domingo, 18 de dezembro de 2011

MUITA ESTRADA E POUCOS POLICIAIS

A maioria das pessoas que passa pelas principais rodovias federais mineiras fazem a pergunta: por que agentes e viaturas da Polícia Rodoviária Federal (PRF) não são vistos ao longo das estradas, nem em pontos com alto índice de acidentes? Questionamento considerado pertinente pelo engenheiro civil Márcio Aguiar, mestre em transportes e professor da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade Fumec. “A presença de policiais e viaturas com equipamentos luminosos ligados, parados ou se deslocando pelas rodovias, coíbe os excessos e faz com que motoristas se sintam mais seguros. A fiscalização ostensiva também agiliza o socorro aos acidentados”, avalia o especialista.



Mas a realidade da malha rodoviária mineira, a maior do país, é bem diferente. O reforço na fiscalização é anunciado apenas às vésperas de feriados prolongados e festas de fim de ano. A operação iniciada pela PRF na última sexta-feira, por exemplo, contará com 800 policiais. O número corresponde a todo o efetivo da corporação no Estado, que é responsável por quase 6 mil quilômetros de rodovias. A média de 0,14 policial por quilômetro é menor do que a do Rio de Janeiro (0,49) e a de São Paulo (0,54), segundo o Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais no Estado de Minas Gerais (SindPRF-MG).

Na semana passada, o jornal Hoje em Dia constatou a precariedade da fiscalização em Minas ao percorrer 1.600 quilômetros das BRs 381, 040, 251, 491 e 459. Além do aumento do fluxo de veículos nesta época do ano, a chuva agrava o risco de acidentes. “O movimento está maior, principalmente devido aos veículos que saem de São Paulo com destino ao Nordeste do país. São esses os que mais se envolvem em acidentes, geralmente provocados pela chuva”, afirma o inspetor da PRF Edmilson Campolina. Segundo ele, as equipes que trabalham no posto policial do km 537 da BR-381 (Fernão Dias), em Itatiaiuçu, na Região Central do Estado, são formadas por apenas três policiais rodoviários.

Nos 200 quilômetros percorridos nos dois sentidos da Fernão Dias, entre BH e Itaguara, nenhuma viatura da PRF foi vista parada ou trafegando, apesar da chuva que deixava o asfalto escorregadio. A rodovia é privatizada e se encontra em bom estado de conservação, com pistas duplicadas e divisória central. Mas, sem a fiscalização adequada, irregularidades são flagradas com frequência: motocicletas trafegando entre os veículos, pessoas transportadas na carroceria de caminhonetes, caminhões na faixa da esquerda, ultrapassagens pelo acostamento e ciclistas “pegando carona” na traseira de caminhões.

No outro posto da PRF na Fernão Dias, em Betim, na Região Metropolitana, havia apenas um policial.

Mortes demais, policiais de menos

Os altos índices de acidentes e mortes registrados nos cem quilômetros de pista simples e mais de 200 curvas da BR-381 entre Belo Horizonte e João Monlevade, na Região Central de Minas, não são suficientes para que a rodovia receba atenção especial da fiscalização. Na manhã da quarta-feira passada, nenhuma viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi vista nos dois sentidos da “Rodovia da Morte”. No posto policial de Sabará, na Região Metropolitana, havia apenas dois agentes.

Enquanto isso, carros de passeio e caminhões faziam ultrapassagens em locais proibidos e retroescavadeiras – máquinas que não têm autorização para trafegar em rodovias – circulavam livremente pelo acostamento, transportando até caronas. Para coibir os excessos de velocidade, foram instalados 18 radares no trecho.

Para o engenheiro civil Márcio Aguiar, mestre em transportes e professor da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade Fumec, a PRF deveria se posicionar próximo aos radares. “A fiscalização não pode ser estática e limitada apenas aos postos policiais. A sinalização indicando a existência dos equipamentos eletrônicos é deficiente na rodovia e o risco de choques traseiros em veículos que reduzem a velocidade é alto”.

A chefe da Comunicação da PRF em Minas, inspetora Fabrizia Nicolai, reconhece o déficit de policiais rodoviários no Estado. “Sabemos que o efetivo não é o ideal. Fazemos estudos para otimizar o trabalho, com reforço em pontos mais críticos das rodovias e planejamento de blitze para aumentar a sensação de segurança”, afirma. Por questões estratégicas, ela prefere não apontar qual seria o número ideal de policiais para fiscalizar os 6 mil quilômetros de estradas em Minas.

Fonte: Jornal Hoje em Dia