terça-feira, 10 de janeiro de 2012

SAIU NO JORNAL HOJE EM DIA: Filho de auditor do TCE luta pela fortuna do pai

Laudo conclusivo de exame de DNA confirma que Rubens Nogueira é herdeiro de Edson Antônio Arger


Ezequiel Fagundes - Do Hoje em Dia - 9/01/2012 - 08:07


Nos tempos dos coronéis, era comum casos de relação sexual entre patrões e empregados. Em 1961, em Caxambu, no Sul de Minas, uma das regiões mais prósperas do país, uma parteira ajudou a jovem Maria Nogueira de Souza a dar à luz a uma criança do sexo masculino em uma roça perto de Baependi. Lá, mãe e filho ficaram escondidos por quatro anos. O bebê, batizado inicialmente só de Rubens Nogueira, não poderia aparecer aos olhos da cidade.


Mas 49 anos depois, em 2000, descobriu-se, graças à uma investigação de paternidade, que a criança pobre nasceu, na verdade, em berço de ouro. Segundo laudo conclusivo de exame de DNA, feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rubens é o herdeiro primogênito do auditor do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Minas, Edson Antônio Arger, preso em 2008 pela Polícia Federal (PF), durante a operação ‘Pasárgada’, que desmantelou uma organização criminosa responsável pelo desvio de mais de R$ 200 milhões do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). “Quero tudo que tenho direito”, declarou Rubens Arger, em entrevista ao Hoje em Dia.

Idealizado e montado pelo lobista Paulo Sobrinho de Sá Cruz, o Paulinho da Status, o esquema de corrupção operou em Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro, com tentáculos na Justiça Federal mineira e nos tribunais de contas mineiro e carioca.

Há dois meses, Arger foi denunciado pelo crime de formação de quadrilha pelo Ministério Público Federal (MPF), em Brasília, por participação em um esquema de fraudes na cidade de Carapebus, no Rio de Janeiro, junto com quatro dirigentes do Grupo SIM, Instituto de Gestão Fiscal: o tributarista Marcelo Abdalla e três conselheiros do TCE do Rio, Jonas Lopes de Carvalho Júnior, José Gomes Graciosa e José Leite Nader, já aposentado.

Briga por moradia revela herança milionária

Com a revelação do exame de DNA, pai e filho entraram, de vez, em rota de colisão. Tanto que o auditor do TCE processa o consanguíneo por ter invadido uma de suas fazendas, em Caxambu. Rubens, por sua vez, alega que obteve uma autorização verbal da atual mulher do pai, Regina do Carmo Bezerra Leite Arger, para morar no imóvel.

Desde 2003, o imbróglio está nas mãos da Justiça com previsão de desfecho no primeiro semestre deste ano, de acordo com o atual advogado de Rubens, César Luiz de Paulo. Na ação de posse da fazenda, ele sustenta que seu pai, um funcionário público de carreira, possui uma verdadeira fortuna, que seria, em boa parte, fruto de herança.

Rubens calcula que o auditor tem R$ 50 milhões, no entanto, apresentou ‘só’ 29 registros de bens, incluindo carros e imóveis nas cidades de Belo Horizonte, Caxambu, Ibertioga, Madre de Deus de Minas, São Thomé das Letras, Soledade de Minas. “Ele tem muito mais que isso, mas por falta de dinheiro não tenho condições de pesquisar nos cartórios de registros de imóveis do Estado”, afirma Rubens, que tem renda mensal de R$ 800 como artesão. “A vida sempre foi muito dura para mim e para minha mãe. Para se ter uma noção, só calcei sapatos aos 13 anos de idade. Se não fosse a ajuda dos amigos, nem sei o que seria”, conta Rubens.

Segundo Rubens, seu pai teria seduzido sua mãe no casarão que a família Arger mantém até hoje em Caxambu. No local, teriam mantido relações sexuais durante um ano, de 1959 a 1960. Filho único, Edson Arger já havia se mudado para a capital e iniciado o curso de Direito pela UFMG. Ela tinha 19 e ele 20 anos.

Com o diploma debaixo do braço, Arger nunca mais abandonou a carreira de servidor público, até ser aposentado pelo TCE, depois de ser denunciado pelo MPF por envolvimento com a máfia do FPM.

Entre 1962 a 1965, prestou serviços à Caixa Econômica Federal. Depois, virou oficial de gabinete do governador Israel Pinheiro, de quem também foi assistente executivo. Em 1969, assumiu o cargo de advogado da Fundação João Pinheiro. Já em 1984, foi nomeado auditor do TCE, função que exerceu até se aposentar.

A ex-doméstica Maria Nogueira de Souza morreu há três anos. Edson Arger foi procurado no TCE, em casa e por colegas próximos da Corte de Contas, mas não foi localizado e nem se prontificou a responder ao pedido de entrevista.

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