos, quatro cursos, e cinco fóruns, simpósios e sessões especiais. Também haverá três conversas com o autor, exposições de sete ensaios fotográficos, seis sessões de vídeo, além de reuniões dos dirigentes da Associação Brasileira de Antropologia, Associação Brasileira de Ciência Política, Associação Brasileira de Relações Internacionais e Sociedade Brasileira de Sociologia. As entidades divulgam carta enviada ao presidente do CNPq sobre a ausência das Ciências Sociais no projeto “Ciências sem Fronteira”. 

A estimativa é de 1.800 participantes no encontro anual.  Pela primeira vez, a Anpocs amplia sua base de interlocução com o Brasil ao convidar representantes dos movimentos de trabalhadoras sexuais, lideranças indígenas, quilombolas e transexuais, para debates normalmente filtrados pelos estudiosos. Um exemplo é o fórum Tráfico de pessoas, novas flexões no debate que tem, na abertura, a presença da ministra Maria do Rosário Nunes (Secretaria de Direitos Humanos - SDH), Ramaís de Castro Silveira (secretário-executivo SDH), José Gregori (DH prefeitura São Paulo), Adriana Piscitelli (Unicamp, ABA), Marcia Anita Sprandel (Senado Federal, ABA) e José Miguel Nieto Olivar (Unicamp).

Entre os expositores Gabriela Leite (Davida), Pamela Rodrigues Cardoso (Associação Triângulo Trans de Uberlândia), Flavia Teixeira (UFU) e Paulo Illes, do Centro de Apoio ao Migrante (CAMI/SPM). Outro exemplo é a participação de Sheila Juruna (Movimento Xingu Vivo) e Antonia Melo (Movimento Xingu Vivo) no simpósio Desenvolvimento, reconhecimento de direitos e conflitos territoriais, que aborda as questões quilombolas, indígenas e Belo Monte.  No Encontro, a Anpocs anuncia um concurso e uma premiação apoiados pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB), ambos com o objetivo de estimular os cientistas sociais a refletirem sobre a questão regional e os padrões de desenvolvimento, bem como a sua espacialização no Brasil.

O Concurso BNB/Anpocs Cleantho de Paiva Leite de bolsas de estudo para doutorado e mestrado pretende trazer de volta à academia a discussão, reflexão e proposição de temas sobre os problemas da região Nordeste. O 1º Prêmio BNB/Anpocs de Ciências Sociais Rômulo de Almeida visa incentivar a discussão acerca do desenvolvimento da região Nordeste e contribuir para o fortalecimento da pós-graduação no Brasil, premiando teses de doutorado e dissertações de mestrado.  Conferências - O professor da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, Gilbert Achcar, fala sobre as raízes e dinâmicas das revoltas de 2011 no Norte da África e Oriente Médio, a primavera árabe. Conhecida por ter criado os estudos sobre masculinidade, Raewyn Connel, professora da Universidade de Sydney, foi consultora da Unesco e da ONU para ações relativas a homens, e aborda a necessidade de construção de uma ciência social global adequada. Nathan Wachtel fala de sua obra “Mémoires marranes”, que parte de uma busca por traços judaístas pelas terras áridas do nordeste brasileiro. Christina Toren, da Universidade St Andrews (Reino Unido), discute como se deve conceber os seres humanos em sua extraordinária variedade e complexidade. A conferência do sociólogo marxista Michael Burawoy, presidente da Associação Internacional de Sociologia (ISA), intitulada “O futuro das Ciências Sociais”, discute relatório da Unesco sobre o tema. Ele aponta a decalagem entre a organização das ciências sociais e suas tarefas. Patrick Trabal, da Universidade Paris Ouest Nanterre, faz a conferência intitulada “Por uma sociologia da modalização do tempo”.  

Em exposições, ensaios fotográficos, vídeos e registros sonoros está prevista a presença de Gary Kildea, cineasta e antropólogo da Ethnographic Film Unit, Anthropology Department, Australian National University (Camberra), diretor do filme “Trobriand Cricket”. Ele participa da mesa-redonda Imagem e memória: experiências de realização de filmes etnográficos, coordenada por Ana Lúcia Marques Camargo Ferraz (UFF) e também com Ana Luiza Carvalho da Rocha (UFRGS), Clarice Ehlers Peixoto (UERJ) e José Sergio Leite Lopes (MN/UFRJ). Ainda serão exibidos os vídeos Alfaiates de Marília, de Giovanni Alves e Rodrigo Gobbi (UNESP); Formas do afeto sobre Mario Pedrosa, de Nina Galanternick (UFRJ); Gisele Omindarewa, de Clarice E. Peixoto (UERJ).  A exposição Candomblé, parceria com o Instituto Moreira Sales, conta com 20 fotografias no tamanho 60 x 70 cm de José Medeiros (1921-1990) e curadoria de Sergio Burgi. Coordenada por Bibia Gregori e Lilia Schwarcz, a sessão especial J. Medeiros e o Candomblé com Yvonne Maggie e Reginaldo Prandi debate a contribuição do trabalho deste fotógrafo da revista O Cruzeiro que, em 1951, estampou seu ensaio com 38 fotos sobre os ritos de iniciação das filhas-de-santo num terreiro de candomblé, com texto de Arlindo Silva. O ensaio era a resposta à reportagem de Henri-Georges Clouzot sobre “Les Possédées de Bahia” [As possuídas da Bahia], publicada meses antes pela revista Paris Match. O etnólogo francês Pierre Verger, já radicado no Brasil e autor de extensa documentação fotográfica sobre o universo do candomblé, ficou revoltado com o tom sensacionalista da revista francesa, assim como seu colega e compatriota Roger Bastide. Verger e Bastide também não gostaram da publicação de O Cruzeiro. Seis anos depois, em 1957, L. Medeiros publicou pela editora da revista o livro Candomblé, desta vez com 65 fotografias. No novo formato, as imagens ganharam preeminência sobre o texto, reduzido a legendas explicativas. O material fotográfico ganhou, assim, o duplo status que tem até hoje, como fonte etnográfica preciosa para a compreensão do candomblé e como momento alto da fotografia brasileira do século XX.

A sessão especial Análise de conjuntura é coordenadora por Flavia Biroli (UnB) e tem como expositores Lena Lavinas (UFRJ), Lourdes Sola (USP), Luis Felipe Miguel (UnB) e Renato Lessa (UFF). O fórum Desafios no combate à pobreza extrema – discutindo os eixos centrais do Plano Brasil Sem Miséria tem coordenação geral de Júnia Quiroga e Renata Bichir, ambas do Ministério de Desenvolvimento Social. Entre os expositores, Nadya Guimarães (USP), Otávio Balsadi (Embrapa) e Tania C. de Araújo-Jorge (Fiocruz). Mesa-redonda coordenada por Flávia Pires (UFPB) discute o Programa Bolsa Família em debate: análises, resultados e desafios, com exposição de Mireya Suárez (UnB), Otavio Dulci (PUC-Minas) e Walquiria Leão Rego (Unicamp). No Encontro, também acontece o Dialógo das Ciências Sociais com as demais ciências.  Carlos Lessa (UFRJ) aborda As relações entre a Economia e as Ciências Sociais. 

As questões internacionais estão presentes em várias atividades. Um dos destaques é a mesa-redonda Crônica de um fracasso anunciado: a cooperação internacional no Haiti pós-terremoto, coordenada por Omar Ribeiro Thomaz (UNICAMP), que terá a participação de uma das figuras políticas mais importantes entre as forças democráticas pós-terremoto, Michèle Oriol, doutora em Sociologia com extensa obra publicada, atualmente consultora do presidente do Haiti, Michel Martelly. Também participam Jean-Phillipe Belleau (UMB) e Sebastião Nascimento (Uni-Flens). Ingrid Sarti (UFRJ) coordena o simpósio 20 anos do Mercosul com exposição de Aldo Ferrer (embaixador argentino) e Samuel Pinheiro Guimarães (IRBr/MRE). A mesa-redonda Unipolaridade, BRICs e novos alinhamentos globais é coordenada por Sedi Hirano (USP) com exposições de José Eduardo Cassiolato (UFRJ), Luís Manuel Fernandes (PUC-Rio, ex-presidente da FINEP) e Theotonio dos Santos (UFRJ).  Na mesa-redonda Direitos Humanos, sujeitos e reconhecimento: novas moralidades em debate, coordenada por Laura Moutinho (USP), estão entre os expositores Guilherme Silva de Almeida (UERJ) e Guita Grin Debert (Unicamp). Coordenado por Sérgio Carrara (UERJ, ABA) e Camilo Albuquerque de Braz (UFG, ABA), o fórum Do estigma à cidadania: o processo de reconhecimento dos direitos LGBT no Brasil tem como mediador Camilo Albuquerque de Braz (UFG, ABA) e expositores Sérgio Carrara (UERJ), Regina Facchini (UNICAMP), Luiz Mello (UFG), Roger Raupp Rios (UFRGS), Rosa Oliveira (UFSC). Coordenada por Marcelo Gantus Jasmin (IESP/UERJ), a mesa-redonda História, política e o conceito moderno de progresso conta com os expositores Bernardo Ferreira da Silva (UERJ), Pedro Hermílio Villas-Boas C. Branco (Unirio) e Ricardo Virgilino da Silva (UFSC). A mesa-redonda Desafios estratégicos brasileiros no quartel inicial do Século XXI. O potencial econômico do Brasil e o seu perfil político-estratégico é coordenada por Eurico de Lima Figueiredo (UFF), com exposição de João Roberto Martins Filho (UFSCar), Manuel Domingos Neto (UFF) e Samuel Alves Soares (Unesp). Na mesa-redonda O espaço como objeto de conhecimento das ciências sociais, coordenada por Fraya Frehse (USP), são expositores Eduardo Cesar Leão Marques (USP), João Marcelo Ehlert Maia (FGV-RJ) e Roberto Augusto DaMatta (PUC-Rio). A mesa-redonda O trabalho no século XXI – flexibilidades, mobilidades e precariedades é coordenada por Marcia de Paula Leite (Unicamp) com exposição de Cinara Lerrer Rosenfield (UFRGS), Iram Jácome Rodrigues (USP) e José Ricardo Ramalho (UFRJ).  Destaque, ainda, para os simpósios A construção da ordem: conflito, participação e segurança pública no Brasil” com coordenação geral de Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Simpósio Celso Furtado coordenado por Marcos Costa Lima (UFPE, Anpocs) e Rosa d’Aguiar Furtado (Centro Celso Furtado).   A sessão especial Do código florestal à desregulação ambiental é coordenada por Andrea Zhouri (UFMG) com exposições de Marcio Santilli (Instituto Socioambiental), Ariovaldo Umbelino de Oliveira (Laboratório de Geografia Agrária – USP) e Jean Pierre Leroy (Fase). Com coordenação geral de Bela Feldman-Bianco (ABA), a sessão especial As Ciências Sociais frente a políticas de ciência, tecnologia e inovação conta com exposição de Celi Scalion (SBS), Paula Montero (USP, Fapesp), Fabiano Santos (ABCP), Glauco Arbix (Finep), Helena Nader (SBPC), Ildeu de Castro Moreira (MCT), Jorge Guimarães (Capes), Marcos Costa Lima (UFPE, Anpocs), Otávio Velho (MN/UFRJ), Sergio Adorno (USP). Com organização geral de Bela Feldman-Bianco (ABA) e Maria Filomena Gregori (Anpocs), a sessão especial Internacionalização das Ciências Sociais tem coordenação de Marcos Costa Lima (Anpocs) com exposições de Paula Montero (USP, Fapesp), Glaucius Oliva (CNPq), Gustavo Lins Ribeiro (UnB), Jorge Guimarães (Capes), Leonardo Avritzer (UFMG), Marcelo Medeiros (UFPE), Tom Dwyer (Unicamp), Peter Fry (UFRJ). 

Coordenado por Maria Filomena Gregori (Anpocs) será realizada uma sessão especial em homenagem a Juarez Brandão Lopes, falecido em 9 de junho deste ano. Após pós-graduação em sociologia na Universidade de Chicago, Juarez Brandão, obteve o doutoramento, livre-docência e o título de professor titular na USP, onde se aposentou na década de 1980. Foi um dos fundadores do Cebrap, do qual foi diretor e presidente, e era membro da Academia Brasileira de Ciências. São expositores Marcia Leite (Unicamp), Nadya Araujo Guimarães (USP) e Paula Montero (USP, Fapesp). A Conversa com o Autor, que coloca em contato colegas experientes  com jovens pesquisadores, tem três grandes nomes das Ciências Sociais: Alba Zaluar (UERJ), Sônia de Camargo (PUC-Rio); Silke Weber (UFPE).  Serão cinco cursos: Reinventando os clássicos com Yvonne Maggie (UFRJ), Marcelo Ridenti (Unicamp) e Eurico de Lima Figueiredo (UFF); Reinventando os clássicos brasileiros com Lilia Schwarcz (USP), Elide Rugai Bastos (Unicamp), Carlos Eduardo Martins (UFRJ); O censo demográfico e as Ciências Sociais: aspectos metodológicos, acessibilidade e perspectivas de análises temáticas com Suzana Cavenaghi e José Eustáquio Diniz Alves, ambos do ENCE/IBGE; O consórcio de informações sociais (CIS) e o uso de bancos de dados nas Ciências Sociais.

Mais informações no site: http://www.anpocs.org.br/

Informações para a imprensa: Letânia Menezes Tel. (11) 3815-1243